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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

terça-feira, 26 de março de 2013

Para o Joãozinho do "SE"



Hoje eu estava caminhando e ouvindo música, quando escutei “Bambino” de Ernesto Nazareth e José Miguel Wisnik, cantado pela diva Elza Soares. Então veio aquela voz forte entoando: “... E se a brisa soprar/E se ventar a favor/E se o fogo pegar/Quem vai se queimar/De gozo e de dor/E se for pra chorar/E se for ou não for/Vou contigo dançar/E sempre te amar amor/E se o mundo cair/E se o céu despencar/Se rolar vendaval/Temporal carnaval/E se as águas correrem/Pro bem e pro mal ...”

Então, me lembrei do meu bambino, sempre a rechear suas indagações com SE... É mais ou menos assim: – Filho, vamos sair! Mãe, e se o carro quebrar? – Vamos viajar? – E se o dinheiro acabar? Vamos mudar de casa! – E se for ruim por lá? Se você tiver outro filho, vai gostar mais dele do que de mim? E se você demorar? E se a comida acabar? E se o brinquedo quebrar? E se eu me machucar? E se o sol terminar? E se o mar acabar? E se eu não gostar?

Quando Deus nos dá esses serzinhos maravilhosos para guiar não dá junto as respostas, a gente vai aprendendo com eles. Mal sabem os bambinos que a nossa vida também é recheada de SE. Se não der para pagar? Se não der pra ficar, ou pra ir? Se não conseguir continuar? Se não puder te agradar? Se não conseguir lembrar ou esquecer? Se eu não puder estar, participar ou até mesmo se eu não puder sorrir, como será?

Como será? Como será? Sei lá! Mãe não tem todas as respostas... Só de uma coisa eu tenho certeza, Joãozinho do "SE": Pode o brinquedo quebrar, você não gostar, a vida te machucar e até o mundo acabar, mamãe está aqui e pra sempre, sempre, sempre vai te amar!!!!!!

"Bambino"

E se o ferro ferir
E se a dor perfumar
Um pé de manacá
Que eu sei existir
Em algum lugar

E se eu te machucar
Sem querer atingir
E também magoar
O seio mais lindo que há

E se a brisa soprar
E se ventar a favor
E se o fogo pegar
Quem vai se queimar
De gozo e de dor

E se for pra chorar
E se for ou não for
Vou contigo dançar
E sempre te amar amor

E se o mundo cair
E se o céu despencar
Se rolar vendaval
Temporal carnaval
E se as águas correrem
Pro bem e pro mal

Quando o sol ressurgir
Quando o dia raiar
É menino e menina
Bambino, bambina
Pra quem tem que dar
No final do final

E se a noite pedir
E se a chama apagar
E se tudo dormir
O escuro cobrir
Ninguém mais ficar

Se for pra chorar
E uma rosa se abrir
Pirilampo luzir
Brilhar e sumir no ar

Se tudo falir
O mar acabar
E se eu nunca pagar
O quanto pedi
Pra você me dar

E se a sorte sorrir
O infinito deixar
Vou seguindo seguir
E quero teus lábios beijar  

sexta-feira, 15 de março de 2013

Viver pode ser mais simples



Outro dia desses li uma matéria em uma revista sobre um missionário americano que viveu 25 anos na Floresta Amazônica e estudou a fala da tribo Pirahãs. Segundo ele, é o idioma mais enxuto e simples já conhecido. Não há números, nem nomes para as cores e para os Pirahãs só importa o presente, eles não usam os tempos verbais. Também não formam orações subordinadas.

Outra característica curiosa dessa tribo é o fato de seus membros não acreditarem em nada que eles não possam ver, sentir ou que não possa ser provado ou presenciado. Por esse motivo a tribo não acredita em espírito supremo ou divindade criadora, apenas em espíritos menores que às vezes tomam a forma de coisas no ambiente e que a terra e o céu sempre existiram, ninguém os criou. 

A maneira de pensar dos Pirahãs em relação ao começo do mundo e à sua própria origem também explica o porquê de não usarem passado ou futuro: para eles tudo é o mesmo, as coisas sempre são. Ao que tudo indica, o sistema lingüístico dessa tribo acabou determinando o seu modo de vida e o  conteúdo do seu pensamento: simplicidade.

É mesmo uma maneira bastante simples de enxergar as coisas, principalmente se compararmos ao estilo de vida da sociedade atual onde parece que o tempo onde menos se vive é o presente: trabalhamos para ter dinheiro e cuidar da saúde só no futuro, para viajar quem sabe um dia, para ter tempo quando nos aposentarmos.  No hoje, cultivamos os traumas do passado, para quem sabe no futuro nos tornamos pessoas melhores. Quando não são os traumas do passado, alimentamos ansiedades e expectativas em relação ao que poderíamos ser,  ao que poderíamos ter, a quem poderia estar ao nosso lado e nos esquecemos do que somos, temos e de quem realmente está ao nosso lado.

Dizer que as coisas sempre são, como pregam os Pirahãs, me parece sábio e razoável. Não que a gente deva se conformar e não batalhar por melhorias em todos os campos, mas conseguir viver bem no tempo presente, um dia após o outro, talvez ajude a minimizar expectativas e ansiedades e a corrigir os erros do passado para que eles permaneçam onde têm que estar, bem enterrados e superados. É claro que também não dá para deixar de levar em conta toda a complexidade da vida moderna, bem diferente da vida pacata dos Pirahãs, mas guardadas as devidas proporções, talvez eles tenham razão, as coisas são e devemos mesmo é nos preocupar com o presente. Fácil? De jeito nenhum, mas quem disse que viver é fácil?

quarta-feira, 6 de março de 2013

Dona Geraldina


"E a vida continua"... A dona dessa frase a vivência todos os dias, verdadeiramente. Da parte que me cabe como testemunha ocular, são 38 anos. Para ela, a vida continua mesmo se falta dinheiro, se morrem uma filha, o marido e irmãos. A vida continua mesmo que lhe falte força nas pernas, que lhe faltem a visão, a audição, a fala, os companheiros contemporâneos... Mas enquanto não lhe faltar vida, ela continua, sempre grata pelo seu dom. Afinal, diz a sabedoria que a gente dá a dimensão que quer para os nossos problemas.
Para a dona dessa frase, a vida continua sempre cheia de planos e otimismo. Enquanto houver vida, amanhã as coisas podem melhorar, a dor pode passar, a saudade ser aplacada, o tempo agir e curar. Afinal é isso mesmo, não? Quem pode ter controle da felicidade? Se ela vem hoje, melhor abraçá-la, aceitá-la, vivenciá-la intensamente! Cuidar dessa moça (a felicidade) bem direitinho, para que ela possa bater mais vezes à nossa porta.
Porque outros "hojes" virão cheios de mudança: gente nasce e morre, dinheiro vai e vem, a saúde desanima, porque afinal a gente muitas vezes só se lembra dela quando ela já se cansou de não ser lembrada. Talvez seja melhor mesmo fazer como a dona dessa frase e se concentrar nas coisas boas que a vida te dá, antes que ela te tome...
A vida continua com força, alegria e perseverança para Dona Geraldina, que acabou de completar 100 anos. Depois de tanto tempo é mesmo normal que já não precise ver através dos olhos para enxergar a presença da filha, das netas, do bisneto, do genro, dos sobrinhos e de tantos amigos conquistados. Nem mesmo conseguir ouvir as lamentações dos entes queridos para ter forças e segurar firme nas contas do seu velho tercinho pedindo por cada um deles em suas intermináveis orações. Muito menos braços e pernas fortes, porque de tanto se movimentarem durante a sua vida em prol dos outros, hoje são muitas as pernas e braços que podem lhe apoiar.
A vida continua... Querida vozinha! Obrigada pela honra de fazer parte dela!