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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Festa do intelecto

Um amigo muito querido me deu uma sugestão: lembrar o poeta Waly Salomão. Ele foi Secretário Nacional do Livro do Ministério da Cultura e tomou posse cantando, sugerindo uma gestão promissora pautada pelo sonho, pela catimba e pela bandeira da imaginação no poder. Infelizmente já está no andar de cima... Artista completo — compositor, diretor musical, performer, artista plástico, editor, videomaker, ator e, acima de tudo, poeta — defendia que "o poema deve ser uma festa do intelecto". Perguntava e se respondia: "O que é que você quer ser quando crescer? —Poeta polifônico." Ou seja, sair do verso melódico, aquele poema composto por uma ideia que se sucede linha a linha do início ao fim, para chegar ao verso polifônico, uma sucessão de ideias que se sobrepõem, às vezes se opõem, sem a necessidade de chegar à conclusão alguma. Versos cheios de vozes, livres...

A sugestão desse meu amigo veio a calhar e diria até que foi um sopro de inspiração, pois há alguns dias eu vinha pensando em escrever algo sobre intensidade. Na verdade, sobre a benção de poder desfrutar a arte de pessoas intensas, muitas vezes taxadas de loucas... Pessoas desconfiadas e estridentes, que buscam algo fora da linearidade da vida, escapes, raciocínios desconectados, como nos versos de Waly.

Como é bom ouvir uma música, dançar e repetir seus versos, como se ela fosse feita para ti. Obrigada Chico Buarque, Vinícius, Caetano e tantos outros por emprestarem um pouco de sua insanidade e intensidade. Como é bom ir ao cinema assistir ao filme "A Suprema felicidade" de Arnaldo Jabor e durante a projeção ouvir o personagem de Marcos Nanini, um show de interpretação, dizer "...ninguém é feliz, com sorte a gente é alegre. A vida gosta de quem gosta dela". Eu gostaria de ter escrito isso... bateu uma pontinha de inveja.

E intensidade e espontaneidade não moram só nas mentes de seres brilhantes como essas que citei, a gente encontra direto ao nosso lado... Uma amiga baiana tira o miolo do pão para esfregar naquela gordurinha que fica no fundo da panela após fritarmos um bife e come gemendo... Outro amigo recita poesias em plena madrugada para uma total estranha, porque viu brilho em seus olhos... Mais um que posso citar sai durante um temporal conclamando os vizinhos a participar do espetáculo de ter os pés no chão, o rosto molhado e a alma lavada. Há os que param para observar a lua da laje do apartamento de pijamas e quem sabe retirar o pijama... E os que cantam História de Uma Gata, abraçados, ao final de uma samba, para celebrar a amizade...

Nesta vida há espaço pra tudo, é claro que exige muita seriedade, mas nem sempre precisa ser linear, monofônica... Afinal, não só o poema deve ser uma "festa do intelecto" — a vida, sempre que possível também !!!!
Um pouquinho de Waly Salomão:

"O que menos quero pro meu dia
polidez,boas maneiras.
Por certo,
               um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido.
Quando nasci, nasci nu,
ignaro da colocação correta dos dois pontos,
do ponto e vírgula,
e, principalmente, das reticências.
(Como toda gente, aliás...)"

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