Quem eu sou

Minha foto
Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quem disse que viver é fácil?

Sempre aprendi que paciência é uma virtude. Passei grande parte da minha vida tentando exercitá-la e sendo lembrada de que deveria praticá-la ainda mais: "Minha filha, tenha mais paciência com sua irmãzinha, ela é só um bebê...", "Tenha mais paciência, um dia você vai aprender...", "Tenha mais paciência com fulano, ele é assim mesmo...", " Tenha mais paciência que um dia você vai gostar do seu emprego", enfim...

Até que um dia comecei a ouvir reiterados "nossa, eu não teria tanta paciência", "meu Deus, como você é paciente"... E achei que enfim estava chegando lá, conseguindo efetivamente exercitar alguma virtude em meio a tantos fatores que nos empurram, derrubam e fazem com que a gente mande a educação e as virtudes às favas.

Estaria tudo lindo e feliz se eu não começasse a analisar o ponto negativo do excesso de paciência. Como se perde tempo e energia se o foco da sua paciência é uma pessoa errada, uma situação errada, um curso que efetivamente você não consegue assimilar, uma profissão que você não gosta e não te remunera bem, um fulano que nada te acrescenta, um parceiro (a) que te faz infeliz... Como tudo em excesso é prejudicial, talvez até mesmo a paciência exacerbada seja uma "anti-virtude"...

O bom mesmo seria ter mais paciência com as pessoas e situações certas e menos com as erradas: nova proposta de vida. Pais, mães, irmãos, amigos verdadeiros, nossos filhos geralmente merecem mais paciência. Às vezes gastamos a maior parte dela com pessoas erradas e deixamos para eles a menor porção. Dosar isso é tão difícil, não? Daí, para corroborar minha reflexão sobre ser o excesso de paciência uma "anti-virtude" vem nada mais, nada menos que Carlos Drummond de Andrade e diz: "Não é fácil ter paciência diante dos que têm excesso de paciência". Ou seja, o excesso de paciência ainda por cima irrita, tremendamente!!!

Equilíbrio é a maneira ideal de se viver bem, cada dia mais me convenço disso. Perder a paciência no momento certo faz parte de uma vida equilibrada. Explodir no momento certo e acima de tudo com a pessoa certa impede injustiças com seu corpo e com outros que nada têm a ver com o problema. Não é solução ter paciência com um fato que te incomoda se no fim das contas vai adquirir uma úlcera. Não é solução ter paciência com o tal fulano que sempre te trata mal e chegar em casa irritado (a), descontando na pobre da sua mãe, ou do seu filho ou marido ou esposa, qualquer "da vez" que surja na hora errada. Melhor é despejar naquele que causou a angústia, a irritação, não é verdade?

Há momentos em que perder a paciência é totalmente inútil... Vale mais respirar fundo e esquecer efetivamente esquecer. O mundo precisa realmente de boa convivência, gentileza, educação e mais paciência uns com os outros. Vive-se bem quando se sabe dosar isso, dar o devido peso e importância para os fatos e pessoas, respeitar o próximo, mas também nossos próprios limites. A gente chega lá... Quem disse que viver é fácil?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mil e Uma Mulheres de Chico


Na semana passada, fui ao show da cantora e compositora Teresa Cristina pelo projeto "Encantadoras", no Teatro Oi Brasília. Ela é realmente um espetáculo de talento e simpatia...
Um momento do show me chamou, particularmente, a atenção. Teresa entrou no palco com plumas ao redor de seu decote e um tom de sensualidade que envolveu todos os seus sentidos. Não só cantou, mas incorporou uma das tantas musas de Chico Buarque - Lily Braun. Ao final da música, ela desabafou algo mais ou menos assim: "Nem sempre dá pra ser uma mulher de Chico Buarque. Como é bom poder ser uma delas ao menos por 15 minutos ".
Parei para pensar... Chico Buarque já retratou muitas mulheres em suas composições e literatura lindas, feias, pobres, ricas, corajosas, submissas, loucas, ousadas e, talvez, ainda que por 15 minutos, deixemos extravasar algumas delas, ou todas elas. Certamente somos muitas delas ...
Quem nunca foi uma Lily Braun: " Como num romance /O homem dos meus sonhos/Me apareceu no dancing/Era mais um/Só que num relance/Os seus olhos me chuparam/Feito um zoom..."
Quem nunca se sentiu uma Rita, levando o sorriso de alguém... matando o amor... deixando mudo um violão?
Qual de nós nunca teve os olhos fundos de dor de Carolina ou a ingenuidade materna, parte de não saber e parte de não querer saber sobre "nosso guri", seja ele um filho, parceiro, amigo, ou você mesmo... Acreditar na falsa verdade por não suportar a realidade de todas as mentiras e acolher com orgulho: "Olha aí... é o meu guri".
Quem nunca teve seus quinze minutos de Geni? De sentir-se maltrapilha, injustiçada, valendo pouco ou nada, por todos julgada e apedrejada? E mais outros tantos tempos da garra das mulheres de Atenas...
E qual de nós, vez por outra, não gosta de ser cuidada, protegida e acalentada como uma das meninas de Chico... Ter alguém que chegue, te abrace e diga que vai ficar tudo bem, ainda que você saiba que ele não pode fazer nada por você..." Pode o tempo marcar seus caminhos nas faces/com as linhas das noites de não/E a solidão maltratar as meninas/as minhas não..."
Cada uma tem um pouco da tristeza de Tereza e um dia de Januária na janela, que não se dá conta de sua graça tão singela... Tem o eterno amor de Yolanda e pode provocar chamas em um coração, como uma Divina Dama.
Louco é saber que somos muitas em uma só: Lily, Geni, Januária, Rita, Carolina... Depende do dia, depende do humor, de hormônios...Depende da companhia e da solidão, às vezes necessária, outras imperativa, mas que sempre faz refletir...Fico me perguntando se ele enxerga todas elas em nós... Na verdade, acho que nem mesmo nós as enxergamos, simplesmente somos "Mil e Uma Mulheres de Chico".

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Afinidade...


Existe um texto, entre tantos bons, do Arthur da Távola que eu não me canso de ler e reler tamanha é a  sensibilidade do autor. Ele fala lindamente sobre afinidade. Definir sentimentos é algo quase impossível, mas o que ele fala sobre o que acredita ser a afinidade faz todo o sentido para mim. Um trecho que gosto muito é quando diz :" Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento."
Você primeiro aceita e depois vai em busca do porquê... Como é difícil isso quando a nossa atitude imediata, quase sempre, é questionar e nem mesmo procurar entender o outro lado, é julgar e se colocar superior, é impor nossas condutas como sendo as certas. Por isso talvez ter afinidade com alguém não seja assim tão fácil, tão simples de ser encontrado, virando a esquina, como pensamos... Talvez seja mesmo muito mais complexo do que simplesmente gostar dos mesmos filmes, livros, comidas, músicas, paraísos exóticos... Talvez seja algo mais próximo mesmo do querer comum, do saber exercitar o amor comum, algo mais relacionado ao que se sente e menos ao palpável... Talvez você só consiga atingir esse nível de afinidade quando amar muito esse afim... Embora consiga amar muitas pessoas com as quais não tenha a mínima afinidade...
É claro que tem a afinidade mais rasa. Como diria Arthur da Távola "... A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele. Independente dele. A quilômetros de distância. Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar..." Porém ter as duas coisas com alguém: amor e afinidade é quase assim como pipoca e cinema (meu filho diria pipoca e M&Ms), cerveja e praia, chocolate e TPM, chuva e edredom, querer beijar na boca e ter quem beijar, ou seja, combinação perfeita. Você gosta de estar junto e falar um monte de besteiras ou simplesmente não falar nada e ser totalmente entendido, bastando um olhar.
Pessoas com intensa afinidade pensam o mesmo sobre coisas que importam na vida. Então não é preciso dar tantas explicações e nem mesmo se achar ridículo se você chora demais, ri demais, sofre demais, celebra pequenas conquistas com a motivação de um "oscar"... A paciência do afim parece ter validade estendida e flexibilidade de ginasta.
Afinidade de pele é ótimo também, mas quando se juntam as três coisas: pele, amor, afinidade... Explosão de sentidos! Olhares se encontram e substituem palavras, sente-se o gosto do toque, o calor do abraço, o cheiro da pele, tudo de uma vez, um de cada vez... E você consegue fazer isso só no pensamento, se for preciso, tamanha afinidade. Se encontrar algo assim, não deixe escapar, porque como diz Arthur da Távola "... É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro".