Quem eu sou

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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Surpresas de fim de ano


Sempre tive a ilusória convicção de que quase nada deve ser começado pelo fim. Frase maluca, não? O que eu quero dizer é que nunca fiz coisas como começar a assistir a um filme já iniciado e muito menos no final; iniciar a leitura de um livro que não fosse pela primeira página; iniciar trabalhos no final do dia (só os emergenciais) e, seguindo a mesma linha, nunca imaginei que no final do ano algo que me surpreendesse pudesse começar a acontecer.
Cometi dois grandes erros. O primeiro foi crer no “nunca”. Palavra forte e que geralmente nos tira a credibilidade porque é difícil de cumprir, afinal tudo “sempre” muda... E o segundo, foi desacreditar no poder da vida de nos surpreender a qualquer momento. Ela (a vida) vem e te apresenta um fato novo quando geralmente você já tinha dado por encerrada a questão.
Este fim de ano chegou cheio de surpresas para mim. Quando eu já havia me acomodado na certeza de que a vida tinha me reservado o “mais ou menos”, ela me apresentou “o melhor”. E vou terminar 2011 já provando do melhor reservado para os meses e anos que virão...
A vida é mesmo uma sequência de surpresas... Boas, ruins, “mais ou menos”... E que vêm no tempo certo, ainda que a gente insista para que seja no nosso momento. Ter paciência e cumprir a nossa parte é realmente tudo que nos cabe comandar, pois o restante é com ele (Deus) por meio da vida.
Assim, quebrando todos os meus paradigmas, o melhor de 2012 e dos anos que virão (se Deus quiser!) já começou para mim... Quem sabe é só uma questão de percepção. Perceba o que de mais bonito já está na sua vida: filhos, família, amigos, amor, projetos e ofereça também o seu melhor! Quem sabe grande parte dos itens da sua lista de projetos a iniciar já podem ser começados agora... Quem sabe até já estejam aí e você nem tenha percebido. Elimine o “nunca” e creia sempre nas surpresas da vida! Feliz 2012!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Saudade não é tão ruim...


Difícil explicar sentimentos... Ainda mais quando se trata da saudade, uma sensação atribuída a tantas situações completamente distintas e muitas vezes antagônicas. Você pode estar feliz e dar o nome de saudade e essa mesma saudade pode te levar ao fundo do poço, tamanha a tristeza. Um amor correspondido, porém ausente, gera saudades, um sentimento gostoso... Já o amor não correspondido traz uma saudade sofrida, que dói... No primeiro caso pode-se preencher o vazio da saudade com a lembrança, com a expectativa do encontro, com a construção de um porvir. No segundo caso, no entanto, a saudade é um vazio que não se preenche, nem mesmo com a lembrança...
O mesmo acontece quando sentimos saudades de pessoas que amamos e se vão para sempre... O tempo ameniza, mas nada preenche totalmente o vazio. Reorganizamos nossa escala de prioridades e a saudade vai perdendo lugar, vai diminuindo o seu grau de importância, mas o vazio continua lá. Vai doendo cada dia menos até que um dia nem dói mais, mas a saudade continua lá...
Além da saudade das pessoas, tem a saudade das sensações, de lugares, de épocas passadas... Você sente aquele cheiro familiar que te remete à infância, come um bolo igualzinho ao que sua avó fazia lá em Minas Gerais e sente vontade de estar lá, assiste a uma cena de um filme e o abraço dado pelos personagens te lembra aquele amigo que você não vê há anos e que abraçava daquele jeito...
E quando você sente saudades do que não viveu? É outro tipo de saudade, até um pouco maluca, totalmente nostálgica, mas que existe... Saudade de ter vivido nos anos dourados, ido a bailes e vivenciado amores inocentes... Saudades de ter vivido nos tempos da "garota carioca", num Rio de Janeiro sem tantos assaltos, tiros perdidos e violência... Saudades de ter ido ao cinema quando ainda era um grande acontecimento social e quem sabe até ter rido e se emocionado com um filme mudo de Chaplin.
Na verdade, sentimos saudades de quem fomos, de toda alegria que sentimos com aquela pessoa ou naquele momento ou naquele lugar. Sentimos saudades do que aquelas sensações apreendidas e aprendidas nos engrandeceram, nos deram prazer... Sentimos saudades até do que consideramos que poderia ter sido bom e nos tornado felizes, embora não tenha sido realizado. Acho que por isso não temos saudades alguma do que foi ruim, a mente e o coração rapidamente se encarregam de apagar de nossa vida, de nossa memória.
Saudade não é tão ruim assim... Hoje sinto saudades das conversas que tinha com a minha amiga de sorriso gigante, do quanto me faziam bem, e de tomar caipirinha em xícaras, no Natal, para minha avó não perceber que minha tia e eu estávamos bebendo... E entre mil coisas que poderia citar, do colo das duas... Muita saudade! Sou melhor porque tive o prazer de desfrutar da companhia delas... É, saudade não é tão ruim assim...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Para os que vem de fora da cidade e ainda não aprenderam a amá-la. Uma singela dica!
beijo a todos



Porque amo Brasília


Quem não gosta de Brasília
ainda não viu
as rajadas do pôr-do-sol
num horizonte anil


Quem não gosta de Brasília
ainda não viu
o noturno da cidade refletido
num Paranoá febril

Quem não gosta de Brasília
ainda não sentiu
o milagre da chuva
que o cinza coloriu


Quem não gosta de Brasília
ainda não ouviu
a virtuose do clube do choro
em pleno Planalto vil

Quem não gosta de Brasília
ainda não ouviu
a batida do surdo
num improviso pueril

Quem não gosta de Brasília
ainda não viu
a beleza do ipê
durante a seca hostil

Quem não gosta de Brasília
nunca sentiu
a mistura da cultura
de todos os cantos do Brasil.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Descobertas de um palhaço

Esta semana, uma amiga chegou radiante onde trabalhamos, contando que assistiu a um filme lindo e que a emocionou. Recomendou que eu o assistisse porque, segundo ela, com certeza eu iria amar. Acertou em cheio: amei! O filme é O Palhaço, de Selton Mello e, assim como essa querida amiga, saí do cinema cheia de reflexões.
A principal delas, como ela bem escreveu em seu blog, é a importância de sonhar e fazer o que estiver ao seu alcance para concretizar o seu sonho. Vivemos em um mundo onde não cabe mais sonhar, a correria impera assim como imperam o poder, o dinheiro, o ter , falsos valores que fazem com que a maioria das pessoas esqueçam ou até considerem ridículo sonhar.
O foco do filme é a história de Benjamin (Selton Mello), palhaço de um circo mambembe que faz dupla com o pai Valdemar (Paulo José). Benjamin, ou Pangaré, como é chamado nos espetáculos circenses, parte em busca de seu sonho conquistar uma carteira de identidade e comprar um ventilador e com isso resgatou o seu sorriso. Ele fazia os outros sorrirem, mas já não via graça em sua profissão, não encontrava motivos para sorrir. Deixou a lona do circo e saiu em busca de sua identidade. E nessa busca, resgatou a si mesmo, resgatou a paixão pela profissão de palhaço, encontrou o amor, encontrou novamente motivos para sorrir.
Uma grande lição, afinal, a vida sem ter quem nos faça sorrir, sem ter motivação, faz até um palhaço ficar triste. E, às vezes, precisamos mergulhar fundo em nós mesmos para descobrir essa motivação, nossa verdadeira identidade. Às vezes, como o Palhaço fez, é preciso deixar de lado o conforto da rotina conhecida, porém sem graça, para aventurar-se em busca do seu verdadeiro eu, do que realmente te faz feliz. Mesmo que, ao final dessa busca, você descubra que a graça estava no conhecido e necessite voltar, como aconteceu com o Palhaço. Como diz o belo samba de Paulinho da Viola: "Voltar quase sempre é partir para um outro lugar". Quando você sai e retorna, tudo pode estar em seu lugar, mas você nunca é o mesmo...
Viver e ter certezas muitas vezes não andam juntos. A vida pressupõe questionamentos sempre... Por isso é tão gratificante quando a gente consegue finalmente conquistar algumas certezas... No filme, Valdemar (Paulo José), pai do angustiado palhaço Pangaré, lançou a seguinte frase ao ver o filho insatisfeito com a profissão: "Nesta vida a gente tem de fazer o que sabe: o gato bebe leite, o rato come queijo, eu sou palhaço e você?"
E você? Já descobriu o que sabe fazer?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Fantasia e realidade na dose certa

No último fim de semana, levei meu filho de cinco anos e uma amiguinha dele, com a mesma idade, a um espetáculo infantil chamado O Circo de Bonecos, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. Enquanto não começava o espetáculo, entramos os três na exposição da artista ítalo-brasileira Maria Bonomi. A mostra traçou o trabalho evolutivo da artista, com gravuras, instalações e obras de grandes dimensões, fundidas em metal, explorando cheios e vazios.
Caso eu tivesse ido sozinha, teria enxergado a obra de arte "pura e simples": a belíssima xilografia da artista, a beleza do relevo em concreto ou metal, a ousadia nas formas, nas cores. Mas como fui muito bem acompanhada, vi além disso. Nas gravuras, vi bruxas e duendes desdentados, nos grandes painéis enxerguei florestas coloridas; também vi bolas de futebol gigantes e um grande bico de pato dourado. Além de vários labirintos, é claro!
Sair da sua visão de mundo para viajar em outro universo é fantástico, ainda mais quando se trata do universo infantil. E a experiência do último domingo me fez refletir sobre as diferentes maneiras de se enxergar a vida. Por exemplo, um carro é solução para quem precisa acordar cedo e pegar um ônibus lotado e esse mesmo carro é visto como problema para quem gostaria de ter um modelo mais bonito, mais novo, mais caro. Trabalho é solução para quem está desempregado e precisa pagar contas e esse mesmo trabalho é problema para quem não gosta de acordar cedo, acha que ganha pouco, detesta o chefe.
Há muitas formas de enxergar uma mesma situação: tem gente que coloca magia na realidade, tem gente que vive a pura a realidade e tem gente que transforma uma vida que, para muitos, seria pura magia, em uma árdua realidade, "chorando de barriga cheia".
Existem situações que são problema e ponto: doença, morte, drásticas separações... Mas a maioria das coisas que pensamos ser problema talvez estejam sendo vistas sob a ótica equivocada. Talvez o segredo seja refletir um pouco antes de transformar um fato em uma novela mexicana e saber dosar...
Sempre achei que a sabedoria está no equilíbrio pois até na fantasia existe sempre um pouco de realidade. Quer um exemplo? Depois da exposição, fui com os meninos ver o espetáculo infantil e quando acabou eu perguntei: "o que vocês mais gostaram?" "Da bailarina. Mas, tia, ela usava aparelho nos dentes".

A Bailarina de aparelho

Era uma vez uma bailarina
que não sabia se era gente
na melodia, dançarina
no silêncio, tristeza ardente

Era uma vez uma bailarina
que não sabia se era gente
esquecida, postura felina
apreciada, salto contente

Era uma vez uma bailarina
que não sabia se era gente
por fora, pano e purpurina
por dentro, coração quente

Era uma vez uma bailarina
que descobriu que era gente
deixou a caixinha de menina
lançou-se ao amor envolvente

Pobre bailarina...
descobriu que era gente
Seria essa sua sina?
deixar a fantasia, usar aparelho no dente?

Beijos e um fim de semana com a magia na dose certa para todos!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"99 não é 100"

                                                              Foto divulgação do documentário Lixo Extraordinário

Ainda não havia assistido ao filme "Lixo Extraordinário", coprodução do Brasil e Reino Unido, indicado ao Oscar de melhor documentário. A obra foi gravada ao longo de três anos e acompanhou um projeto social do artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores do lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Gramacho é considerado o maior lixão da América Latina.
Achei simplesmente emocionante, um daqueles documentários que te remetem a várias reflexões profundas: sobre a garra e a luta dessas pessoas que separam lixo, oferecendo-nos verdadeiras lições de vida; sobre o poder transformador da arte; sobre a nossa ignorância a respeito da realidade de tantos brasileiros que, com orgulho, sobrevivem do lixo, do nosso lixo, e conseguem enxergar o melhor no pior.
Quando o artista plástico pensou em realizar um projeto com catadores de lixo, imaginou que lá encontraria pessoas deprimidas e frustradas. Ao contrário, deparou-se com lutadores orgulhosos de sua profissão. Uma delas ao receber uma cara feia de uma pessoa dentro do ônibus responde: "o que foi, tô cheirando mal? Meu emprego é digno, é só chegar em casa e tomar um banho que o fedor passa." Fiquei pensando em quantos "trabalhadores" usam perfume francês, mas não podem levantar a cabeça e dizer que realizam um trabalho com honestidade e dignidade.
São várias lições que esses catadores nos dão. A primeira delas é essa: refletir sobre onde está o verdadeiro lixo? Falo daquela parte podre do ser humano que julga, que rouba, que mata, que trata seus semelhante e a natureza com total descaso, do classicismo arraigado em nossa sociedade que faz com que uns se achem melhores que outros.
Outra lição é a importância do trabalho realizado, importância que muitos "letrados" ignoram e que essas pessoas que se apresentam com humildade dão uma verdadeira aula de cidadania. Uma catadora alerta: "...as pessoas se sentam em frente à televisão e disparam a jogar lixo sem a menor preocupação de para onde isso vai..." Outro catador, um senhor com 26 anos de profissão (faleceu após o término do documentário) disse: "99 não é 100", ou seja, aquela uma latinha que você despeja na natureza vai completar o número suficiente para depredá-la ainda mais...
E não menos importante reflexão oferecida pelo documentário é sobre o poder transformador da arte. Ponto para o artista, que fez do lixo arte e enxergou onde está a maior beleza do Gramacho: o fator humano. Retratou seus rostos e os cobriu com a matéria-prima que devolveu vida e sustento a muitos deles: lixo. Depende da maneira de enxergar. Para nós é lixo, mas para eles é material a se reciclar e devolver alguns anos à natureza. Nas mãos deles, esse material vai para o local correto, já jogados indiscriminadamente na natureza causam verdadeiros estragos pois não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor.
Uma lição de vida e cidadania, uma obra de arte transformadora... Como é gostoso ver o potencial humano do nosso povo, dessa gente que realiza, que transforma. Como bem disse o catador, 99 não é 100, e no Gramacho, cada um catador de material reciclável que se soma aos outros agrega mais história de vida em comunidade e fortalece a esperança de vivermos em um mundo melhor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O coração da cidade

Amigas de leitura,
A convidada Luciana Cotrim vai colaborar hoje com o texto que segue
Abraços a todos!
Anoushe

Recentemente estive com dois amigos em uma linda cidade do litoral do Ceará: Canoa Quebrada, bem perto de Fortaleza.
Além das praias, que parecem desenhadas, e do clima poético que tem, outra coisa me chamou a atenção nessa simpática cidadezinha: a forma como todos recebem os visitantes.
Eu me senti completamente acolhida com o  sorriso carismático do dono da Pousada que veio nos receber, dando dicas sobre as praias, o luau, a ruazinha que corta a cidade. E como esquecer dos garçons que serviam as barracas de praia sempre alegres, equilibrando as bandejas cheias de copos, pratos e talheres no terreno inclinado da praia? Garçons que davam dicas de onde se divertir e que se despediam da gente com um forte abraço porque deixamos um CD na barraca de praia??!!!
O olhar e a forma de tratar daquelas pessoas me tocaram profundamente porque infelizmente não consigo enxergar isso em Brasília. Não sei se é pelo fato de ser uma cidade grande ou porque é mesmo uma cidade pouco hospitaleira..
Praticamente nasci na Capital Federal, mas sinto falta de hospitalidade, de sorrisos nos rostos das pessoas, de ser chamada pra tomar um café no meu vizinho. Moro há mais de dois anos no mesmo prédio e não sei o nome da pessoa que mora no apartamento ao lado! Trabalho há 7 anos na mesma empresa e tenho colegas que nunca que me cumprimentaram e que eu nunca cumprimentei. E nessa via de mão dupla vamos deixando a má fama de Brasília de cidade fria e sem coração se espalhar.
Não tenho orgulho disso! Muito pelo contrário, gostaria que a minha cidade fosse conhecida pelo lindo pôr-do-sol, pelo céu muito azul e pelo enorme coração das pessoas.
Talvez ainda haja tempo de se criar uma boa imagem da nossa Capital se começarmos a plantar a sementinha da simpatia em nossos filhos. Quem sabe a próxima geração não consiga fazer de Brasília uma cidade mais amável e carismática como as cidades do Nordeste do Brasil?
Luciana

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Detetive de sonhos



Escutei o termo "Detetive de sonhos" em uma matéria do Jornal Hoje sobre a escolha da profissão. O psicoterapeuta entrevistado usou o termo ao dizer que os pais devem pesquisar as novas profissões e descobrir os anseios de seus filhos para ajudá-los na escolha. Ele enfatizou que não é correto abster-se totalmente de dar opiniões aos adolescentes quando chega o momento de prestar o vestibular e muito menos impor que o filho escolha determinada profissão. O ideal é procurar saber o que o mercado oferece e conhecer melhor o próprio filho para orientá-lo.
Achei o termo perfeito. Não só em relação a sua participação na escolha da profissão de seu filho, mas em todos os tipos de relações onde há amor envolvido. Se pensarmos bem, estamos sempre investigando os sentimentos e as vontades de quem amamos e tentando desvendar um pouco do que se passa no coração e no pensamento dos seres complexos que somos.
Assim que nasce um filho, você investiga seu choro, seu olhar, seus movimentos. Tudo isso para alimentá-lo melhor, para que ele não passe calor ou frio, para provocar o máximo de bem estar possível àquele serzinho que depende totalmente de você. Essa busca se modifica ao longo da vida, mas nunca se acaba. Pode o filho ter 60 anos que ainda será uma fonte infindável de descobertas.
Com os amigos também somos detetives de sonhos. Quando se é um verdadeiro amigo, o que ele almeja não passa despercebido e como a vida vai mudando nossos traços físicos e emocionais estamos eternamente nos surpreendendo com as alterações em seus sonhos, seja por opção ou porque a vida não apresentou outra alternativa. O importante é ter vontade e coração aberto para conhecer e reconhecer cada mudança e farejar as encrencas para poder alertá-lo como um bom detetive.
E no amor, aí então é que somos detetives de sonhos. Nada como surpreender o seu amor realizando sua vontade. O cotidiano vai endurecendo essa vontade de surpreender e é nesse momento que a arte de investigar tem de se tornar cada vez mais persistente e aperfeiçoada. Mesmo que o relacionamento tenha anos, ainda é preciso desvendar suas nuances...
Família é do mesmo jeito. Muitas vezes nos pegamos descrentes por acharmos que nunca conseguiremos desvendar os seus anseios. Na maior parte do tempo achamos que estamos decepcionando ou seguindo pistas equivocadas. Difícil agradar, não? E o mais conflituoso é que eles são a base para tudo e, portanto, deveríamos ter sonhos parecidos, sermos seres afins. Na verdade nem sempre somos. É com a família que ser detetive se torna mais árduo, porque cada parte do sonho desvendado é uma parte de nós mesmos, partes que amamos e partes que negamos como pistas forjadas.
Seja com quem for, no momento que for, a gente nunca vai conseguir se desvencilhar dessa tarefa de buscar conhecer o outro. Afinal, ser detetive de sonhos é a profissão de quem ama.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A natureza em cada um de nós


Incrível perceber como a natureza consegue nos presentear com algo lindo, mesmo em ambientes hostis. Em pleno cerrado, na secura do mês de agosto, quando a umidade chega a quase 10%, nascem as mais belas flores dos ipês, espalhados por todos os cantos de Brasília. São roxas, brancas e amarelas, mas as amarelas têm um colorido especial, contrastando com o céu bem azul da cidade. E é nessa época do ano, quando a poeira nos castiga e o calor é insuportável, que o por do sol é um dos mais belos do cerrado. As cores são densas, lembram rajadas de fogo que se perdem no horizonte quase desértico. Um espetáculo a cada anoitecer...
Sem fugir à regra da natureza, parece que a vida também é assim. Naqueles momentos mais difíceis, árduos, secos, ela (a vida) sempre te presenteia com uma situação ou pessoa que te dá forças para superar. São vários testes, como na natureza, para conseguirmos enxergar o que de fato consegue brotar em meio às piores condições. Afinal, brotar em terreno fértil, em climas amenos é fácil...
Nos momentos de doença, sempre surge uma boa alma que segura a sua mão e diz que tudo vai dar certo. Pode ser o seu companheiro, alguém de sua família, ou um perfeito estranho... Quando você se muda para uma outra cidade, ou até mesmo um país distante, e a saudade aperta, a vida te presenteia com um novo amigo que vai enxugar as lágrimas nos momentos difíceis. O mesmo acontece quando se perde alguém querido; a vida te presenteia com pessoas que te darão força para seguir ou com uma sequência de fatos e motivos para continuar desejando-a.
Você perde o emprego, termina com o namorado, bate o carro, quando tudo parece estar dando errado vem a vida e te apresenta novos motivos para gostar de estar com ela (a vida). É porque ela sabe que não dá pra tratar alguém só com tapas. Há de chegar a hora de afagar e tratar com carinho... Ou todos desistiríamos dela...
Não sei se a vida sempre dá e tira na medida certa, isso é algo que só alguém com o tamanho da sabedoria dela pode saber. Deus, por certo... Nós, em nossa pequenez, talvez apenas não saibamos captar os sinais da vida. E por não entendermos ou não estarmos prontos para os seus ensinamentos, jogamos toda a culpa nela:"Que vida ingrata!".
Uma grande lição é mesmo ter paciência e esperar acabarem os ciclos. Como na natureza. Daí, quem sabe, consigamos enxergar o florescer do ipê no cerrado ou um lindo por do sol em meio às turbulências.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pai, seja "o" presente

 
Meu pai, no linguajar que lhe é peculiar, sempre diz a seguinte frase antes de um conselho: "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Essa frase vem preparar o terreno contra qualquer tentativa minha de me defender atacando: "Mas o senhor também já fez isso naquele dia". Com certeza a maioria das coisas sobre as quais ele me aconselha é realmente por experiência própria, é por ter feito errado e se lascado ou até mesmo por continuar fazendo errado e não querer que eu repita o erro. Mas eu, na minha inexperiente arrogância, sempre tento convencê-lo de que, por ele errar, não tem o direito de me chamar atenção... E sempre foi assim... Aos 15, aos 20, aos 30 e alguns... Porque se tem uma pessoa que também faz coisa errada, esse é o meu pai. Assim como eu, assim como cada um de nós que está aqui neste mundo, tentando acertar.

Mas uma coisa, entre tantas outras, ele sempre soube fazer bem: ser pai. Meu pai é pai integral. Coisa cada vez mais difícil nos dias de hoje... E ser pai integral nunca significou estar 24h juntos e muito menos viver a vida do filho. O pai integral se dedica ao trabalho, à esposa, aos seus prazeres pessoais... Ser pai integral é mais sentir do que, necessariamente, estar. Parece estranho eu, que sou mãe, e não pai, falar desse sentimento. Mas o maior beneficiário da dedicação e benção de ter um pai integral é mesmo o filho. Portanto, sinto-me capacitada e "avalizada" para dizer o que é ter um pai integral. É o sentimento de segurança, de poder contar sempre... Um sentimento construído ao longo da vida, mas sentido desde o primeiro encontro. É ter a certeza de que você não é um encaixe em sua vida... Ainda que ele seja daqueles que trabalham demais, viajam demais...

Enfim, sempre tive a certeza de que meu pai curtiu muito me trazer ao mundo. Presenciou cada acerto, sofreu junto cada derrota e sempre gostou da minha companhia. Nunca deixou que uma feição de tristeza minha passasse despercebido: sempre tive que dar uma explicação convincente para um olho vermelho de choro. Esse é o meu pai e gostaria que todos fossem assim: cheio de defeitos, como todos nós, mas com o propósito firme de tornar o filho "gente".

Hoje em dia vejo cada vez menos pais com esse propósito. Com certeza existem muitos, mas infelizmente também encontram-se muitos pais cujo 100% de doação ao filho é apenas 50%. Eu nem estou falando aqui do pai assassino, pedófilo ou o que some no mundo. Mas de outra figura: a do pai presente-ausente. É aquele que faz um pouquinho e assim arruma uma justificativa pra se sentir bem em relação ao filho e ao mundo. Pois como diria uma grande amigo: "O ser humano arruma justificativa para tudo". Ele está ali naqueles momentos que não dão muito trabalho e que não atrapalham o desenrolar da sua vida. Tudo que deixa de fazer pelo filho é privação e aí o entretenimento da criança deixa de ser o cineminha, o parquinho, o teatro para ser o chope com amigos, o futebol e qualquer outra programação adulta: a criança vira encaixe. É lógico que não falo do "de vez em quando". Afinal, é natural isso, às vezes, acontecer. Eu descrevo aqui o recorrente, quando estar junto se torna uma obrigação.

O pai presente-ausente paga as contas mas não pede explicações para um olho vermelho de tristeza; dá banho e alimenta, mas não retorna à infância para ensinar o filho a brincar; cura as dores físicas nos consultórios médicos, mas não se permite experimentar o prazer de estar exausto após longas rotinas com um filho e perceber que a benção dele existir e o seu sorriso fazem valer qualquer exaustão.

É por isso que eu agradeço a Deus por ter merecido um pai integral. E lanço o alerta para aqueles que nem se dão conta de que são pais presente-ausente: descubram o prazer em seus filhos, eles são a nossa maior conquista.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Andar na contramão virou o certo?


Está cada vez mais difícil compreender o mundo. Ao menos tenho encontrado certa dificuldade. Observem a seguinte situação: outro dia desses estava ouvindo uma conversa entre amigas. Uma contou para a outra que estava saindo com um rapaz. Então, a amiga vibrou e perguntou: “e aí, ele é legal?” Prontamente a garota respondeu: “é sim, eu o chamo para os lugares e ele vai; eu ligo para ele e ele atende ou retorna minhas ligações; é muito atencioso, gentil.” Pensei, mas isso não é só o básico? Ou seja, a maneira como todos deveriam agir? Não. Parece que vivemos em um mundo tão louco que encontrar pessoas gentis e educadas é tão difícil que as tornam especiais.
Se você devolve uma carteira roubada é um herói, se separa tempo para estar com seus filhos é uma excelente mãe. O mesmo acontece se faz companhia a seus velhos pais. Caso um funcionário cumpra seus horários e trabalhe, torna-se um excelente empregado e se o seu marido paga as contas, não tem outras mulheres e não grita contigo, (pasmem!) é um ótimo marido.
E as leis e a sociedade te punem rigidamente se você der umas palmadas em seu filho caso ele se comporte como um verdadeiro tirano, querendo impor todas as suas vontades. Também te punem mais severamente ainda se usar os termos negro, gay, deficiente, ainda que não contenham nenhum traço discriminatório. As cantigas tradicionais de nossa infância têm conteúdo maléfico para nossas crianças e tiveram suas letras trocadas. E, outro dia, ouvi dizer que existe projeto de lei que proíbe a fabricação de cigarrinhos de chocolate por influenciarem mal nossos filhos. Será que não há certo exagero nisso tudo aí?
Ouço cada vez mais as pessoas dizerem que não querem se casar porque é difícil conviver com as diferenças alheias e não querem ter filhos porque se privariam de sua liberdade. Ora, mas não são justamente as diferenças que nos fazem exercitar virtudes como a paciência, o companheirismo, o saber ceder? Não são as diferenças que nos fazem refletir sobre conceitos arraigados e muitas vezes equivocados? E o que é a liberdade? Filhos não te privam, ao contrário, te libertam do cárcere de ser o único foco de sua vida. Claro que ter filhos não é a única maneira de tirar o foco de si mesmo, mas seguramente é uma...
Quando alguém é notado agindo cordialmente é, muitas vezes, taxado de otário, em comparação aos que se dão bem na vida a todo custo, prontamente aplaudidos e reconhecidos como bem-sucedidos. Se você não fura filas, não faz corpo mole no trabalho, não burla o fisco é um perfeito bobão. Parece mesmo que o bonito é ser feio...
Está cada vez mais difícil saber o que é certo e o que é errado. E o que era certo parece errado. Inversão de valores? Isso tudo vai interferindo diretamente na maneira de se viver em sociedade. É preciso repensar o certo e o errado, os excessos das punições e do individualismo, os desvios do foco do que realmente interessa e faz engrandecer o homem, antes que os valores se invertam por completo e a gentileza, a honestidade e a civilidade tornem-se motivo de chacota. Como disse Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Tem de ser agora

Ontem eu estava assistindo ao seriado da Globo "A Mulher Invisível" quando uma frase me chamou a atenção. Imagine ela em frente a ele e ela fala algo mais ou menos assim: "Diz que me ama...Só precisa ser uma vez...Mas tem de ser agora". Fiquei pensando em quantos alertas da vida, como esse, a gente recebe e, na maioria das vezes, ignora, seja por medo, por falta de tempo, ou por achar que pode ser algo para depois... Afinal, a urgência é do outro e quando não é nossa, nem sempre a gente consegue ter a mesma percepção temporal.
Imagine os seguintes chamados: "mãe, brinque comigo, não precisa ser sempre, mas precisa ser agora"; "meu filho, vá ao cinema comigo, não precisa ser sempre, mas tem de ser agora"; "preciso conversar urgente, mas tem de ser agora". No fundo todos pedem a mesma coisa: "diz que me ama, mas tem de ser agora". Talvez a urgência do agora de seu filho esteja no fato dele ser criança somente agora; a urgência de seus velhos pais, no fato de irem aos poucos envelhecendo e não conseguirem mais acompanhá-lo, como agora; e do amigo, no fato de a tristeza existir agora... Porque uma coisa é fato, o tempo do agora nunca será o mesmo do depois.
E às vezes, pasmem, deixamos para depois as nossas próprias urgências. Teu corpo te fala: "faça exercícios, mas tem de ser agora". Surge aquela oportunidade de viagem, mas tem de ser agora. Aparece aquela pessoa linda, interessante, generosa, inteligente, mas tem de ser agora. E o que a gente faz? Deixa os exercícios para depois e aumenta de peso, quase beirando a obesidade, sem contar a elevação nas taxas de colesterol, glicídios e outros índices; perde aquela oportunidade de viagem e em seguida a vida entra numa roda viva de compromissos que a viagem por prazer vai sendo adiada para o dia de São Nunca; e aquele (a) parceiro (a) "ideal" já está com outro (a) por sua total inércia...
Quanto mais amadurecemos, mais nos damos conta de que o único tempo que existe é mesmo o agora. Assim, o que realmente importa tem de ser feito nesse tempo, porque o depois já será um novo agora. Ame, viva, arrisque-se! Não adie projetos por preguiça ou falta de tempo. Como expressa o pequeno e imensamente sábio poema hai-kai de Millôr Fernandes, não deixe que palavras de amor morram no apontador. Porque viver...Só precisa ser uma vez... Mas tem de ser agora.
Quantas palavras de amor
Morrem
No apontador.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O que vale é o que importa


"O que vale é o que importa". Tenho ouvido essa frase com muita frequência de uma amiga recém adquirida, importada de Aracaju. É autoexplicativa, por certo... E cabe em quase todo contexto. Daí, não me contive e acabei furtando a oração. E o fiz na intenção de usá-la de duas maneiras: a primeira para teorizar sobre como os escritores e principalmente os cronistas normalmente o fazem e a segunda, para efetivamente colocá-la em prática, porque vi na frase uma implícita maneira de viver melhor.
"O que vale é o que importa" simplifica muito a vida. Fosse um sinal de pontuação, diria que é um ponto final. Sabe quando você está naquela argumentação sem fim, um dizendo, por exemplo, que determinado trabalho executado não foi bem executado, apesar de ter atingido sua finalidade? Daí perdem-se horas em argumentação, tentando arranjar o culpado, até que um, em tom de finalização vem e diz: "mas conseguimos o cliente, não foi? O que vale é o que importa...."
Outra hipótese para aplicação da frase: imagine um casal acusando um ao outro de irresponsabilidade por ter esquecido de levar um casaco para o filho ao levá-lo a uma festinha de aniversário. Mas veja que a dona da casa já emprestou um casaquinho e resolveu o problema. É mesmo necessário ficar um ferindo ao outro se a questão foi resolvida?
E a melhor das interpretações da frase é o alerta para darmos atenção ao que nos é valioso. Para quê perder tempo com julgamentos desnecessários, picuinhas, projeções de futuro que ainda nem sabemos se existirá, enquanto esquecemos o agora?
O que vale para você? É o tempo com seu filho, vê-lo crescer, rir juntos, chorar juntos... É o tempo com seus velhos pais e avós, absorver e compartilhar tanta sabedoria acumulada... É o tempo com seu amor, amar é tão bom e é de graça!!! São os bons momentos de risadas com amigos, de trapalhadas, de tropeços, de abraços... É o tempo de assimilar conhecimento, seja com arte, com a natureza, com palavras soltas ao vento ou direcionadas, com o trabalho árduo ou com momentos de ócio, com dias de glória ou com o entendimento de tirar o melhor aprendizado das frustrações... Se é isso o que te vale, seguramente é isso o que te importa!

sábado, 11 de junho de 2011

Você tem medo de dizer eu te amo?


Assisti pela segunda vez a um video que foi colocado no Youtube intitulado ¨Você tem medo de dizer eu te amo?¨ No vídeo, um garotinho diz estar apaixonado por uma menininha, mas lamenta não ser correspondido. Ele explica, então, que tem medo de revelar a todos o seu sentimento, porque acha que ririam dele por ela não ser apaixonada também. Quando a menina aparece e é questionada sobre quem é o seu namorado, prontamente responde que é o garotinho. Ele faz uma cara linda de surpresa e não perde tempo: pega a menina pelo braço e sai com ela para bem longe das câmeras. E no fim do vídeo é deixada a seguinte mensagem: nossa vida é definida pelo medo ou pelo amor. Ame!
Infelizmente, depois que nos tornamos crianças grandes, perdemos o jeito para executar tarefas simples, como no exemplo do garotinho do vídeo. Construir enormes edifícios, implementar tecnologia de ponta, vencer causas muito difíceis no mundo jurídico, descobrir a cura para doenças fatais parece muito mais simples do que conseguir dizer eu te amo. Não me refiro ao eu te amo da ¨boca pra fora¨, mas do amar como verbo de ação, que não o é na gramática, mas deve ser na vida.
Parece simples, não? Por que complicamos tanto? Eu gosto é dela, mas ela é mais velha, ela é nova demais, tem pouco dinheiro, tem cultura demais... Eu gosto é dele, mas mora distante, não quer ter mais filhos, tem muitos fihos, estudou de menos, trabalha demais...  Enfim, quantos medos e justificativas para nem tentar, enquanto o gostar, o amar, a afinidade vão ficando de lado para dar lugar às coisas práticas da vida.
O mundo dá voltas e o novo envelhece, o mais pobre pode ganhar dinheiro, o que estudou menos pode estudar mais, as opiniões podem mudar, porque nada é estático, nada é unânime, nenhuma questão é fechada enquanto houver a interferência da vida. Por que deixar o medo à frente do amor então?
Vamos ter como exemplo a atitude desse sábio garotinho que venceu o medo... Afinal, não existem motivos lógicos para amar, basta simplesmente, como ele mesmo disse, que ela tenha rabo de cavalo e use brincos para ter direito a um enorme espaço em seu coração. E se você já perdeu o medo para dizer o primeiro eu te amo, diga de novo, de novo e de novo, pois nunca é demais...Feliz dia dos namorados para todos nós!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Somos uma assembleia


Saí com duas amigas e fui ao Centro Cultural Banco do Brasil assistir a mais uma palestra do projeto Escritores Brasileiros. Foi a vez do cronista, escritor e roteirista Alcione Araújo ter suas crônicas lidas pela atriz Eliane Giardini. Cronicas belíssimas, recheadas de sensibilidade e humanidade... Ri e chorei em vários momentos, não só durante a leitura dos textos, mas também durante a explicação dada pelo autor sobre o que o inspirou a redigir alguns deles... Mas uma das frases que mais me chamou atenção foi dita pela atriz Eliane Giardini: "Somos uma assembleia". Ela referiu-se aos vários diálogos que trava consigo... Como se a gente, internamente, se subdividisse em vários "eus", que conversam entre si, discordam, concordam, mostram vários pontos de vista, pedem a palavra, causam aquele burburinho, como se fossem mesmo  parlamentares tentando emplacar o seu projeto.

Não sei se interpretei corretamente o que a atriz quis dizer, mas quando penso em sermos um assembleia, logo me transporto àqueles dias em que parecemos verdadeiros malucos, perdidos em nossos pensamentos.
Se você tem uma apresentação importante no trabalho, por exemplo, desde o dia anterior começam as conversas internas: uma voz diz que será um sucesso, outra contra-argumenta: e se não for? Aí a primeira, que estava confiante, já pensa: ─ Realmente, não trabalhei bem o ponto tal. Daí outra atiça: Os diretores assistirão às palestras, podem falar mal. Resultado: uma noite inteira de insônia.

Uma vez, uma amiga travou uma verdadeira batalha interna, só porque o namorado deixou de ligar durante uma viagem que ele fez sozinho. Seus pensamentos tentaram convencê-la de que ele já não gostava mais dela ou que poderia estar com outra. Ficou triste, chorou,  em sua assembleia particular as mil e uma vozes dos parlamentares só deram parecer negativo. O projeto foi a plenário para primeira discussão, segunda discussão e foi aprovado com o ponto de vista negativo. Depois foi sancionado e publicado. E quando o namorado explicou que a bateria do seu celular havia descarregado, já era tarde. Ela já havia sido convencida pelos parlamentares e terminou o namoro.

Ser um templo de discussões internas é muito positivo se você consegue não se sabotar com pensamentos que distorcem a realidade ou que te fazem sofrer antecipadamente. Em alguns momentos da vida é inútil tentar tirar conclusões. Embora seja difícil, é preciso tentar manter o pensamento elevado. Ou simplesmente não pensar, como na meditação. Quem sabe a gente possa ao menos começar com um pequeno exercício de conduzir a votação desses nossos parlamentares internos. Podemos vetar um ou outro ponto negativo ou retirar a palavra de pensamentos ruins, cortando até o som do microfone se for preciso!

Elevar o pensamento é um exercício, viver é um exercício. Alguns dias teremos sucesso, em outros não. O importante é dar o primeiro passo: ter consciência de que aquela sucessão de pensamentos inúteis e ruins não leva a nada e tentar afastá-la. Assim como o alcoólatra que ainda não parou de beber, mas frequenta o AA porque já se assumiu compulsivo.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ilusória perfeição...


Esta semana assisti ao filme do diretor iraniano Abbas Kiarostame, "Cópia Fiel". Achei fantástico! Mas não é sobre os múltiplos questionamentos a que ele remete, como por exemplo a importância da discussão sobre o que é autêntico ou falsificado e o valor das cópias no mundo da arte ou as instabilidades do amor que quero falar. O que me chamou a atenção foi uma frase entre as muitas lançadas durante a narrativa. Em um charmoso café na Toscana, Itália, os protagonistas ─ um escritor e a dona de uma galeria ─ são confundidos como marido e mulher pela dona do estabelecimento. Quando o suposto marido sai para atender a uma ligação, a dona do café, uma senhora de meia-idade, começa a conversar sobre casamento e, a cada questão que a dona da galeria aponta como uma queixa em seu relacionamento, a senhora contra-argumenta mostrando o lado positivo. E solta a seguinte frase: "É burrice nossa ficarmos tristes por causa de um ideal".
Realmente, não existe casamento ideal ─ é sempre formado por dois imperfeitos. E vou além: nada é ideal. Talvez o ideal só exista no nosso imaginário. Então é mesmo muita burrice ficarmos tristes por algo que não existe, não é?
Buscar o ideal é escolher um caminho de frustrações. A gente quer sempre o melhor, mas o melhor é bem diferente da suprema perfeição (um dos significados de ideal). O "melhor"é relativo porque é sempre comparado a outra situação ou ser. Então, o seu "melhor" pode não ser o melhor para outro alguém. E as falhas do seu "melhor" podem ser tão pequenas aos seus olhos a ponto de não serem consideradas falhas por você. Mas sem falhas... Não há!
Busquemos o melhor que a vida nos reserva, dentro do que nos cabe escolher. O melhor companheiro, o melhor amigo, o melhor trabalho, o melhor chocolate, a melhor casa, a melhor alimentação, o melhor livro, as pessoas que nos proporcionam os melhores momentos... E o bom da vida vai ser descobrir que após cada "melhor" pode vir outro "melhor" ainda. Mas não vamos deixar que pequenas imperfeições nos angustiem, nos deixem tristes. E se essas pequenas imperfeições tornarem-se grandes demais, talvez seja a hora de começar a se questionar se essa pessoa ou situação é mesmo a melhor para você.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quando um sorriso te encontra...


Algumas atitudes te desarmam. Sabe aquele dia em que você sai de casa chateado por um ou mil motivos ou simplesmente sem motivos? E tudo o que você deseja é encontrar alguém para despejar a sua raiva: quer que alguém te dê uma buzinada só para você falar um palavrão bem alto; quer que alguém não te trate com a devida atenção só para se sentir injustiçada; quer que o teu namorado não te ligue para poder reclamar... E aí, do nada, surge aquele sorriso iluminado e te encontra, te abraça, te contamina, te desarma...
Sorrisos que te acham perdidos por aí são muito perigosos. Primeiro porque mudam o seu humor sem consulta prévia e segundo porque te fazem perder a memória depois de ser encontrado por um desses você já nem se recorda mais do porquê de suas lamúrias.
Podem te pegar desprevenida: no início da manhã, na saída de um banheiro, dentro do hospital ou no metrô. Podem vir daquela pessoa que você nunca imaginaria que estaria sorrindo para você ou podem vir daquele que sempre te sorri, mas numa ocasião em que jamais responderia com um sorriso.
Quando um sorriso muito grande te encontra cabisbaixo por aí, ele tem poder energizante. Pode remover nós de estômago, secar lágrimas, fechar feridas internas, às vezes até aquelas bem internas como as do coração. Pode acabar com seus argumentos, para quê argumentar diante de um sorriso?
As mais poderosas armas são mesmo nossos gestos. Que tal distribuir sorrisos e quem sabe um deles, perdido, atinge um alvo certo?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Para as mamães


Um certo dia você é...
e segue a vida sendo só você.
Então, você acorda e se olha no espelho
e vê o seu reflexo
e segue a vida sendo só você.

Esbarra em vários eles,
agrega vários nós ...
Mas continua sendo você
e segue a vida sendo só você.

Até que um belo dia vocês são...
e segue a vida sendo vocês.
Então, você acorda e vê o seu reflexo nele...
Aquele narizinho que lembra o meu...
O meu olhar é como o dele...
E segue a vida sendo nós.

O só você vai ficando tão distante...
Cada coisa boa de você,
você deseja que seja dele.
Cada coisa ruim que venha deles
você quer que fique distante de nós...
E segue a vida sendo nós.

Até que um certo dia ele é...
E segue a vida sendo só ele
Então, ele acorda e vê o reflexo dele
e o círculo se completa...

E você fica feliz a cada conquista dele,
a cada nós agregado a ele,
a cada decisão certa tomada
ou a cada aprendizado após uma decisão errada.

Não adianta ele já ter 50 anos,
vai ser sempre o "seu" ele,
vai sempre enxergar algo de você nele,
e vibrar com ou por ele.

No máximo ele vira eles,
mas alegremente nunca mais você é só você,
ainda que ele ingenuamente às vezes pense
que ele é ele só...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Desejo: lava, depois pó, depois nada


Um amigo me presenteou com um livro da Hilda Hilst um dos principais nomes da literatura contemporânea. Já tinha assistido algumas peças de teatro baseadas em sua obra, lido algumas poesias, mas o primeiro livro dela que li foi este a mim regalado: A obscena Senhora D.
Denso, intenso, instigante: cheio de questionamentos sobre envelhecer, solidão, morte, sexo, hipocrisia. "...Eu à procura da luz numa cegueira silenciosa, sessenta anos à procura do sentido das coisas..."
E quando senti vontade de escrever sobre desejo foi nessa mulher, totalmente tomada pela devoção à palavra, que busquei inspiração. "...Quem és? Pergunto ao desejo. Respondeu: lava. Depois pó, Depois nada." (Do livro "Do desejo")
O desejo, como tudo na vida, como nós próprios, seres mortais, é lava, pó e nada... Mas prefiro ater-me à lava. Desejar é mesmo essa ardência que pode ser abrasada pela simples conquista ou estimulada pela conquista e continuar queimando.
Desejar um chocolate, desejar um beijo, desejar um pedaço ou um inteiro... Desejar por um tempo, desejar a vida inteira, desejar uma mordida, uma lambida em um sorvete ou em você...Esse tal de desejar... Ai se eu te pego de jeito!
O problema do desejo é que ele não respeita protocolos, vem nos locais e horários mais improváveis, diria até inconvenientes... Por exemplo? Quando você deseja um travesseiro de gente às quatro da manhã e a cama está vazia; deseja desesperadamente um sorriso triplo do seu filho (com covinhas) e ele está na escola; deseja compartilhar um fato marcante da sua vida com amigas que estão fora, deseja abocanhar um "não sei quê ou quem" só pela lembrança do cheiro, da consistência, da textura, de um roçar, enfim...
Desejo também não vem com um medidor de possibilidade de realização. Quantas vezes nos vêm à cabeça desejos retóricos... Quando você olha uma criança buscando comida numa lata de lixo e deseja que o mundo fosse tão melhor que isso não existisse ou quando gente mata gente e você deseja que as pessoas não tivessem motivo e muito menos vontade de fazer isso...
E aí? Quando vêm esses desejos em momentos impróprios ou pensamos em desejos inexequíveis, o que fazer? Talvez, momentaneamente, esperar que a lava vire pó e depois o pó vire nada... Para em seguida desejar mais e mais e mais, porque ainda que com início, meio e fim são os desejos que alimentam outros desejos... São os desejos que nos movem!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Memórias...


Tem dias em que você acorda tão nostálgico que sente saudades de ter saudades... Você quer se agarrar de qualquer jeito a algum sentimento ou sensação que te remeta a bons momentos. Recorre então a uma foto, um cheiro, uma pessoa ausente, uma voz, um trecho de livro, uma música...
É o dia escolhido para exercitar a memória seletiva a mente é envolvida por tantas sensações gostosas que a vida parece ser um pote de brigadeiro a ser comido com colher.
Tua mente te transporta então para aquele abraço apertado e quentinho do primeiro namorado, para o beijo que te faz derreter, para a gargalhada do filho ainda criança, para o colo materno e o ombro do amigo.
De repente, você tem de novo longos cabelos loiros, bochechas redondas e rosadas e muitos sonhos. Sonhos tão inofensivos e arquitetados com tamanha precisão que jamais te pareceria provável que um dia não se tornariam realidade.
De repente, teus pés calçam alpargatas da feira e não têm calos causados pelos saltos impostos. E você pode se permitir caminhar sem destino certo ou no máximo com destino a decidir.
Vem à mente o gosto da infância: hambúrguer do Trucs, groselha, macarrão com ketchup, bolo de cenoura da Zefa...
De repente, você volta ao tempo em que os números não te interessam e que para ser feliz basta haver um lindo dia de sol, uma bicicleta ou uma bola e muitos amigos.
Quem disse que os bons momentos não voltam mais? Basta fechar os olhos e viajar, encontrar um velho amigo e relembrar as antigas piadas, provar um sabor conhecido e já quase esquecido que te remeta a doces lembranças... Quem disse que as histórias da tua vida não podem ser recontadas a partir do capítulo que quiser? Nossas memórias são como um grande livro de cabeceira, todo anotado, comentado, cheio de registros e que está lá, prontinho para ser reaberto a qualquer tempo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Eterno aprendiz


Ontem fui ao Centro Cultural Banco do Brasil prestigiar a segunda edição do projeto Escritores Brasileiros com o escritor paulista Ignácio de Loyola Brandão. A atriz Regina Duarte leu algumas crônicas dele, mas o verdadeiro show foi o próprio escritor contando suas histórias. Poderia dizer que foi a crônica da crônica...Memórias deliciosas de uma infância nos anos 40, cheia de imaginação, ingenuidade, pureza. Torcemos para que a vida brinde nossos meninos de hoje com essas características.
Entre mil e uma frases interessantes que o escritor disse, pude escrever na embalagem de um remédio que trazia na bolsa (perdi minha agendinha de anotações) a seguinte: "Nós dois vivemos muito e continuamos na escola". Ele referiu-se ao encontro que teve com sua professora do primário. Enviou um exemplar de um livro que publicou para a professora que ainda vive em sua terra natal (Araraquara/SP) e ao visitá-la perguntou o que achou. Ela disse: "É, tem que arrumar umas coisinhas", ou algo similar. Ainda o vê como aluno. Ambos viveram muito e continuam na escola...
Ele conta que na escola, sem as metodologias de hoje, ela estimulava a imaginação. Pedia aos alunos que escrevessem o que vissem em seu cotidiano e depois construíssem redações. Ela sempre lia uma que considerasse a melhor e os coleguinhas davam a nota. Várias vezes ele afirmou que essa professora estava e está à frente de seu tempo.
É gostoso ouvir de pessoas que já viveram um bocado considerável que ainda estão na escola. Penso que se realmente encararmos esta vida como uma escola, ela passa menos sofrida. E se tivermos a humildade de nunca acharmos que somos melhores do que os que estão começando, já trazemos na bagagem uma grande lição!
Esta vida é mesmo uma escola e as provas são diárias. Se não aprender direito, mais pra frente a vida te aplica um teste surpresa. Muito pior, porque te pega despreparado. Melhor aprender no primeiro teste...
Tem gente que gosta mais da matemática da vida, é pura razão. É isso por isso e pronto! Eu não. Identifico-me com as ciências humanas, não gosto de matemática, prefiro a poesia dos porquês. É claro que não obtemos respostas absolutas, muito menos verdades, mas em se tratando de gente, nada é absoluto, não é mesmo?
Gosto de aprender com gente: meus companheiros da carteira ao lado, da sala vizinha ou da turma mais distante, ainda que seja do jardim. Já observaram como a turminha do jardim ensina? E muito!
Aprender com gente, com os erros das gentes, com os nossos erros... Avançando de uma classe a outra para no final ainda termos uma única certeza: ainda continuamos na escola e há sempre muito a se aprender.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Alerta


Peço licença aos que acompanham o blog, mas hoje resolvi fazer uma reflexão um pouco diferente das costumeiras relacionadas a cultura, música, livros e sempre tentando ver o lado otimista dos fatos e das pessoas. O episódio de ontem, quando um homem saiu atirando em crianças inocentes numa escola do Rio de Janeiro, causando mais de 11 mortes e outros tantos feridos, deixou o país perplexo e de luto. É inevitável a gente não se colocar no lugar das mães e parentes que deixaram seus filhos na escola para mais um dia rotineiro e de repente têm suas vidas destruídas em segundos por um ato totalmente insano e inexplicável. Vidas roubadas, crianças traumatizadas, seguramente muita dor...

A gente pensa que as tragédias estão sempre distantes de nossas vidas. Até então, na nossa cabeça, ataques a crianças indefesas dentro de uma escola só aconteciam nos Estados Unidos... Ledo engano imaginar que as tragédias não respingam em nossas vidas. E pior ainda achar que o problema alheio não nos interessa. A gente precisa urgentemente parar e dedicar mais tempo às cabecinhas de nossas crianças para que elas possam usufruir de um futuro melhor. Criar nossos filhos repeitando os mais velhos, a natureza, tendo boa educação e principalmente sabendo respeitar e conviver com as diferenças.

Não cabe mais e nunca coube o pensamente de que uns são melhores que outros, seja porque são: brancos ou negros, heterossexuais ou homossexuais, mulheres ou homens, ricos ou pobres, gordos ou magros, calados ou extrovertidos... O atirador foi vítima de bullying na época em que estudava na escola, guardou provavelmente toda sua raiva e humilhação e descontou, infelizmente, em crianças inocentes. Atirou em inocentes para atingir todo um sistema que muitas vezes oprime. E não sabemos como cada oprimido poderá reagir.

É um alerta, precisamos refletir qual é a nossa participação nisso tudo. E precisamos mudar. A melhor maneira, creio eu, é na educação. Compartilhar o nosso tempo com os nossos meninos e meninas, responder às suas perguntas, esclarecer e erradicar o preconceito, seja o tipo que for. Triste demais pensar que um ser humano é capaz de tamanha atrocidade, angustiante saber que muitas vezes a mente é o nosso pior inimigo. Agora, a gente vai ter de pensar e efetivamente mudar, agir, para não vermos escorrer lágrimas e sangue de crianças e adolescentes que deveriam estar simplesmente brincando e sorrindo.

domingo, 3 de abril de 2011

Redonda rosa de água


A percepção dos próprios sentidos muda completamente de uma pessoa para outra. O olhar poético de Pablo Neruda, por exemplo, enxerga uma cebola como “um planeta a reluzir... redonda rosa de água... com escamas de cristal". A mesma cebola aguça o olfato dos chefes mais exigentes ou tão somente dos amantes de uma boa comida. Não a vêem, mas a aspiram como tempero essencial capaz de transformar coisas insossas em sabor. Pintores logo a projetam em cores vivas, material em potencial para a arte. Músicos podem sonorizá-la... Escultores podem inspirar-se numa cebola pra produzir uma bela instalação.
Eu, quando penso em cebola, penso logo em tempero. E para meu espanto maior, não me vem à mente só comida penso logo em gente. Gente é um pouco assim: tem pessoas insossas e temperadas, aceboladas...  Qual será o ingrediente que diferencia uma da outra?
O insosso é aquele que pode ter até uma capa bonita  ─ belas pernas, olhos, braços...    mas foi jogado na gordura sem alho, cebola e sal. Tem olhos bonitos, mas que não dizem nada, olhar vazio; não tem charme no caminhar, dá simples passos, cautelosos, nada ousados; fala muito e não diz nada ou simplesmente nada tem a dizer; não sabe o que fazer com as mãos, não afaga, não dá carinho, não sabe como estendê-las na hora certa. É o tipo de gente que economiza no abraço, no beijo, no olhar. É o tipo de gente que se esconde no medo, nos traumas ─ desculpa ideal par se viver irritantemente contido.
Já a pessoa temperada, na minha humilde opinião, chega e diz a que veio. É aquela refogada em uma panela com alho, cebola, sal, pimenta, tomilho, louro, ufa... E que ficou dourando até pegar gosto.  Quase tudo que cair ali fica gostoso... Todo acompanhamento fica bom. É o tipo de gente que vive cercado de gente porque é prazeroso estar ao lado. Os olhares estão sempre voltados para essas pessoas porque seus olhos têm brilho. São o tipo que sabem intervir no tempo certo e, ainda que você não concorde, pensa a respeito, porque não é uma colocação em vão.
Como é bom estar cercada de gente temperada! Que erra, cai, chora e levanta. Que não tem medo de viver porque se não der certo vira “causo” para contar, experiência e até motivo pra rir. Adoro gente acebolada, com várias camadas de experiências tristes e felizes. Porque há momentos em que precisamos chorar, como quando picamos a cebola, mas depois essa mesma cebola vai para a panela e transforma-se em tempero para um delicioso prato a ser saboreado. E assim se tempera a vida!

quinta-feira, 24 de março de 2011

A vida é um espetáculo


Recebi uma mensagem pela internet sobre uma campanha publicitária com frases que incentivam a viver melhor. Coisas que estamos cansados de saber, mas que muitas vezes não colocamos em prática. Frases como:"Crie filhos em vez de herdeiros."..." Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama." Daí parei para pensar em quando foi que as pessoas se perderam de tal maneira que é preciso chamar atenção para questões que deveriam ser elementares. Por que é tão difícil dispor do seu tempo com filhos, amigos, pais, esposo (a), namorado (a)? Por que é tão difícil dizer eu te amo? Por que mesmo tendo saúde, comida, lazer, moradia, o que a gente ganha nunca é o suficiente? Por que a gente complica tanto a vida e muitas vezes só enxerga os dramas?

Percebo que quanto mais a gente se envolve só com os nossos problemas, maiores eles se tornam. Quando nos voltamos para os alheios, os nossos vão ficando insignificantes... Não que não tenham importância, mas é tão bom sabermos dimensioná-los e colocá-los em seu devido lugar. Ou seja, um trabalho chato não é maior do que não ter emprego; a ausência temporária de um companheiro (a) não é maior do que um casamento sem respeito, sem amor; família carente e que te sufoca não é maior do que não ter um endereço certo da acolhida; não ter o corpo das modelos e atrizes não é maior do que as doenças que nos devoram por dentro e por fora...

Fosse a vida um palco, melhor seria optar sempre por roteiros de comédia. Não é sempre que dá, é verdade, porque o máximo que conseguimos é ser coautores. Vira e mexe vem a vida e nos apresenta um vilão digno de Shakespeare e só nos resta chorar. Por um tempo... Porque em certo momento precisamos reescrever nossa história e, da parte que nos cabe, tentar melhorar nosso roteiro, ainda que seja freando as canetadas da vida.

Citando Charles Chaplin: "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". Estejamos, então, sempre prontos para improvisar e mostrar o melhor de nós. E quando necessário, auxiliar aqueles que estão atuando conosco nessa vida, muitas vezes até assumindo suas "falas". Se precisarem, por que não? Afinal, uma peça só é boa quando é bom o conjunto. Como diriam os atores para ter sorte antes de inciar uma peça: Merda! Que deve servir também para continuarmos perseverantes nesse espetáculo que é a vida.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Tempo de criança


Um amigo outro dia desses fez a seguinte observação: "Na física moderna a medição do tempo é relativa, será que para nós o tempo também não é relativo em relação à qualidade do seu uso?" Ele então me explicou o que estava tentando dizer com isso. A sensação que temos quando somos crianças é de que o tempo passa lentamente. No entanto na vida adulta, o tempo se torna artigo de luxo, quase não o vemos passar, voa... Por que isso acontece? Começamos a refletir a respeito...

Quando criança, desfrutamos a maior parte do tempo. Tudo é leve, sem grandes pretensões. Não há nada com que nos preocupar, a ingenuidade nos protege de questionamentos desnecessários, de pessoas desnecessárias, enfim, fora o que cabe ao processo de educação e ao que nos puser em risco de vida, quase todo o resto é permitido. Parece então que leva uma eternidade para se ter 10 anos e outra para chegar aos tão sonhados 18... Depois disso, o intervalo entre janeiro e dezembro parece reduzido a pó, as ocupações e preocupações se apoderam do nosso tempo... Ele fica lá encarcerado, abduzido.

É fato que não se pode ser eternamente criança. É mais fato ainda que continuaremos a pagar contas e a resolver todos os questionamentos e problemas que a vida adulta nos traz. Mas, com certeza, a gente pode libertar de vez em quando o nosso tempo desse cárcere de preocupações e fazer coisas que nos deixam felizes, que nos remetam ao tempo de criança. Talvez assim ele não passe com tanta velocidade, talvez assim possamos enxergá-lo melhor e conseguir, enfim, desfrutá-lo com mais qualidade. Será? Nada perdemos em tentar.

Fazer o exercício de melhorar a qualidade do nosso tempo é o grande desafio da vida. Se tivermos o cuidado de relaxar mais, prestarmos mais atenção às pessoas que nos provocam boas sensações, perdemos menos energia com sentimentos inúteis, talvez tenhamos a sensação de que o tempo passe mais devagar. As responsabilidades vão continuar a bater em nossa porta, mas dar o devido lugar ao que é da vida adulta nos permite reservar espaço para sermos crianças também. Isso inclui brincar, ter melhores amigos, dançar, ter prazer em comer, abraçar e beijar muito quem se ama, se lambuzar de sorvete, definir o que se gosta de fazer e fazer... Tempo é relativo, é a gente que faz... Então certamente sempre haverá espaço para deixar vir a tona nosso tempo de criança.