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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Silêncio perturbador,



O silêncio é no mínimo perturbador. Falar é muito mais fácil que silenciar as palavras, pensar é mais fácil que esvaziar a mente, mergulhar no barulho da multidão é mais confortante que se deparar com seu próprio silêncio. Imagine um concerto dividido em três atos de silêncio...
No dia 05 de setembro deste ano, o controverso compositor John Cage faria 100 anos. Mais um centenário que merece destaque. Inevitavelmente, o músico é lembrado por sua mais criticada peça 4’33″. Ela foi composta para qualquer instrumento (ou combinação de instrumentos) e a pontuação instrui o intérprete a não tocar o instrumento durante toda a duração da peça ao longo dos três movimentos. A ideia é ouvir os sons do ambiente, um som que não pode ser controlado pelo músico. E há ainda a ideia de que todos os sons constituem, ou podem constituir, a música.
Cage se voltou para outras concepções de música, questionando o paradigma ocidental que a explicava como uma série ordenada de notas, o que se esperaria de um concerto "normal". Na verdade, a peça não pode ser chamada de silenciosa, porque silenciam-se os intrumentos, mas ouve-se o ruído do ambiente. Segundo a concepção oriental de música pesquisada por ele, ouve-se o som do teatro ao qual se presta atenção.
O pianista David Tudor estreou a peça 4'33" em 29 de agosto de 1952, em Woodstock, Nova York, como parte de um recital de música de piano contemporâneo. Eu assisti a um vídeo de um concerto dedicado a John Cage no You Tube e realmente é perturbador. Ouve-se tosses, espirros, estalos das poltronas, pigarros e percebe-se a inquietude do público e dos próprios músicos ao se depararem com o silêncio dos intrumentos. Tudo que foge ao normal, choca! Talvez por isso esse concerto tenha recebido tantas críticas.
Acho que é uma boa reflexão a se fazer. Sobretudo para nós, ocidentais, que estamos sempre em busca de ocupar cada vez mais o nosso tempo, o nosso pensamento, e nos habituamos aos ruídos de buzinas, freios de veículos, gritos, volumes altos e temos isso como "o natural". Às vezes é preciso exercitar o silêncio, seja da mente, das palavras, dos gestos para conseguir enxergar novos tipos de sons e visões. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Até as cortinas se fecharem



"Sabia que no teatro só atuam se existe no mínimo tantos espectadores quanto atores interpretando?"
Eu li essa frase em um livro escrito por um autor espanhol, catalão, intitulado Si tú me dices ven lo dejo todo... Pero dime ven. O próprio título já é um convite à reflexão, mas o trecho em que o protagonista falou sobre a necessidade que o ser humano tem de "atuar" para alguém me chamou mais atenção. Imagine a seguinte situação: um senhor de mais de 90 anos e um garotinho de 14, companheiros de quarto em um hospital à espera de serem levados para a mesa de cirurgia. O menino ia retirar as amídalas e o ancião um pulmão inteiro. O garoto, que estava acompanhado dos pais e dos avós, volta-se para o seu companheiro de quarto e pergunta quem o estava acompanhando. E a resposta foi ninguém. Afinal, aos 90 anos, grande parte dos "seus" já haviam partido...
Nesse momento, compadecido pela solidão do companheiro de quarto, o menino se comprometeu a esperar pela volta do senhor após a cirurgia e torcer por sua recuperação. E o idoso, agradecido, disse a frase com a qual iniciei o texto e prometeu "atuar" bem durante a cirurgia, pois, a partir daquele compromisso, o menino havia se tornado seu espectador.
Charles Chaplin, sabiamente, usou a mesma metáfora: "A vida é um palco de teatro que não admite ensaios. Por isso cante, chore, ria, antes que as cortinas se fechem e o espetáculo termine sem aplausos". Viver sem ter ao menos um espectador para quem atuar é de fato uma vida sem aplausos. Sem aplausos e sem as necessárias vaias que são o termômetro para sabermos quando estamos atuando mal. Só parece mesmo haver sentido em se esforçar para atuar cada vez melhor se no palco da vida houver um amor, um amigo, um pai, um filho, um irmão...Ao menos um deles que verdadeiramente se importe contigo.
Enfrentar o palco da vida sem ter ao menos uma pessoa com quem compartilhá-la, alguém para "voltar", parece solitário demais...É preciso ter alguém para quem interpretar, é o que nos impulsiona a melhorar, a estar são em todos os sentidos. Alguém para prestar atenção em suas "falas", avisar se a música está forte ou o timbre da voz alto demais. Ou se a peça está monótona e precisa de uma pitada de comédia, sorriso, ou chorar junto contigo quando estiver interpretando uma tragédia shakespeariana. Enfim, alguém para te acompanhar no palco da vida até as cortinas se fecharem...