O texto é antigo. Mas por ocasião dos 70 anos de Chico Buarque segue a homenagem de quem é muito fã do artista.
Outro dia desses fui assistir ao show da cantora e compositora Teresa Cristina aqui em Brasília, um espetáculo de talento e simpatia. E um momento do espetáculo me chamou, particularmente, a atenção. Teresa entrou no palco com plumas ao redor de seu decote e um tom de sensualidade que envolveu todos os seus sentidos. Não só cantou, mas incorporou uma das tantas musas de Chico Buarque – Lily Braun. Ao final da música, ela desabafou algo mais ou menos assim: “Nem sempre dá pra ser uma mulher de Chico Buarque.Como é bom poder ser uma delas ao menos por 15 minutos “.
Parei para pensar… Chico Buarque já retratou muitas mulheres em suas composições e literatura lindas, feias, pobres, ricas, corajosas, submissas, loucas, ousadas e, talvez, ainda que por 15 minutos, deixemos extravasar algumas delas, ou todas elas. Certamente somos muitas delas …
Quem nunca foi uma Lily Braun: “Como num romance /O homem dos meus sonhos/Me apareceu no dancing/Era mais um/Só que num relance/Os seus olhos me chuparam/Feito um zoom…”
Quem nunca se sentiu uma Rita, levando o sorriso de alguém… Matando o amor… Deixando mudo um violão?
Qual de nós nunca teve os olhos fundos de dor de Carolina ou a ingenuidade materna, parte de não saber e parte de não querer saber sobre “nosso guri”, seja ele um filho, parceiro, amigo, ou você mesmo… Acreditar na falsa verdade por não suportar a realidade de todas as mentiras e acolher com orgulho: “Olha aí… é o meu guri”.
Quem nunca teve seus quinze minutos de Geni? De sentir-se maltrapilha, injustiçada, valendo pouco ou nada, por todos julgada e apedrejada? E mais outros tantos tempos da garra das mulheres de Atenas.
E qual de nós, vez por outra, não gosta de ser cuidada, protegida e acalentada como uma das meninas de Chico… Ter alguém que chegue, te abrace e diga que vai ficar tudo bem, ainda que você saiba que ele não pode fazer nada por você…”Pode o tempo marcar seus caminhos nas faces/com as linhas das noites de não/E a solidão maltratar as meninas/as minhas não…”
Cada uma tem um pouco da tristeza de Tereza e um dia de Januária na janela, que não se dá conta de sua graça tão singela… Tem o eterno amor de Yolanda e pode provocar chamas em um coração, como uma Divina Dama.
Louco é saber que somos muitas em uma só: Lily, Geni, Januária, Rita, Carolina… Depende do dia, depende do humor, de hormônios…Depende da companhia e da solidão, às vezes necessária, outras imperativa, mas que sempre faz refletir…Fico me perguntando se ele enxerga todas elas em nós… Na verdade, acho que nem mesmo nós as enxergamos, simplesmente somos “Mil e Uma Mulheres de Chico”.