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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Fantasia e realidade na dose certa

No último fim de semana, levei meu filho de cinco anos e uma amiguinha dele, com a mesma idade, a um espetáculo infantil chamado O Circo de Bonecos, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. Enquanto não começava o espetáculo, entramos os três na exposição da artista ítalo-brasileira Maria Bonomi. A mostra traçou o trabalho evolutivo da artista, com gravuras, instalações e obras de grandes dimensões, fundidas em metal, explorando cheios e vazios.
Caso eu tivesse ido sozinha, teria enxergado a obra de arte "pura e simples": a belíssima xilografia da artista, a beleza do relevo em concreto ou metal, a ousadia nas formas, nas cores. Mas como fui muito bem acompanhada, vi além disso. Nas gravuras, vi bruxas e duendes desdentados, nos grandes painéis enxerguei florestas coloridas; também vi bolas de futebol gigantes e um grande bico de pato dourado. Além de vários labirintos, é claro!
Sair da sua visão de mundo para viajar em outro universo é fantástico, ainda mais quando se trata do universo infantil. E a experiência do último domingo me fez refletir sobre as diferentes maneiras de se enxergar a vida. Por exemplo, um carro é solução para quem precisa acordar cedo e pegar um ônibus lotado e esse mesmo carro é visto como problema para quem gostaria de ter um modelo mais bonito, mais novo, mais caro. Trabalho é solução para quem está desempregado e precisa pagar contas e esse mesmo trabalho é problema para quem não gosta de acordar cedo, acha que ganha pouco, detesta o chefe.
Há muitas formas de enxergar uma mesma situação: tem gente que coloca magia na realidade, tem gente que vive a pura a realidade e tem gente que transforma uma vida que, para muitos, seria pura magia, em uma árdua realidade, "chorando de barriga cheia".
Existem situações que são problema e ponto: doença, morte, drásticas separações... Mas a maioria das coisas que pensamos ser problema talvez estejam sendo vistas sob a ótica equivocada. Talvez o segredo seja refletir um pouco antes de transformar um fato em uma novela mexicana e saber dosar...
Sempre achei que a sabedoria está no equilíbrio pois até na fantasia existe sempre um pouco de realidade. Quer um exemplo? Depois da exposição, fui com os meninos ver o espetáculo infantil e quando acabou eu perguntei: "o que vocês mais gostaram?" "Da bailarina. Mas, tia, ela usava aparelho nos dentes".

A Bailarina de aparelho

Era uma vez uma bailarina
que não sabia se era gente
na melodia, dançarina
no silêncio, tristeza ardente

Era uma vez uma bailarina
que não sabia se era gente
esquecida, postura felina
apreciada, salto contente

Era uma vez uma bailarina
que não sabia se era gente
por fora, pano e purpurina
por dentro, coração quente

Era uma vez uma bailarina
que descobriu que era gente
deixou a caixinha de menina
lançou-se ao amor envolvente

Pobre bailarina...
descobriu que era gente
Seria essa sua sina?
deixar a fantasia, usar aparelho no dente?

Beijos e um fim de semana com a magia na dose certa para todos!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"99 não é 100"

                                                              Foto divulgação do documentário Lixo Extraordinário

Ainda não havia assistido ao filme "Lixo Extraordinário", coprodução do Brasil e Reino Unido, indicado ao Oscar de melhor documentário. A obra foi gravada ao longo de três anos e acompanhou um projeto social do artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores do lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Gramacho é considerado o maior lixão da América Latina.
Achei simplesmente emocionante, um daqueles documentários que te remetem a várias reflexões profundas: sobre a garra e a luta dessas pessoas que separam lixo, oferecendo-nos verdadeiras lições de vida; sobre o poder transformador da arte; sobre a nossa ignorância a respeito da realidade de tantos brasileiros que, com orgulho, sobrevivem do lixo, do nosso lixo, e conseguem enxergar o melhor no pior.
Quando o artista plástico pensou em realizar um projeto com catadores de lixo, imaginou que lá encontraria pessoas deprimidas e frustradas. Ao contrário, deparou-se com lutadores orgulhosos de sua profissão. Uma delas ao receber uma cara feia de uma pessoa dentro do ônibus responde: "o que foi, tô cheirando mal? Meu emprego é digno, é só chegar em casa e tomar um banho que o fedor passa." Fiquei pensando em quantos "trabalhadores" usam perfume francês, mas não podem levantar a cabeça e dizer que realizam um trabalho com honestidade e dignidade.
São várias lições que esses catadores nos dão. A primeira delas é essa: refletir sobre onde está o verdadeiro lixo? Falo daquela parte podre do ser humano que julga, que rouba, que mata, que trata seus semelhante e a natureza com total descaso, do classicismo arraigado em nossa sociedade que faz com que uns se achem melhores que outros.
Outra lição é a importância do trabalho realizado, importância que muitos "letrados" ignoram e que essas pessoas que se apresentam com humildade dão uma verdadeira aula de cidadania. Uma catadora alerta: "...as pessoas se sentam em frente à televisão e disparam a jogar lixo sem a menor preocupação de para onde isso vai..." Outro catador, um senhor com 26 anos de profissão (faleceu após o término do documentário) disse: "99 não é 100", ou seja, aquela uma latinha que você despeja na natureza vai completar o número suficiente para depredá-la ainda mais...
E não menos importante reflexão oferecida pelo documentário é sobre o poder transformador da arte. Ponto para o artista, que fez do lixo arte e enxergou onde está a maior beleza do Gramacho: o fator humano. Retratou seus rostos e os cobriu com a matéria-prima que devolveu vida e sustento a muitos deles: lixo. Depende da maneira de enxergar. Para nós é lixo, mas para eles é material a se reciclar e devolver alguns anos à natureza. Nas mãos deles, esse material vai para o local correto, já jogados indiscriminadamente na natureza causam verdadeiros estragos pois não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor.
Uma lição de vida e cidadania, uma obra de arte transformadora... Como é gostoso ver o potencial humano do nosso povo, dessa gente que realiza, que transforma. Como bem disse o catador, 99 não é 100, e no Gramacho, cada um catador de material reciclável que se soma aos outros agrega mais história de vida em comunidade e fortalece a esperança de vivermos em um mundo melhor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O coração da cidade

Amigas de leitura,
A convidada Luciana Cotrim vai colaborar hoje com o texto que segue
Abraços a todos!
Anoushe

Recentemente estive com dois amigos em uma linda cidade do litoral do Ceará: Canoa Quebrada, bem perto de Fortaleza.
Além das praias, que parecem desenhadas, e do clima poético que tem, outra coisa me chamou a atenção nessa simpática cidadezinha: a forma como todos recebem os visitantes.
Eu me senti completamente acolhida com o  sorriso carismático do dono da Pousada que veio nos receber, dando dicas sobre as praias, o luau, a ruazinha que corta a cidade. E como esquecer dos garçons que serviam as barracas de praia sempre alegres, equilibrando as bandejas cheias de copos, pratos e talheres no terreno inclinado da praia? Garçons que davam dicas de onde se divertir e que se despediam da gente com um forte abraço porque deixamos um CD na barraca de praia??!!!
O olhar e a forma de tratar daquelas pessoas me tocaram profundamente porque infelizmente não consigo enxergar isso em Brasília. Não sei se é pelo fato de ser uma cidade grande ou porque é mesmo uma cidade pouco hospitaleira..
Praticamente nasci na Capital Federal, mas sinto falta de hospitalidade, de sorrisos nos rostos das pessoas, de ser chamada pra tomar um café no meu vizinho. Moro há mais de dois anos no mesmo prédio e não sei o nome da pessoa que mora no apartamento ao lado! Trabalho há 7 anos na mesma empresa e tenho colegas que nunca que me cumprimentaram e que eu nunca cumprimentei. E nessa via de mão dupla vamos deixando a má fama de Brasília de cidade fria e sem coração se espalhar.
Não tenho orgulho disso! Muito pelo contrário, gostaria que a minha cidade fosse conhecida pelo lindo pôr-do-sol, pelo céu muito azul e pelo enorme coração das pessoas.
Talvez ainda haja tempo de se criar uma boa imagem da nossa Capital se começarmos a plantar a sementinha da simpatia em nossos filhos. Quem sabe a próxima geração não consiga fazer de Brasília uma cidade mais amável e carismática como as cidades do Nordeste do Brasil?
Luciana