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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 16 de março de 2012

Sangue do escritor


Por que escrever é tão intenso? Já ouvi ou li a descrição de alguns autores sobre o processo da escrita e muitos deles têm o ato de escrever como uma necessidade quase fisiológica. Conseguir ver e descrever o mundo em palavras transforma o seu dia, o seu humor, a sua capacidade de lidar com as pessoas e cria um canal de relacionamento com o mundo compulsório, pois mesmo aqueles que tentam se isolar da sociedade se expõem ao deixar aflorar essa arte.
O escritor turco Orhan Pamuk, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2006, disse na Conferência Puterbaugh que para ser feliz, precisa da sua dose diária de literatura. "...Para mim, literatura é remédio..." Como não concordar? É remédio que liberta a alma, por isso muitos autores afirmam que não escrevem para os outros, mas para si, para o seu próprio entendimento e cura. Uma espécie de catarse para minimizar angústias, tensões, compartilhar pensamentos, liberar protestos que não puderam ser ditos.
Escrever é levar a cabo a última gota de sentimento sobre algo que não seria exposto, não seria debatido e criticado, algo que ficaria como uma ideia apartada do mundo real. Como bem disse Clarice Lispector: "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador..."
E existem pessoas que não conseguem guardar para si qualquer tipo de sentimento vago e sufocador. Nesse momento, então, nasce o escritor e liberta-se uma alma. Porque até então, as palavras inquietantes estavam amarradas e condenadas à masmorra do pensamento e as palavras vagas estavam isoladas sem o complemento que só lhes dariam sentido quando fossem encontradas pelo leitor.
Assim, é intenso escrever porque é remédio, é canal que liberta sentimentos e ideias, que mostra ao mundo os que se valem da escrita para sair do isolamento que a vida nos impõe. É visceral, portanto é triste e alegre, é vida e morte, é encontro e desencontro, é realidade e ficção. É o verbo que registra, que conta uma história, que simplesmente desabafa e vomita, que esclarece e complica é o sangue do escritor.


"Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.


Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.


E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.


Eu faço versos como quem morre."
(Manuel Bandeira)