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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"99 não é 100"

                                                              Foto divulgação do documentário Lixo Extraordinário

Ainda não havia assistido ao filme "Lixo Extraordinário", coprodução do Brasil e Reino Unido, indicado ao Oscar de melhor documentário. A obra foi gravada ao longo de três anos e acompanhou um projeto social do artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores do lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Gramacho é considerado o maior lixão da América Latina.
Achei simplesmente emocionante, um daqueles documentários que te remetem a várias reflexões profundas: sobre a garra e a luta dessas pessoas que separam lixo, oferecendo-nos verdadeiras lições de vida; sobre o poder transformador da arte; sobre a nossa ignorância a respeito da realidade de tantos brasileiros que, com orgulho, sobrevivem do lixo, do nosso lixo, e conseguem enxergar o melhor no pior.
Quando o artista plástico pensou em realizar um projeto com catadores de lixo, imaginou que lá encontraria pessoas deprimidas e frustradas. Ao contrário, deparou-se com lutadores orgulhosos de sua profissão. Uma delas ao receber uma cara feia de uma pessoa dentro do ônibus responde: "o que foi, tô cheirando mal? Meu emprego é digno, é só chegar em casa e tomar um banho que o fedor passa." Fiquei pensando em quantos "trabalhadores" usam perfume francês, mas não podem levantar a cabeça e dizer que realizam um trabalho com honestidade e dignidade.
São várias lições que esses catadores nos dão. A primeira delas é essa: refletir sobre onde está o verdadeiro lixo? Falo daquela parte podre do ser humano que julga, que rouba, que mata, que trata seus semelhante e a natureza com total descaso, do classicismo arraigado em nossa sociedade que faz com que uns se achem melhores que outros.
Outra lição é a importância do trabalho realizado, importância que muitos "letrados" ignoram e que essas pessoas que se apresentam com humildade dão uma verdadeira aula de cidadania. Uma catadora alerta: "...as pessoas se sentam em frente à televisão e disparam a jogar lixo sem a menor preocupação de para onde isso vai..." Outro catador, um senhor com 26 anos de profissão (faleceu após o término do documentário) disse: "99 não é 100", ou seja, aquela uma latinha que você despeja na natureza vai completar o número suficiente para depredá-la ainda mais...
E não menos importante reflexão oferecida pelo documentário é sobre o poder transformador da arte. Ponto para o artista, que fez do lixo arte e enxergou onde está a maior beleza do Gramacho: o fator humano. Retratou seus rostos e os cobriu com a matéria-prima que devolveu vida e sustento a muitos deles: lixo. Depende da maneira de enxergar. Para nós é lixo, mas para eles é material a se reciclar e devolver alguns anos à natureza. Nas mãos deles, esse material vai para o local correto, já jogados indiscriminadamente na natureza causam verdadeiros estragos pois não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor.
Uma lição de vida e cidadania, uma obra de arte transformadora... Como é gostoso ver o potencial humano do nosso povo, dessa gente que realiza, que transforma. Como bem disse o catador, 99 não é 100, e no Gramacho, cada um catador de material reciclável que se soma aos outros agrega mais história de vida em comunidade e fortalece a esperança de vivermos em um mundo melhor.

Um comentário:

  1. Exatidão de raciocínio! Também vi o filme e me emocionei. bjs

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