Quem eu sou

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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A vida tem sempre razão...

Mais um ano que se vai...A cidade iluminada com motivos natalinos... E um monte de gente com o coração voltado pra desejos disso ou daquilo: saúde, paz, prosperidade, realizações etc...Seria realmente muito bom se todos tivéssemos nossos corações voltados para votos positivos durante o ano todo, mas não posso deixar de admitir que é melhor do que nada. Então pensei no que eu poderia desejar este ano, além é claro do que realmente importa: felicidade, paz, saúde, amor, proteção divina etc... E decidi desejar a nós todos paciência e sabedoria para entendermos que, como dizem os poetas Vinícius e Toquinho, "...a vida tem sempre razão..."
Ter esse entendimento, na minha humilde avaliação, traz todo o resto. Por isso eu desejo de todo coração que prestemos atenção nos sinais da vida. Se a vida nos disser não vá, é melhor não ir, não adianta insistir porque vamos nos estrepar. A gente costuma fingir que não entendeu, fingir que não viu ou ouviu e mentir pra nós mesmos... Não adianta! Tem paz quem respeita os limites da vida e seus próprios limites; saúde quem, na maioria das vezes, cuida de seu corpo, porque contra as fatalidades não podemos lutar; realização tem aquele que vai em busca dela e daí quando a vida diz : "não é agora, mas lute pra que seja num futuro próximo" e a gente entende e aceita, ganhamos sabedoria, humildade, perseverança...
Proteção divina nos foi ofertada com a vida... mas é sempre bom lembrar de cuidar um pouco da alma, do espírito, porque junto com a proteção divina também nos foi ofertado o livre arbítrio. Então é preciso saber o que pedimos, pensar antes de escolher nossos caminhos e parar de jogar a culpa em Deus quando algo deu errado nitidamente por causa de nossas más escolhas. Então, toda vez que a gente souber tirar ensinamentos dos tropeços que a vida nos presentear, estaremos recebendo muito mais bençãos e nos tornando muito mais fortes...
Ela nos testa o tempo todo, mas o bom é que cada uma errada não anula necessariamente uma certa. Ao contrário, às vezes é mesmo preciso errar para achar a resposta.
Desejo então que a gente pare de brigar com a vida, porque ela sempre tem razão!!!! Vai nos cobrar quando falharmos, mas quase sempre nos dará a chance de renovar... refazer... ou ao menos nos resignar e não fazer de novo. Quanto mais soubermos entender isso, mais teremos felicidade, mais saberemos amar e mais amor vamos receber...
É isso que desejo para todos nós, de todo o coração!!!!
Feliz Natal e um lindo Ano Novo

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Recomeçar

Quantas vezes a vida nos dá a chance de recomeçar? A cada nascer do sol, a cada findar do dia...a cada segundo que nos sentimos fortes e temos a coragem de enfrentá-la. Acordar, dormir, respirar e conseguir dizer para ela: hoje eu posso mais. Porque como diz Guimarães Rosa: o que ela (a vida) quer da gente é coragem.

E para recomeçar é preciso mesmo muita coragem, seja lá o que for... Recomeçar a trabalhar, a amar, a caminhar, a viver uma vida a dois, a viver sem o "dois" da sua vida, a viver sem amadas presenças, a viver com difíceis lembranças... Enfim, há recomeços mais difíceis do que outros, mas todos exigem coragem.

Tendo coragem a vida nos surpreende — um belo dia você se depara recebendo uma promoção no novo trabalho, encontrando um novo amor, conseguindo falar sorrindo sobre a pessoa que partiu e se esquecendo da difícil lembrança... mas sem recomeçar nada disso é possível.

Por isso é preciso exercitar o recomeçar, a cada segundo, mais e mais... Porque cada recomeço é um começo mais perfeito que o anterior. Ainda que não seja melhor, é mais perfeito porque já houve uma tentativa e coragem é acima de tudo tentar.

Tente recomeçar a sorrir depois de uma derrota, a abraçar depois de um desentendimento, a perdoar depois de um tropeço, porque, ali mais adiante, o tropeço será seu e muita gente vai recomeçar a entender os seus motivos, a esquecer as suas fraquezas, de novo e de novo e de novo.
Sempre há tempo de recomeçar, porque a gente só deixa de recomeçar quando termina a vida. E para os que acreditam em outras vidas, nem assim deixamos de recomeçar...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Para Lili...

... uma amiga muito amada que se foi...




Se ela fosse uma flor, seria um girassol a flor do sol. Imponente e de porte majestoso, além de bonito, o girassol é muito útil, aproveita-se desde as sementes até as flores e os ramos. No jardim, ele brilha majestosamente, exibindo sua intrigante rotação, sempre voltado para o sol.

É assim a nossa Liliane, um lindo girassol que sempre trouxe brilho a nossas vidas. Um sorriso gigante, do tamanho do seu coração e generosidade. Ajudar sempre foi sua grande preocupação: crianças, idosos, parentes, amigos, animais - quem estivesse precisando, tivesse rosto conhecido ou não.

Assim como o Girassol, que tem a raiz profunda, Lili está enraizada em nossas vidas, em nossas lembranças... Brindou-nos sempre com sua amizade, carinho e dedicação e agora está iluminando outros jardins, além dos nossos, porque o amor permanece...

Amizade a gente escolhe, você nos escolheu... Sempre nos encantou com sua doçura, meiguice, sempre foi para todas nós exemplo de integridade, caráter, sensibilidade e humanidade. Onde você estiver, querida amiga, sabemos que está voltada para o sol!!!!

Como disse o poeta Fernando Pessoa: "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

terça-feira, 23 de novembro de 2010

POLITICAMENTE CORRETO É O CACETE!!!

Peço licença aos nossos seguidores e leitores para postar um texto muito interessante que recebi recentemente por e-mail. Não conheço o autor, mas compartilho da sua indignação. Aí vai....


Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.  Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada". 

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.  Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/  Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é  Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém  mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual,  Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato,  era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de xingar a mãe do juiz e o centroavante pereba tomar naquele lugar, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova,  aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá,  já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do Pé Junto.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Festa do intelecto

Um amigo muito querido me deu uma sugestão: lembrar o poeta Waly Salomão. Ele foi Secretário Nacional do Livro do Ministério da Cultura e tomou posse cantando, sugerindo uma gestão promissora pautada pelo sonho, pela catimba e pela bandeira da imaginação no poder. Infelizmente já está no andar de cima... Artista completo — compositor, diretor musical, performer, artista plástico, editor, videomaker, ator e, acima de tudo, poeta — defendia que "o poema deve ser uma festa do intelecto". Perguntava e se respondia: "O que é que você quer ser quando crescer? —Poeta polifônico." Ou seja, sair do verso melódico, aquele poema composto por uma ideia que se sucede linha a linha do início ao fim, para chegar ao verso polifônico, uma sucessão de ideias que se sobrepõem, às vezes se opõem, sem a necessidade de chegar à conclusão alguma. Versos cheios de vozes, livres...

A sugestão desse meu amigo veio a calhar e diria até que foi um sopro de inspiração, pois há alguns dias eu vinha pensando em escrever algo sobre intensidade. Na verdade, sobre a benção de poder desfrutar a arte de pessoas intensas, muitas vezes taxadas de loucas... Pessoas desconfiadas e estridentes, que buscam algo fora da linearidade da vida, escapes, raciocínios desconectados, como nos versos de Waly.

Como é bom ouvir uma música, dançar e repetir seus versos, como se ela fosse feita para ti. Obrigada Chico Buarque, Vinícius, Caetano e tantos outros por emprestarem um pouco de sua insanidade e intensidade. Como é bom ir ao cinema assistir ao filme "A Suprema felicidade" de Arnaldo Jabor e durante a projeção ouvir o personagem de Marcos Nanini, um show de interpretação, dizer "...ninguém é feliz, com sorte a gente é alegre. A vida gosta de quem gosta dela". Eu gostaria de ter escrito isso... bateu uma pontinha de inveja.

E intensidade e espontaneidade não moram só nas mentes de seres brilhantes como essas que citei, a gente encontra direto ao nosso lado... Uma amiga baiana tira o miolo do pão para esfregar naquela gordurinha que fica no fundo da panela após fritarmos um bife e come gemendo... Outro amigo recita poesias em plena madrugada para uma total estranha, porque viu brilho em seus olhos... Mais um que posso citar sai durante um temporal conclamando os vizinhos a participar do espetáculo de ter os pés no chão, o rosto molhado e a alma lavada. Há os que param para observar a lua da laje do apartamento de pijamas e quem sabe retirar o pijama... E os que cantam História de Uma Gata, abraçados, ao final de uma samba, para celebrar a amizade...

Nesta vida há espaço pra tudo, é claro que exige muita seriedade, mas nem sempre precisa ser linear, monofônica... Afinal, não só o poema deve ser uma "festa do intelecto" — a vida, sempre que possível também !!!!
Um pouquinho de Waly Salomão:

"O que menos quero pro meu dia
polidez,boas maneiras.
Por certo,
               um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido.
Quando nasci, nasci nu,
ignaro da colocação correta dos dois pontos,
do ponto e vírgula,
e, principalmente, das reticências.
(Como toda gente, aliás...)"

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Diabético em loja de doces


Já se imaginou em uma loja de doces, aqueles não só deliciosos, mas dignos de confeitarias de Paris, sem poder prová-los? Você saliva de desejo, sua frio, seus sentidos voltam-se para uma sensação ausente — a do algo saciado, pois você simplesmente não pode. E a vontade cresce, quanto mais você imagina e deseja provar, mais te parece delicioso.... O imaginário cria forma, sabor, consistência e cheiro... Você pode sentir o cheiro do objeto do seu desejo a quilômetros de distância. Você quase pode falar com ele. Sonhar então...

Várias vezes a vida nos coloca em situações que nos tornam diabéticos em loja de doces. Basta querer e não poder que a temperatura sobe...Uma amiga curvou-se diante de um abraço — quente, frio, acalentador, abarrotador, apertaaaaadoooo, daqueles que sufocam e disparam o coração. Braços, mãos e dedos, uma aliança no dedo... e pronto — lá foi ela para a loja de doces sem poder comê-los. Um amigo derreteu-se por um par de olhos, sim, não foi um par de pernas. Pernas te prendem, mas um olhar te penetra... te desvenda...E esse olhar o cativou. Podia vê-lo onde estivesse, senti-lo, até se imaginava tocando os olhos da moça — portais para o seu olhar. Mas ele a viu uma única vez, perdida ou encontrada em uma multidão. Viu seu olhar uma única e solitária vez...e pronto: tornou-se um diabético em loja de doces.

Fosse o moço solteiro e a moça tivesse endereço certo despertariam-se assim todos os sentidos? Acordariam os monstros do desejo já estrategicamente neutralizados pela comodidade de pisar em terreno conhecido?

Por que o não poder provar aguça tanto nossa vontade? Pela simples curiosidade? Ou por se ter a certeza do nunca se concretizar? E se te aguças por algo que não terás, ainda que acordados, os monstros do desejo mantém-se sob controle... Risco calculado ou talvez até um não risco...
Sei não... o ser humano é muito doido... Se se curasse o diabético, talvez ele nem gostasse de chocolate...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desequilibrar, cair e levantar

Assisti ao filme Comer rezar e amar, adaptação ao cinema do best-seller autobiográfico de Elizabeth Gilbert. Eu li o livro há uns dois anos e gostei muito. Mas a crítica do filme não foi muito boa. E eu devo concordar pareceu mais uma comédia romântica "hollywoodiana". Infelizmente, deu-se muito pouca atenção às reflexões da autora atendo-se mais às paisagens, sem contar com a catástrofe de se colocar um ator espanhol atuando como se fosse um brasileiro. Mas como sempre em tudo há coisas boas, na minha humilde opinião, a última frase do xamã Kitut salvou o filme.

A autora fez uma viagem de um ano em busca do autoconhecimento e equilíbrio e, em Bali, deparou-se com o amor de um brasileiro. Com medo de colocar todo esse equilíbrio a perder, ela termina o relacionamento quando ele propõe que mesmo à distancia eles continuem juntos (tudo isso de uma forma bem romântica que não cabe descrever aqui). Ao relatar para Kitut que havia terminado o relacionamento com o brasileiro justamente para não ter todo esse equilíbrio abalado, o xamã responde algo mais ou menos assim: "Perder o equilíbrio por amor faz parte de uma vida equilibrada". Saí do filme pensando nisso...

O medo às vezes domina nossas vidas. Alguns tipos de medo eu posso entender e compartilhar: medo da violência, medo da morte, medo da solidão, medo da perda... mas medo de amar? Medo de perder o equilíbrio por amor? Parece louco, insano, totalmente anormal, mas conheço um monte de gente assim e nem sempre temos um Kitut na vida para nos alertar.

Na verdade, não é propriamente do amor que a gente tem medo e sim do estrago que ele faz quando se acaba ou não é correspondido. Então a solução parece ser "não se entregar", "frear o tempo todo" ou arranjar milhões de desculpas para si mesmo, enviando comandos destrutivos como: ela (e) fala alto demais, não ia dar certo, ela (e) é magro (a) demais, mora longe demais, é bonito (a) demais ou tudo isso de menos... desculpas não faltam para se justificar o "cair fora" antes que eu me apegue demais...

Novamente, na minha humilde opinião, acho que viver é confrontar experiências e não fugir delas. E você sai vencedor sempre e quando tenta com toda sua alma não importa se não for correspondido ou se for apenas por um tempo e depois precisar juntar todos os caquinhos. Fez a sua parte, o seu 100%. Ainda que seu total empenho corresponda a 60%, o importante é que fez. Venceu porque encarou. Talvez por isso seja preciso desequilibrar para ter uma vida equilibrada, descer para depois subir, perder para saborear com mais gosto a vitória, chorar para valorizar pequenos sorrisos. Isso é realmente viver com qualidade, tirar lições de tudo e somente errando é possível aprender. E melhor que seja a dois...

Uma psicologa uma vez me disse que a melhor maneira de evoluir é dentro de um relacionamento homem/mulher. São duas pessoas diferentes, criadas de maneiras diferentes, que precisam estar num mesmo espaço e se descobrir numa vida comum. Imagine quantos passos errados damos num relacionamento... É mais fácil, com certeza, não tê-los, pois seriam menores os conflitos. Por outro lado perdem-se também os benefícios de uma vida a dois e o consequente crescimento que os relacionamentos proporcionam.

A autora do livro e protagonista do filme escolheu perder o equilíbrio e até onde eu sei tem dado certo, continuam juntos... não sei se felizes para sempre, mas com certeza aprendendo muito um com o outro.... Enfim, seja qual for a opção estar só ou estar num relacionamento que seja realmente por opção e não por medo, para que a gente possa ter as rédeas da nossa vida, de nossas escolhas e achar cada um o seu próprio equilíbrio. Porque a vida é isso: desequilibrar, cair e levantar!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

LIVRAI-NOS DA CORRERIA NOSSA DE CADA DIA

Dedico esse texto aos meus colegas e a todas as pessoas que sofrem pra chegar todos os dias a tempo para mais um dia de trabalho.


Às vezes tenho inveja das pessoas que ganham bem e trabalham somente meio período. Porém, não é inveja no sentido ruim, de querer o emprego de alguém, mas gostaria de também ter esse privilégio. Gostaria de acordar e tomar meu café calmamente, conversar com meu filho, ver se ele tomou seu nescau, acompanhá-lo em seu dever de casa. Gostaria de ter tempo para fazer uma caminhada no parque da cidade, tomar uma boa chuveirada e poder almoçar calmamente, sem ter que apressar a comida, sem ter que apressar meu filho em seu banho, sem ter que contar os minutos até para ir ao banheiro.
Fico me perguntando porque as empresas têm obsessão pelo turno de OITO horas. Será que trabalhar mais significa maior produtividade? Tenho sérias dúvidas se a empresa que faz seus funcionários baterem ponto sem flexibilidade tem realmente preocupação com a saúde física e mental do seu maior bem: os próprios funcionários.
Como trabalharíamos melhor se tivéssemos que nos preocupar menos com o relógio! Comeríamos bem, faríamos mais atividade física, estaríamos mais descansados  e, assim, poderíamos produzir mais e melhor. De que adianta gastar tempo e dinheiro organizando a Semana de Qualidade de Vida, se a empresa não se importa com o dia a dia do funcionário? Não sou contra o ponto eletrônico, sou contra a ditadura do relógio! Essa ditadura que pune o funcionário que se atrasou porque teve que descer do carro para conversar com a professora do seu filho, porque teve que parar no posto de gasolina para abastecer ou porque quis, simplesmente, ficar 5 minutos a mais na mesa para fazer a digestão.
Faço couro com aqueles que desejam a mudança imediata desse ritmo de vida frenético e estressante imposto por alguma empresas.
Feliz daquele que pode planejar o seu dia sem ficar refém do ponto eletrônico!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vazio ao lado

Na semana passada assisti a uma peça de teatro chamada "A Carne do Mundo". O espetáculo é denso, com recursos da psicanálise e da literatura, e tem a proposta de discutir as perversões presentes no dia-a-dia das relações amorosas. E o que mais me chamou a atenção foram os diálogos. Lamentei, mais uma vez, não ter onde anotar algumas frases que me impactaram.

Em algum momento da peça, um deles (do casal) levantou a questão do vazio ao lado: como é conflitante conviver diariamente com uma pessoa, dormir na mesma cama, compartilhar seu corpo, sua rotina e não ter a menor ideia do que se passa na mente e na alma do seu companheiro(a). Ao menos essa foi a minha leitura do que pode ser o vazio ao lado. E isso vale não só para o seu companheiro(a), mas para o colega de trabalho ao lado, mãe, pai, filho(a), vizinho(a), seus empregados(as), enfim...

É muito difícil transpor a obviedade da rotina e penetrar no universo alheio... Ou seja, se ela(e) está comendo, bebendo, trabalhando, logo, está feliz. Será? Talvez você não se pergunte porque te doa muito saber... Mais fácil então manter-se numa zona de conforto, que reforça a solidão acompanhada — não sei o que te incomoda, não sei o que você gosta, não sei o que você quer, não sei o que você sente. A gente vive mesmo é se cercando de justificativas que nos impedem de avaliar o quão ausente somos na vida alheia. E se a consciência não pesa — não ligo porque ele(a) não liga, não pergunto porque ele(a) é fechado(a), não abraço porque ele(a) não gosta — a gente segue achando que está oferecendo o melhor de si.

E é uma via de mão dupla. Você acaba se tornando tão bom em não perguntar e não responder que, dependendo do tempo que permaneça nesse jogo, descobre que já nem sabe mais o que esconder: um dia você acorda e já não sabe mais o que você gosta, o que você quer, quem é você. Doido o ser humano, não? Como a gente complica onde não deveria existir complicação...

Li um trecho de uma crônica da Marta Medeiros, referindo-se a relacionamentos amorosos, e finalizo com ele para vocês refletirem um pouco mais...
"... Mas amar também dói muito quando ele não sabe o que você sente. Não engane tal pessoa, não seja grosso(a) e rude esperando que ela(e) adivinhe o que você quer. Não o force a terminar contigo, pois a melhor forma de ser respeitado é respeitando."

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DOIS EM UM

Não sou crítica de gastronomia, mas gostaria de compartilhar minhas impressões sobre um restaurante da cidade. Leiam e fiquem à vontade para lançar comentários. Um abraço!

Dia desses fui com uma amiga almoçar em um restaurante novo da cidade. A fachada me chamou a atenção e eu quis experimentar. Pensei que poderia ser interessante almoçar em um lugar ao lado de uma galeria de arte e ver gente interessante. Além disso, o cardápio me chamou a atenção e me deu uma vontade enorme de comer o filé ao molho de shitake acompanhado de arroz com parmesão – no site, a foto era bonita e me deu água na boca.
Fomos então, numa sexta-feira, almoçar no tal restaurante. Quando chegamos fiquei intrigada – era meio-dia e só eu e minha amiga no restaurante inteirinho! Até perguntei se o restaurante já estava aberto e realmente ele estava.
Já sentadas na mesa e pondo a fofoca em dia, eu e minha amiga sentimos um certo alívio ao ver a mesa ao lado ocupada – não éramos mais as únicas do restaurante. Finalmente uma boa surpresa: o garçom era muito gentil e, apesar de não estarem mais servindo o prato promocional que tanto queríamos, resolveram abrir uma exceção e nos trouxeram o tal filé.
O prato era muito bonito e realmente dava vontade de comer, mas a primeira decepção: a temperatura do filé estava inadequada – morno...um prato morno não me diz muita coisa. Fiquei me empenhando em misturar o risoto com o filé para tentar, com o calor do arroz, dar uma esquentadinha no filé. A idéia deu certo e consegui saborear o prato – o tempero era realmente muito bom! Comentei com minha amiga sobre a temperatura do meu prato, pois sou meio exigente com isso – como disse acima, o primeiro requisito para apreciar qualquer comida é que ela esteja quente, muito quente, fumaçando! Para meu alívio, eu não era tão exigente assim, minha amiga também achou o mesmo que eu: a comida poderia ser mais quente. Logo após, veio a sobremesa -mal podíamos esperar pelo brownie com sorvete! Já podíamos imaginar a calda quente de chocolate derretendo o sorvete de creme e a gente suspirando...Infelizmente, a sobremesa também deixou a desejar – o brownie até que estava quente, mas era tão duro que eu tinha medo de espetar e dar um daqueles vexames do pedaço ir parar lá na outra mesa.
Tenho que confessar que sugeri ao garçom alterar a temperatura do filé, mas não tive coragem de falar sobre o brownie – ele era muito educado, prestativo e quando perguntou se a sobremesa estava boa, só tive coragem de dizer que sim.
Ao final do almoço, minha amiga comentou comigo que já havia estado naquele restaurante para curtir uma banda de pagode. Fiquei chocada! Como aquele restaurantezinho tão charmoso poderia abrigar um monte de gente sambando, se batendo e se agarrando? Vai ver é que eu é que estava errada nas minhas impressões, pois como diz o velho ditado “quem não tem cão, caça com gato”.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mais perto das estrelas

Acabei de chegar de um lugar onde as pessoas dizem que estão mais perto das estrelas! Aí você imagina algum paraíso como o Taiti, com suas águas transparentes, bebidas exóticas e milhares de casais lindos, ricos, felizes e apaixonados circulando... Ou talvez Paris, Fernando de Noronha. Mas eu ouvi isso de uma taxista em Bogotá, na Colômbia. Ao me explicar que a capital colombiana fica a 2.640 metros acima do nível do mar, ela parou, respirou fundo e disse: "aqui a gente está mais perto das estrelas". Quer dizer, ela poderia enxergar o fato de estar a essa altitude como um problema  ar rarefeito, coração com mais dificuldade de bombear oxigênio, náuseas, tonturas  mas preferiu ver a poética vantagem: estar mais perto das estrelas.
Enxergar um mesmo fato de uma maneira otimista ou pessimista é realmente uma escolha. É claro que não estou falando das mazelas que acontecem em nossas vidas, de onde dificilmente pode-se enxergar algo positivo, ao menos imediatamente. Estou falando das reclamações desnecessárias. Quantas vezes nos tornamos "reclamadores de plantão". Já vi gente na beira da praia, hospedado em um hotel seis estrelas, com a cara amarrada porque o garçom demorou um pouco para trazer o troco... E por aí vai: ganha R$ 10 mil de salário que "não dá pra nada"... está deprimida e não sai de casa porque engordou dois quilos... o trabalho é uma porcaria porque só tem um mês de férias, enquanto alguns mexicanos, por exemplo, têm menos de 10 dias no início da carreira.
É certo que devemos tomar cuidado para não entrarmos numa busca desenfreada por um estado de felicidade absoluta. Isso não existe: os momentos ruins estão aí para serem vividos e superados, os pequenos tiranos estão aí para nos testar e nos tornar mais fortes, nunca tudo vai ser 100% bom e perfeito, a começar de nós mesmos. Mas "...tem gente que vive chorando de barriga cheia..." como diria o filósofo Zeca Pagodinho. Tirando as fatalidades da vida, quando é realmente preciso chorar, existem momentos em que podemos, sim, optar pela felicidade e quem sabe morar mais perto das estrelas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Rótulos e padrões"

 "Prefiro as coisas boas de estar fora do padrão do que as coisas boas de ser padronizada". Essa frase foi dita por uma grande amiga minha durante uma de nossas tantas conversas sobre comportamento e sobre a vida. O tema era relacionamento e rótulos. A reflexão que ela fez, e até se dispôs a pesquisar mais sobre o assunto, como boa jornalista que é, foi a seguinte: estamos vivendo em tempos muito rotulados, cheios de padrões. Eu tive que concordar e principalmente reconhecer que certos rótulos partem de mim mesma  da minha criação, dos tabus impostos, de verdades aceitas e não contestadas  mas ao menos cheguei à conclusão de que venho eliminando paulatinamente esses padrões e cárceres da minha vida e, com certeza, esses rótulos têm uma importância bem menor hoje em dia do que já tiveram.

Exemplos... Exemplos são sempre bons... Deixamos escapar pessoas muito bacanas em nossas vidas porque não se encaixam em certos padrões. Já vi algumas pessoas deixarem de se relacionar com outras porque o fulano ou a fulana não tem carro, ou não ganha acima de "X", ou não mora em um local privilegiado e sim em um subúrbio, ou porque já tem filhos, ou porque não cursou uma faculdade, ou porque há diferença de idade. Quer dizer, os reais valores, que verdadeiramente importam vão para debaixo do tapete... Às vezes vemos aquela família "padrão"  papai, mamãe, um filho e uma filha  aparentemente feliz e não sabemos o que se passa nos bastidores, afinal, "o jardim dos outros sempre nos parece mais belo". A felicidade não está necessariamente no "padrão", talvez esse modelo não te sirva. Até porque a cada dia podemos recriar padrões, já que nós os inventamos. E se nós os inventamos devemos tomar as rédeas da situação e colocá-los em seu devido lugar, mostrar quem manda e não deixar que eles guiem nossas vidas.

Hoje em dia, no quesito relacionamento, há de tudo. As pessoas inventam maneiras de se relacionar que vovó nunca pensou que um dia iriam existir. As três formas  namoro, noivado e casamento  se multiplicaram... Só para citar alguns tipos de relacionamento: o ficante, o sexo casual, o casamento em casas separadas, ou em cidades separadas, ou casamento aberto... E, outro dia, descobri que existe também o namoro entre aspas. Dentro de cada modalidade de relacionamento existem outras tantas subdivisões, então nem vale a pena aqui eu tentar explicar o que cada uma delas quer dizer, até porque não ia conseguir mesmo... Mas para citar outro exemplo, conversando com um colega de trabalho descobri que há alguns anos ele se relaciona da seguinte maneira: liga somente nos finais de semana para as namoradas com aspas justamente para que não se caracterize um namoro sem aspas. Meio confuso, não? Mas foi a maneira que ele encontrou de estar bem.

Enfim, enquanto o tipo de relacionamento for devidamente esclarecido e acordado entre as partes, qualquer nome que se der está valendo, o importante é estar bem... Talvez a gente só deva parar e pensar bem sobre qual dessas variedades se encaixam melhor para a nossa vida, para depois não se sentir frustrado ou injustiçado. Será que o ideal para você é um casamento em casas separadas, ou aberto, ou tradicional? Será que é suficiente para você ser uma namorada de fim de semana, ou melhor mesmo é um namoro sem aspas? Não existe o ideal, o padrão... Talvez a felicidade esteja em você encontrar alguém que queira o mesmo tipo de relacionamento que você, seja ele qual for.... porque aí sim há mais chance de se construir algo sólido, um jardim verdadeiramente belo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Atitudes que mudam o mundo

Outro dia desses um amigo meu, que admiro muito por sinal, me fez uma encomenda: que pusesse no papel algo sobre o quão admirável é tomar atitudes que mudam o mundo, que movem o mundo. Ele se referia àquelas pessoas que têm garra de viver e cujas ações promovem mudanças, seja na dimensão que for  melhorando a vida de um indivíduo ou de milhões.
A garra de viver parece uma coisa simples, estou vivo e pronto. Na verdade não é tão simples assim. Têm pessoas que se dobram fácil ante os problemas e outras dizem em tom de desafio: "eu sou mais forte". Uma que posso citar por conhecer de perto é minha avó. Ela tem 97 anos, já não anda, ouve e nem enxerga direito, mas a memória é 100%: ela se lembra de datas, nomes, sabe meu telefone de cor. Outro dia cheguei pra visitá-la e ela estava sorridente contando que um sobrinho disse que uma senhora lá da cidade dele, com 103 anos, estava noiva de um jovem na faixa dos 80.  Há esperança! ela disse. Há!  concordei. Seguramente há esperança enquanto houver vida e brilho no olhar. Minha avó faz planos para daqui a 10 anos  isso é um exemplo de garra de viver...
Eu, na minha inocente inexperiência, disse a esse amigo, durante essa nossa conversa existencial, que eu não tenho medo de morrer. Que tenho medo de perder as pessoas que amo, mas de morrer não. Porque, eu justifiquei, neste mundo há muita miséria, muita maldade, o ser humano me parece muitas vezes cruel  o inferno já é aqui  reiterei. Então, ele me respondeu:  ... quando eu tinha 36 anos, como você, também pensava assim. Não tinha nenhum medo da morte...
Aí eu parei e pensei: como eu fui arrogante. Viver é um privilégio diário. Existe muita podridão, corrupção, maldade, mas existem seres verdadeiramente iluminados que vieram a este mundo para realizar algo. Volto àquelas pessoas que esse amigo citou. Cientistas e médicos que dispõem grande parte do seu tempo debruçados em livros para descobrir a cura para desconhecidos viverem mais. Pessoas que dedicam sua vida a causas nobres seja pela salvação da natureza, pela erradicação da fome, da violência... enfim, viver vale a pena também por esses seres que movem o mundo.
E tem gente ao nosso lado movendo o mundo: um amigo que luta contra uma doença grave, mas não perde a alegria de viver; alguém que sofre a ausência de outro alguém muito amado que partiu, mas acorda todos os dias e tem palavras amigas para aconselhar; a senhora que tem cinco filhos, o marido a abandonou muito cedo, ela acorda quatro da manhã para às sete horas estar servindo o seu café; o deficiente físico de pouco mais de 30 anos que vai cedo dar palestras para ajudar outras pessoas a vencerem as dificuldades como ele fez. Vencer é a palavra de ordem de quem move o mundo. Pessoas como esse meu amigo que está sempre pensando em novos projetos para mudar a vida de outros; como a minha avó, que olha de frente para os desafios e responde: "a vida continua". E como tantos outros seres iluminados que movem o mundo com ações, palavras e exemplos e fazem com que a gente tenha orgulho e muita vontade de viver.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A vida é uma lousa

"Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito". Quem escreveu isso foi Machado de Assis. E quando li, logo pensei: faz sentido. A vida é uma sucessão de reescrituras, releituras, às vezes melhores que as anteriores, outras vezes não. Mas concordo com Machado de Assis, um novo caso só se escreve depois de apagado o anterior. Isso, numa tentativa de se escrever direito, legível. Porque é claro que podemos escrever em cima. Mas fica algo embolado, ilegível... E assim é a vida. Se a gente não encerra um capítulo, apaga ele da lousa, o próximo vem encavalado, com letras emboladas e construir uma narrativa torna-se muito mais difícil.

No amor, por exemplo, impossível começar um novo caso sem apagar o caso escrito. Fica realmente tudo embolado se houver uma tentativa de sobreposição. Na moda, sobrepor é lindo... uma cor por cima da outra, um vestido por cima de uma blusa, uma imagem por cima da outra... mas no amor, assim como nos traços da lousa, não: é preciso apagar o amor antigo para se escrever uma nova história. Muitas vezes, numa tentativa desesperada de esquecer logo o amor antigo, a gente tenta colocar imediatamente outra pessoa no lugar mas parece tão eficaz quanto apagar as palavras da lousa com a mão. Sabe quando a gente não usa o apagador e mete logo a mão para apagar o texto? Pois é, fica aquela mancha branca e quando a gente escreve por cima não se consegue ler nem o que estava escrito antes e nem o que se formou.

Então não há como não concordar com Machado de Assis: no amor, e em muitas ocasiões da vida, esquecer é uma necessidade. Esquecer um amor quando é imperativo construir outro... esquecer mágoas para manter amizades, relações familiares, colegas de trabalho... esquecer desavenças para escrever novos discursos. A gente pode até pegar um giz rosa ou azul para tentar colorir um pouco o novo caso escrito. Mas sem apagar o anterior, não adianta, fica mal escrito.

Nessa de esquecer o amor antigo, me lembrei de uma amiga que, após uma sucessão de casos mal sucedidos, me ligou chorando e dizendo que não aguentava mais jogar escovas de dentes fora. Cada namorado que entrava na sua vida e na sua casa, aos poucos, para poupar trabalho, deixava logo a escova de dentes. A entrada da escova de dentes é linda: mais intimidade, mas convivência, mais amor... mas o ritual de jogá-la fora, ao término de mais um namoro, tenho que concordar: é terrível. Mas é o começo da tentativa de esquecimento... fazer o quê: ficar olhando para escovas de dentes?

Portanto, mais uma vez, digo que tenho de concordar com Machado de Assis. A vida é uma lousa e porque não dizer uma sucessão de escovas de dentes jogadas fora. Enquanto a gente não souber colocar no lixo tudo que não nos serve nem mesmo como lição, vamos continuar escrevendo casos embolados, mal resolvidos e colecionando escovas com cerdas desgastadas e duras, totalmente inúteis, que só ocupam o espaço de algo que poderia vir a ser construtivo para a nossa vida.
A amiga da leitura Greice Angelotti deixou o seguinte comentário:
Li com carinho os textos de vcs.
Lindos! Cheios de poesia e sentimento, mesmo porque poesia sem sentimento não é poesia né?
Mas, adorei! Parabéns pela iniciativa...!!
Deixo uma sugestão :
O filme comer, rezar, amar.... Vi o trailer e acho que vale a pena conferir! O livro é muito bom!
Que tal um comentário sobre o assunto?
Beijos e boas escritas!!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

VELHA INFÂNCIA

Dia desses estava em um sinal de trânsito, parada, quando vi um motoqueiro comprar um beiju. Fiquei pensando: “Gente, ainda se come beiju!”. Porque se tem uma coisa que me lembra a minha infância é beiju. Sabe aqueles biscoitinhos que parecem um canudo e são vendidos dentro de um saquinho onde vêm seis? É dele mesmo que eu tô falando.
Esse episódio me fez voltar à minha infância e me lembrei de tantas coisas que eu fazia e que não vejo mais criança nenhuma fazer.
Lembrei das brincadeiras de maê na rua da casa da minha avó em uma cidade do interior da Bahia. Lembrei dos meus inúmeros primos de terceiro grau e das brincadeiras na prefeitura. E de como era uma festa quando a gente se reunia na única pizzaria da cidade! Também me recordei das maria-chiquinhas que eu fazia com minha prima e vendia, esperando com ansiedade um trocado pra comprar dindin . E que delícia era comer os coquinhos que meu pai comprava na feira e que quebrávamos na lateral da casa da minha avó!
Era tão bom acordar cedinho com o barulho dos carros de boi e correr para o quintal para apanhar lima do pé e ali mesmo descascar e saborear...
Em julho, na festa de Santana, que é a padroeira da cidade, íamos à única praça da cidade comer o cachorro-quente da barraquinha do meu tio. Como era divertido ver o movimento das pessoas circulando a praça, comendo guloseimas, bebendo, sorrindo e conversando.
De repente, voltei à realidade e fiquei me perguntando se meu filho vai lembrar com carinho e saudade das manhãs curtindo vídeo game, das tardes assistindo cartoon network ou dos passeios ao Hot Zone. Fiquei me questionando se a culpa é minha ou do mundo meu filho não gostar de amarelinha, não subir em árvores e não acreditar em Papai Noel.
Gostaria muito que meu filho tivesse uma boa recordação da sua infância, porque é bom, reconfortante e saudável ser um adulto que tem estórias pra contar...

Luciana

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Par Perfeito

Compartilho mais um texto com vocês!
beijos Anoushe

Hoje eu tive um sonho meio maluco. Sonhei que estava pronta para ir a um festa, mas me faltavam os sapatos. Abri o armário e achei um lindo sapato, vermelho envernizado, que combinava perfeitamente com a roupa que eu estava vestindo. Calcei e realmente constatei que era perfeito. Mas faltava o outro pé, o par do sapato, para tornar o meu visual completo. Fui em busca do par para o meu sapato. Abri o armário e, pasmem! Surgiram vários outros pares de sapato tão bonitos quanto o que eu estava buscando: verdes, azuis, amarelos, com salto agulha, anabela, salto baixo, extremamente alto, envernizado, de couro, enfim, era quase uma sapataria de luxo. E quanto mais eu tentava localizar o par para aquele sapato que eu já havia decidido ser perfeito para compor o meu visual, mais surgiam sapatos maravilhosos tentando me persuadir a mudar de ideia. E no sonho, eu abria gavetas e lá estavam novos pares... me enfeitiçando... cheguei a experimentar outros sapatos, confesso, lindos, mas não me pareciam tão perfeitos quanto o primeiro.

Acordei do sonho sem conseguir encontrar o outro pé... Então pensei: acho que a vida é assim também, uma eterna busca pelo par perfeito. E como no meu sonho, a vida vai te oferecendo uma infinidade de opções aparentemente bem melhores do que a que você tem. Tem gente mais decidido e confiante que aposta logo no primeiro, podem aparecer outras opções muito mais atraentes, mas gosta mesmo é daquele surradinho, que pode não ser tão bonito quanto outros, nem tão elegante, mas não te dá calos e quando você calça te dá aquela sensação de aconchego, conforto, o pé chega relaxa porque o número é o certinho...

Perfeito, na verdade, não existe, nem o seu pé é  perfeito... perceba que ele pode ter uma unha torta, ser áspero, ter calos, joanetes.. mas sempre vai haver aquele sapato que se adapta ao seu pé... aquele sapato que faz com que seus calos não doam, ou doam menos, que não te aperte na ponta porque você tem uma unha encravada...

E tem também aquele sapato que te serviu durante quase uma vida... mas já não se adapta mais ao formato do seu novo pé.... os pés mudam.... Aí sim, pode ser a hora de buscar um novo sapato. Não que o antigo deva ser desmerecido, ele foi perfeito por muito, muito tempo, mas não é mais.... não adianta insistir... desapegue... deixe que ele faça outro pé feliz, deixe que ele encontre um outro pé que se adapte melhor ao seu novo formato. Assim como os pés mudam, os sapatos alargam as tiras, desgastam o salto, mas há quem prefira o salto baixo, as rasteirinhas...

˝Há sempre um chinelo velho para um pé cansado˝. Acredito nisso, e acredito também que, assim como no meu sonho, é importante estar no momento certo para perceber que já encontrou o calçado perfeito e não deixar que as milhares de opções que a vida te apresenta te desviem do objetivo de apenas localizar o outro pé.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ELISA LUCINDA – UM VERDADEIRO SHOW

As amigas da leitura foram ao espetáculo "Parem de falar mal da rotina", com Elisa Lucinda. Confiram as impressões!
Por Luciana

Elisa Lucinda conclama a todos que parem de falar mal da rotina. No engraçadíssimo espetáculo, a atriz e poetiza ironiza as pessoas que põem a culpa na rotina pelo fracasso dos casamentos. Casamentos que não dão certo porque se fizeram por interesse, porque se concretizaram sem amor ou porque se mantém por comodismo. Também mostra com muito bom humor, como o passar dos anos pode deixar uma pessoa amargurada ou feliz, dependendo de como ela encara os desafios e os problemas.

Na minha opinião, todos deveriam assistir à peça que nos faz pensar no nosso dia a dia, na forma como encaramos os obstáculos, como preparamos nossos filhos, como nos relacionamos com nossos amigos.

A atriz nos mostra que a todo momento podemos reinventar nossa vida e esse é o “grande barato”, porque não é o acaso que determina nosso destino, tudo depende do referencial que temos das coisas. Podemos escolher vir ao trabalho cantando e admirando o céu azul de Brasília ou vir lamentando que estamos cansados e com sono, podemos vir apreciando os ipês coloridos dessa época do ano ou vir lamentando que poderíamos estar ainda na cama. Não que seja ruim ficar até tarde embaixo do edredom, curtindo uma boa preguiça e sem ter que sair correndo pra bater o ponto do trabalho, mas podemos fazer nossa rotina muito mais agradável.

Não quero ser a mãe “tarja preta” que Elisa Lucinda ilustra na peça – aquela mulher amargurada no tempo, que toma antidepressivos e tem a expressão de anos de cansaço. É muito melhor ser a velhinha que tem histórias engraçadas pra contar, que curte os netos, um sambinha e, porquê não uma cervejinha.

Você pode escolher ser aquela pessoa alto astral que todo mundo quer estar perto ou ser aquela que só reclama de tudo, contaminando todos que estão à sua volta.

A vida é feita de escolhas e podemos escolher ser felizes, só depende de como queremos traçar a nossa trajetória.
 
 
Por Anoushe
 
 
Ontem, eu e mais três amigas fomos assistir ao espetáculo "Parem de falar mal da rotina", com Elisa Lucinda. O evento fez parte de um festival que está acontecendo aqui em Brasília, "Mulheres em cena"― uma iniciativa bem bacana que dá destaque à produção artística protagonizada por mulheres.

Mas eu não estou aqui para falar do festival e sim de Elisa Lucinda. Eu já havia assistido essa peça de outra vez que a atriz esteve aqui em Brasília, e ontem, ao vê-la pela segunda vez, tive a mesma impressão: a mulher é um show. Eu consegui rir e me emocionar como da primeira vez. A atriz consegue de uma maneira extremamente engraçada - na verdade chorei de rir várias vezes - fazer a gente refletir sobre temas cruciais da nossa existência.

Usando o humor, ela fala sobre o que ela chama de "cárceres"- coisas inúteis que nós mesmos criamos. Frases como "Eu sou orgulhoso mesmo..." "Não ligo para aquela mulher de jeito nenhum...", leis que criamos e nos aprisionam desnecessariamente. Por que, na verdade, para que serve o orgulho, por exemplo? Para nada... como a atriz diz " só deveríamos dizer sou orgulhoso mesmo se viesse seguido de um "mas estou em tratamento". E de uma maneira igualmente bem humorada ela fala sobre outros cárceres como sermos racistas, escravos da beleza padrão (beleza é tão ampla, não?), dos perigos a que estão sujeitas as nossas crianças.

A reflexão que a atriz nos convida a fazer não é sobre as crianças de rua, mas sobre nossos filhos: "classe média", "classe alta". Coisas como o pai que proíbe o parquinho porque o menino de cinco anos está viciado em parquinho. Aí o garoto responde "que merda", e o pai contra-ataca "que porra de caralho de palavrão você está falando menino". Ou seja... a gente se contradiz o tempo todo. Ela cita ainda a mãe que fala que vai quebrar o filho todinho pelo telefone e no fim da ligação diz que ama a criança, fala da mãe que se entope de antidepressivos, ansiolíticos, e outros tantos "anuladores" da vida, mas que proíbe maconha dentro de casa.

Durante o espetáculo, ela recita poemas lindos e dá um show de interpretação e sensibilidade. Usa as palavras de uma maneira forte, lancinante, que toca a alma. A palavra existe para tornar presente o que está ausente, algo mais ou menos assim ela disse, eu quis anotar mas não tive como... Mas é isso aí: sou fã da palavra! Sou fã das cenas da vida retratadas no palco, sou fã de poesia e agora, mais ainda, sou fã da Elisa Lucinda!!!!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

UNIVERSAL DINNER – “SANTO RESTAURANTE”

Mês de agosto, sem férias, sem 13º salário ou qualquer dinheiro extra na conta e aparece uma promoção onde bons restaurantes da cidade preparavam pratos, entrada e sobremesa a uma preço único e, o mais legal, acessível!!!


Vimos as listas dos restaurantes no site da promoção e mal pude acreditar, ELE estava lá...o restaurante que eu sempre sonhei em conhecer, mas que meu salário, decente, porém discreto, não me permitia jamais freqüentar – o Universal Dinner.

Resolvemos, eu , meu marido e meu filhote, aproveitar o sábado para conhecer o tão badalado restaurante!

A entrada, cheia de gente aguardando, não intimidou nenhum de nós - nem mesmo meu filho, na impaciência dos seus 7 anos, quis deixar de enfrentar a fila para poder contar aos amigos que havia conhecido o restaurante mais caro de Brasília – uma grande conquista!

Após alguns minutos, a RP se compadeceu por estarmos com uma criança e nos permitiu entrar para aguardarmos no balcão, onde poderiam nos servir bebidas.

Eu sei não é “fino”, mas não resisti em tirar meu celular da bolsa para fazer algumas fotos naquele lugar – eu tinha que registrar aquele momento!

Após sentarmos, a entrada: uma salada gostosinha, mas nada de muito especial. Em seguida o filé da promoção - escolhemos filé, porque não dá pra ir a um restaurante caro e contar pros amigos que comemos FRAN-GO, não é mesmo?

Ao provar o prato principal, uma sucessão de “hummmmmmmmms” na mesa....Não conseguiria jamais descrever o sabor maravilhoso do filé e a leveza do risoto que acompanhava.

Quando terminei, comecei a imaginar que a sobremesa teria algum defeito – não era possível aquele lugar servir tudo com tamanha perfeição e sabor! Mas eu estava enganada....a sobremesa também era incrível – um mousse delicioso de queijo com calda de goiabada.

Não queria que aquele momento terminasse, tamanha era a minha satisfação em saborear cada coisa que eu provava, mas a comida uma hora acaba e havia uma fila gigantesca aguardando para também aproveitar a promoção.

Oh, santa promoção que me fez experimentar aquele manjar dos Deuses!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mulheres que gostam de flores

Amigos, segue mais uma crônica para vocês opinarem.
Bom dia a todos
Anoushe

Estava conversando com uma amiga sobre presentes preferidos. Ela me contou que havia ganhado um botão de rosa no dia anterior e havia se apaixonado pela atitude do rapaz, atitude cada vez menos frequente por sinal. Foi quando ela me disse que ama receber flores. E eu prontamente concordei: entre joias e flores, prefiro sempre flores. Aí parei para pensar que existem mulheres que gostam de flores e outras que gostam de joias. Assim como existem homens que dão flores e outros que dão joias.

Quem sou eu para tentar entender porque existem e onde se escondem as sutilezas das preferências... não tenho o "bastão da sabedoria", mas tento entender do mesmo jeito. Afinal a gente aprende é tentando entender coisas, não é??? E lá fui eu tentar entender porque existem mulheres que gostam de joias e outras de flores. Comecei por mim e em mim parei: gosto de flores. Aliás, prefiro as flores. E vai além do ato romântico em si. Prefiro as flores, primeiro, porque são vivas. São cheirosas, coloridas, sedosas, lindas, algumas até com sabor... As joias são frias, insípidas, inodoras ... bonitas são, tenho que admitir, e transformam uma mulher... mas transformam qualquer mulher, coisa que as flores não fazem... As flores não transformam uma mulher, apenas fazem aflorar o que elas já são. O próprio nome já contém tal significado: "afloram". Já parou para enxergar o brilho no olhar de quem ganha flores? É um brilho que transborda felicidade, felicidade que já pertence a essa mulher... um brilho que exterioriza paixão, amizade, gratidão... sei lá... tudo que vier embutido no oferecimento de uma flor. A joia também desencadeia um brilho no olhar, mas parece que quando você a utiliza, de alguma maneira ela te transforma: a básica vira chique, a pobre aparenta riqueza, a simples demonstra luxo, a triste de repente consegue ficar feliz... por isso prefiro as flores.

A joia parece trazer consigo um quê de imponência, poder, que nem a mais rara ou mais bela das flores pretende transmitir. A começar pelo fato de não se pretender ser eterna: a flor vive o tanto que precisa durar - um dia, uma semana, um mês - e perfuma a alma para sempre. Já a joia dura várias vidas, gerações e pode não atingir a alma de ninguém. Ao contrário, às vezes provoca discórdia, brigas em inventários, corações partidos... Por isso prefiro as flores...

Nada contra as joias, elas são necessárias. Afinal, imagine um mundo sem alianças, sem pingentes de coração, sem braceletes e coroas... mas prefiro as flores, porque ao imaginar um mundo sem flores, vejo um mundo cinza, sem cheiro, sem brilho nos olhos, sem sorrisos, sem amor... por isso prefiro as flores.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Arte ou Lixo

Visitei uma exposição e gostaria de compartilhar com vocês minha reflexão sobre o que seria arte. Espero que vocês se divirtam um pouco e postem seus comentários. Grande abraço, Luciana




Outro dia fui a uma exposição de artes badalada e concorrida. Fui toda arrumadona, afinal, o convite era atrativo, haveria um coquetel e pediram até pra confirmar presença. Então lá fomos nós – eu e meu marido para um programa cultural.


Havia muita gente na porta! Gente bonita, gente esquisita, gente glamourosa, artistas e gente comum. Depois de uma longa espera – aproximadamente meia hora em pé na frente da galeria, fomos liberados para entrar, nós e todos os outros que aguardavam ansiosamente para ver a exposição com 50 artistas de diferentes gerações.

Ao entrar, tudo muito interessante – um cantor tocando sax, artistas pintando telas no momento da inauguração, o coquetel começando a circular.

Deparei-me com o primeiro quadro e não observei nada de interessante, a segunda obra, a terceira, a quarta e não conseguia achar um só quadro que tivesse vontade de colocar na minha casa. Meu marido me pediu pra que demorasse mais em cada obra, porque era “feio” não apreciar com calma trabalhos que exigiam tanta dedicação.

Juro que tentei, mas cada passo que eu dava, mais uma decepção. Depois de “apreciar” toda a exposição e esperar pelo minguado coquetel, concluí que os “renomados” artistas, definitivamente, não haviam me conquistado. Ficamos mais meia hora, com vergonha de sermos julgados “out” ou caretas demais ou simplesmente mal educados .

Uma jornalista se aproximou, pediu uma foto para uma coluna social – pelo menos valeu a produção...

Fui pra casa me perguntando se aquilo era mesmo arte ou se viraram todos loucos para achar que uma bicicleta de cabeça pra baixo tem algum significado. Concluí que arte é tudo aquilo que toca alguém de alguma forma. Pra mim, o que realmente me toca são as obras de uma grande amiga minha, uma artista desconhecida, mas que pinta paisagens sem deixar a tinta escorrer de propósito, que desenha figuras que eu consigo entender – pra mim, isso é muito mais que “arte contemporânea”.

Sobre leitura

A nossa colaboradora Tânia Jobim Dutra disse que achou o segundo livro da Elizabeth Gilbert (Comer, Rezar e Amar)  melhor ainda, chama-se "A Comprometida".
Deu a dica também  do pesado, difícil e fantástico "Precisamos falar sobre Kevin", da Lionel Schriver. Aliás, segundo ela, Lionel esteve na Flip (Feira Literária de Paraty) e falou umas coisas bem interessantes...

Vale a pena ler ainda "A Natureza Selvagem", que se passa no Alasca.
Obrigada pelos comentários Tânia!!!

Beijos das amigas

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Aprender com as crianças

Para inaugurar o blog, vou postar uma crônica que fiz inspirada no meu sábio filhote!!! Aguardo comentários... beijos Anoushe



Eu sei que é preciso ensinar às crianças. Ensinar a andar, a falar, a se comportar bem, a respeitar e vários outros aspectos físicos, emocionais e éticos do ser. Mas poucas vezes paramos para aprender com elas. Quanta pretensão a nossa, seres adultos, acharmos que nada temos a aprender com as crianças. A primeira lição, não necessariamente a mais importante: sorrir. A gente vai envelhecendo e vai perdendo o jeito de sorrir. O sorriso espontâneo vai dando lugar ao sorriso conveniente e adequado a cada ocasião. Gargalhada, então... nossa!!! Artigo cada vez mais em falta no mercado para maiores de 18 anos. A criança, no entanto, vê graça em tudo. Meu filho, que tem quatro anos, dá gargalhada se alguém tropeça, se eu acordo com o cabelo bagunçado, ri do desenho animado, mesmo depois de vê-lo pela oitava vez... ri se eu molho a roupa lavando louça e até quando depois de empilhar todos os papeis desenhados vem um vento e joga tudo pro ar, fazendo com que ele tenha que empilhar tudo de novo. E das próprias trapalhadas ele dá gargalhadas. Há quanto tempo a gente não ri das nossas próprias trapalhadas? Se a coisa já está feita mesmo, só nos resta dois caminhos: ou encaramos as consequências rindo ou xingando e chorando. A criança só opta pela segunda opção se doer, fora isso ela vai rir, com certeza.


Outra lição: beijo e abraço. Por que a gente vai envelhecendo e vai economizando beijo e abraço? No máximo as pessoas dão aqueles apertos de mãos frouxos e olhar nos olhos, nem pensar. Às vezes acabamos abraçando quem a gente não gosta, novamente por conveniência, e achando altamente dispensável abraçar quem é necessário, afinal, equivocadamente, pensamos que para aquele que já está ali mesmo, ao nosso lado, não é tão urgente assim dar um abraço: ele sempre estará ali, não é? Ledo engano... A criança é muito mais sábia e espontânea, só beija e abraça quem ela gosta e, geralmente, é aquele que está ao lado dela, cuidando... não adianta fazer ela beijar o fulano que é tão legal porque ajudou a mamãe nisso ou naquilo... a criança só vai beijar aquele por quem ela nutre algum afeto. Nunca é por conveniência. E não economiza... Meu filho, por exemplo, só me deixa sair de casa para trabalhar se eu der dez beijos e dez abraços nele. Não adianta eu sair correndo atrasada: não há argumento. E tem que beijar e abraçar direito, não vale um frouxo aperto de mão.

Outra lição importante: se divertir com pequenas coisas. Nós, adultos, temos mania de achar que felicidade é finalmente ter o carro dos sonhos, o emprego dos sonhos, o casamento dos sonhos... e nos frustramos a cada conquista não alcançada. A criança não... ela fica feliz se a mãe deixa de trabalhar um dia pra brincar com ela, se ganha um pirulito, se descobre um novo sabor, se vai tomar um banho numa piscina improvisada com o amigo preferido. Na verdade é a maneira de olhar o mundo... a gente vai crescendo e vai endurecendo o olhar e desaprende a enxergar o que realmente interessa. Observe como o olhar da criança é leve, por isso ela vê felicidade nas pequenas coisas... A gente endurece o olhar, talvez a vida nos endureça o olhar, e acabamos passando batido pelo que mais interessa... vivemos numa eterna expectativa de só sermos felizes quando algo de grande acontecer... e engolimos os pequenos momentos que constroem a grande felicidade. Porque todo o resto  o carro dos sonhos, o casamento dos sonhos, o emprego dos sonhos  pode desabar num segundo ou talvez nem chegue a acontecer. Mas o sabor do pirulito e o tempo desfrutado com o amigo preferido ficam arraigados na lembrança e no coração.

Enfim, as crianças nos dão várias lições. Nos ensinam que hoje é o dia de sermos felizes porque amanhã é um dia que só se torna real quando vira novamente o hoje. Que beijo e abraço é bom molhado e apertado e de preferência em dezenas ou dúzias. E sorrir é de graça. Se os tropeços da vida são inevitáveis é melhor encará-los sorrindo porque gritar e chorar não conserta nada. Salvo se doer... Porque se doer, o melhor mesmo é chorar e colocar pra fora e quem sabe ganhar dez beijos e dez abraços!