"Sabia
que no teatro só atuam se existe no mínimo tantos espectadores
quanto atores interpretando?"
Eu
li essa frase em um livro escrito por um autor espanhol, catalão,
intitulado Si tú me dices
ven lo dejo todo... Pero dime ven. O
próprio título já é um convite à reflexão, mas o trecho em que
o protagonista falou sobre a necessidade que o ser humano tem de
"atuar" para alguém me chamou mais atenção. Imagine a
seguinte situação: um senhor de mais de 90 anos e um garotinho de
14, companheiros de quarto em um hospital à espera de serem levados
para a mesa de cirurgia. O menino ia retirar as amídalas e o ancião
um pulmão inteiro. O garoto, que estava acompanhado dos pais e dos
avós, volta-se para o seu companheiro de quarto e pergunta quem o
estava acompanhando. E a resposta foi ninguém. Afinal, aos 90 anos,
grande parte dos "seus" já haviam partido...
Nesse momento, compadecido pela
solidão do companheiro de quarto, o menino se comprometeu a esperar
pela volta do senhor após a cirurgia e torcer por sua recuperação.
E o idoso, agradecido, disse a frase com a qual iniciei o texto e
prometeu "atuar" bem durante a cirurgia, pois, a partir
daquele compromisso, o menino havia se tornado seu espectador.
Charles Chaplin, sabiamente, usou a
mesma metáfora: "A vida é um palco de teatro que não admite
ensaios. Por isso cante, chore, ria, antes que as cortinas se fechem
e o espetáculo termine sem aplausos". Viver sem ter ao menos um
espectador para quem atuar é de fato uma vida sem aplausos. Sem
aplausos e sem as necessárias vaias que são o termômetro para
sabermos quando estamos atuando mal. Só parece mesmo haver sentido
em se esforçar para atuar cada vez melhor se no palco da vida houver
um amor, um amigo, um pai, um filho, um irmão...Ao menos um deles
que verdadeiramente se importe contigo.
Enfrentar o palco da vida sem ter ao
menos uma pessoa com quem compartilhá-la, alguém para "voltar",
parece solitário demais...É preciso ter alguém para quem
interpretar, é o que nos impulsiona a melhorar, a estar são em
todos os sentidos. Alguém para prestar atenção em suas "falas",
avisar se a música está forte ou o timbre da voz alto demais. Ou se
a peça está monótona e precisa de uma pitada de comédia, sorriso,
ou chorar junto contigo quando estiver interpretando uma tragédia
shakespeariana. Enfim, alguém para te acompanhar no palco da vida
até as cortinas se fecharem...
Nenhum comentário:
Postar um comentário