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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Novas formas de escravidão



Se vivêssemos em um mundo mais justo e igualitário não seria necessário haver uma data específica pra lembrar às pessoas de algo que deveria ser intrínseco ao ser humano ter consciência negra, por exemplo. Mas o mundo está bem longe do ideal, essa é a realidade, e por isso o Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.
A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. O Dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro (1594). Infelizmente, mais de 120 anos após o fim da escravidão no Brasil, as oportunidades de acesso à educação e à renda ainda não são as mesmas para pessoas de diferentes cores de pele.
Escravidão é algo que verdadeiramente envergonha a raça humana e nos torna descrentes da possibilidade de um mundo melhor. E ela continua a existir de uma maneira distinta, velada e cruel. Vemos um proliferar de formas de se escravizar. O mundo é escravo da corrupção, da violência, do preconceito, da ignorância, da depressão, da miséria, do poder, da degradação ambiental, uma lista sem fim.
Por isso acho mesmo importante ter um dia dedicado à lembrança de que é preciso refletir sobre o passado, o presente e agir para melhorar o que virá. E lembrar também dos valentes conhecidos e anônimos que fizeram e fazem a diferença para que a melhora ocorra. Dos que habitam a bela pele negra e fazem a diferença, podemos citar, além de Zumbi, milhares de outros. Da dona Rosa que criou sozinha 12 filhos com um salário de faxineira ao primeiro negro a presidir a Suprema Corte do País, o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão.
Os que fazem a diferença engrossam o caldo da esperança. E já que ela é a última que morre é preciso alimentá-la. Ainda que para acreditar a gente precise pedir ajuda à nossa criança, como sugere a bela composição de outro valente que faz, pela arte, a diferença: Milton Nascimento." Há um menino/Há um moleque/Morando sempre no meu coração/Toda vez que o adulto balança/ Ele vem pra me dar a mão/...E me fala de coisas bonitas/Que eu acredito/Que não deixarão de existir/Amizade, palavra, respeito/Caráter, bondade alegria e amor/Pois não posso/Não devo/Não quero/Viver como toda essa gente/Insiste em viver/E não posso aceitar sossegado/Qualquer sacanagem ser coisa normal..."
Não dá mesmo para aceitar todas essas formas de escravidão como se fossem normais. Refletir sobre essas e outras tantas questões que atrasam a humanidade é o começo de um longo caminho de mudanças necessárias para construirmos um mundo igualitário e melhor. Um mundo sem os verdadeiros escravos, que não são aqueles vendidos por outros, mas sim os que se vendem à violência, à corrupção, ao preconceito e a tantos outros atos imorais que ainda não deixaram de existir.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Quando a arte inspira a arte



Quando a arte inspira a arte? Durante o show do bandolinista e compositor brasileiro Hamilton de Holanda, em Brasília, ele apresentou uma composição inspirada nos painéis “Guerra e Paz” do artista plástico, também brasileiro, Cândido Portinari. Um exemplo de arte inspirando a arte.
Acho os painéis belíssimos e a composição de Hamilton é tão intensa e grandiosa quanto à obra de Portinari, outra verdadeira obra prima. Dizem que a dor inspira a arte, assim como a vida, a paixão, a tristeza, enfim… Mas, quando uma bela arte inspira outra, é difícil não se obter um resultado positivo.
Então, pensando nisso, comecei a me lembrar de outros belos resultados quando a arte inspira a arte, considerando, é claro, a subjetividade da beleza ─ o que me encanta não necessariamente toca a todos.
Partindo do pressuposto de que todos nós somos obras de arte, criados pela inspiração divina, eis que uma bela mulher inspira lindos poemas como os de Pablo Neruda para Matilde: “Amo el trozo de tierra que tú eres, porque de las praderas planetarias otra estrella no tengo. Tú repites la multiplicación del universo. Tus anchos ojos son la luz que tengo de las constelaciones derrotadas, tu piel palpita como los caminos que recorre em la lluvia el meteoro…”
Clássicos da literatura que viraram filmes também são arte inspirando a arte. Por mais que não consigam traduzir completamente a obra escrita, sendo uma bela obra, dificilmente o filme será ruim. É o caso por exemplo do ” O Amor nos tempos do Cólera”, de Gabriel Garcia Márquez ou de “O morro dos ventos uivantes”, de Emily Brönte. Já vi tatuagem inspirada em livros, pinturas inspiradas em contos, quadros inspirados em filme, como acontece nas edições da exposição americana Crazy 4 Cult , onde os artistas se inspiram em filmes clássicos.
 E tem também o teatro, que é fonte de inspiração e também se baseia em outras artes. Outro dia desses fui assistir à peça “As pontes de Madison”, baseada no livro que, por sua vez, também inspirou o filme. Apesar do tempo reduzido do teatro e do cinema, o sentimento foi o mesmo de quando li o livro: a angústia de ter um grande amor perdido.
E tem também a música nascida em versos. Descobri em um blog algumas músicas cuja inspiração foi a literatura. A música Don’t stand so close to me, The Police, foi inspirada no livro Lolita de Vladimir Nabokov.  Ouvindo a música, é difícil não pensar em Lolita… Tem ainda Animals, Pink Floyd, que foi inspirado no livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger e a música A Hora da estrela, Pato Fu, inspirada no livro homônimo de Clarice Lispector.
A origem da inspiração é um tremendo mistério. Não dá para tentar entender, só mesmo admirar os seus frutos, como a linda composição que surgiu dos painéis de Cândido Portinari. Por esse resultado e tantos outros de uma lista sem fim, ouso dizer que a beleza é ainda mais intensa quando a arte inspira a arte.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lições do pequeno príncipe



Eu li "O Pequeno Príncipe", de Antoinede Saint-Exupéry, na minha infância e o deixei esquecido até este ano, quando resolvi lê-lo para meu filho. Logo na dedicatória, o autor pede desculpas por haver dedicado o livro a um adulto, já que se trata de uma história infantil, mas logo ele explica o porquê: o homem a quem dedicou, Léon Werth, é o seu melhor amigo e é uma pessoa capaz de compreender tudo, até os livros infantis. Então, ele corrige a dedicatória e a faz à criança que existe nesse homem grande, afinal todos nós já fomos meninos...

Pensei em ler “O Pequeno Príncipe” para meu filho com um "olhar" de adulta e esqueci-me do poder que ele tem de arrancar a criança que de fato existe em nós desperta ou adormecida. Acho que a minha estava um pouco adormecida, porque ela se emocionou de uma maneira tão intensa que parecia mesmo desperta de um sono profundo.

Já meu filho ouviu a história com o “olhar” de criança, que é carregada de ingenuidade, bondade, curiosidade e uma certa perplexidade em relação aos mundos e às pessoas desbravados pelo principezinho. Perplexidade de quem não entende as contradições dos adultos. “Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta”, explicou o pequeno príncipe sobre a sua maneira de cuidar do seu planeta. Imagine se ele descobrisse o que os adultos estão fazendo com natureza no planeta terra...

Acho que a minha criança ficou mais comovida que a criança do meu filho porque aquela já havia deixado de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas e criado consciência em relação às maldades e contradições do mundo. Esta já não...

Então, infelizmente, a minha criança adormecida entristeceu-se porque sabe que, apesar da personagem Raposa do livro ensinar que "o essencial é invisível aos olhos e que tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", essa preocupação não existe para a maior parte das pessoas e também porque há muitos seres humanos iguais aos "donos dos mundos" encontrados pelo principezinho ao longo de suas andanças pelo espaço.

Personagens como o do Bêbado que bebe para esquecer que tem vergonha de beber ou do Homem de Negócios, que se ocupa em possuir as estrelas, acumulando-as, e perde tanto tempo em contar o que acumulou que não pode desfrutar a vida. Ou ainda como o do Vaidoso que só ouvia elogios, ou do Astrônomo Turco que é desprezado pela comunidade científica até aparecer com elegantes roupas ocidentais.

Acho que “O Pequeno Príncipe” é leitura obrigatória, principalmente para os adultos, pois suas lições são atuais e inspiradoras. Lições como a do Rei, o primeiro personagem encontrado pelo principezinho após decidir sair de seu planeta. O soberano explica que tem direito a exigir obediência porque suas ordens são sensatas e que é preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. Sobre isso, ainda ensina: Tu julgarás a ti mesmo – respondeu o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio".

E a melhor lição do livro, capaz de resgatar qualquer criança perdida no interior do mais adulto dos adultos, é a de que as pessoas se tornam únicas quando as cativamos: "Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante". Sabemos que é preciso cativar, mas na correria do dia a dia, esse verbo tornou-se artigo de luxo. Como a sábia raposa mesmo disse: "Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos,
os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me".

Cativar, para a criança, é automático. Se ela gosta, cuida, assim como o pequeno príncipe cuidou de sua flor e de seu planeta. Nós, não! Damos importância a coisas tão tolas e esquecemos do essencial. Parece que a gente vai desaprendendo... É preciso que nós adultos tenhamos mais compromisso em relação ao mundo em que vivemos e às pessoas que passam por nossas vidas, mesmo que, para isso, seja preciso arrancar, na marra, a criança que ficou perdida dentro de nós.


- Se alguém ama uma flor da qual só exista um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para fazê-lo feliz quando a contempla. Ele pensa: "Minha flor está lá, em algum lugar..." Mas se o carneiro come a flor, é, para ele, como se todas as estrelas se repentinamente se apagassem! E isto não tem importância? " (O Pequeno Príncipe).









terça-feira, 2 de outubro de 2012

A grandeza do anonimato



Outro dia desses estava conversando com um amigo, quando ele lançou a seguinte reflexão: você já parou para pensar que grande parte das pessoas que efetivamente fazem algo para melhorar o mundo vivem no anonimato? Ele se referiu às pessoas que realizam algo e pretendem, deliberadamente, esconder a sua identidade, ou ao menos não ficam por aí alardeando suas ações...

Também seriam essas pessoas que agem no silêncio nossos heróis? A nossa história é marcada pelos feitos espetaculares e grandiosos de vários nomes reverenciados por nós. Mas parece que se o ato não se torna público e pessoal não é devidamente reconhecido. Não como um ato heroico. Não enxergamos grandeza no anonimato.

O filósofo e escritor indiano Jiddu Krishnamurti já dizia que a grandeza é o anonimato. "... e ser anônimo é a maior das coisas. As grandes catedrais, as grandes coisas da vida, as grandes esculturas são obras anônimas. Não pertencem a ninguém, em particular, tal como a verdade. A verdade não pertence nem a vós, nem a mim; ela é de todo impessoal e anônima. Se afirmais possuir a verdade, não sois então anônimo, e sois muito “mais importante do que a verdade..."

Grande então é aquele político septuagenário que recebe um salário de pouco mais de R$ 25 mil, mas doa 90% para instituições assistenciais que cuidam de pessoas pobres. Sobra-lhe R$ 2,5 mil, que segundo ele é suficiente para sustentar a família e abastecer o carro, um fusca. Ou o casal que, ao longo de vinte anos adotou mais de 23 crianças, entre elas, dois casais de gêmeos. Algumas delas têm necessidades especiais e foram abandonadas pelos pais biológicos em creches e hospitais públicos. A família se mantém com R$ 1500 e a renda da fabricação de doces. E tem ainda aquele homem que morreu ao resgatar um desconhecido que havia caído dentro de um poço de uma cisterna...

Pessoas como eles existem? Sim, existem... E é um alento a nossos corações sabermos disso, afinal, vivemos cercados de exemplos de corrupção, maldade e desgraças, amplamente alardeadas... Mas não interessa o nome do rapaz que morreu por um desconhecido ou se o político é o seu Francisco e o casal é Maria e José... O que interessa é que herois como eles efetivamente melhoram o mundo e são exemplos reais de que grande é o anonimato. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Silêncio perturbador,



O silêncio é no mínimo perturbador. Falar é muito mais fácil que silenciar as palavras, pensar é mais fácil que esvaziar a mente, mergulhar no barulho da multidão é mais confortante que se deparar com seu próprio silêncio. Imagine um concerto dividido em três atos de silêncio...
No dia 05 de setembro deste ano, o controverso compositor John Cage faria 100 anos. Mais um centenário que merece destaque. Inevitavelmente, o músico é lembrado por sua mais criticada peça 4’33″. Ela foi composta para qualquer instrumento (ou combinação de instrumentos) e a pontuação instrui o intérprete a não tocar o instrumento durante toda a duração da peça ao longo dos três movimentos. A ideia é ouvir os sons do ambiente, um som que não pode ser controlado pelo músico. E há ainda a ideia de que todos os sons constituem, ou podem constituir, a música.
Cage se voltou para outras concepções de música, questionando o paradigma ocidental que a explicava como uma série ordenada de notas, o que se esperaria de um concerto "normal". Na verdade, a peça não pode ser chamada de silenciosa, porque silenciam-se os intrumentos, mas ouve-se o ruído do ambiente. Segundo a concepção oriental de música pesquisada por ele, ouve-se o som do teatro ao qual se presta atenção.
O pianista David Tudor estreou a peça 4'33" em 29 de agosto de 1952, em Woodstock, Nova York, como parte de um recital de música de piano contemporâneo. Eu assisti a um vídeo de um concerto dedicado a John Cage no You Tube e realmente é perturbador. Ouve-se tosses, espirros, estalos das poltronas, pigarros e percebe-se a inquietude do público e dos próprios músicos ao se depararem com o silêncio dos intrumentos. Tudo que foge ao normal, choca! Talvez por isso esse concerto tenha recebido tantas críticas.
Acho que é uma boa reflexão a se fazer. Sobretudo para nós, ocidentais, que estamos sempre em busca de ocupar cada vez mais o nosso tempo, o nosso pensamento, e nos habituamos aos ruídos de buzinas, freios de veículos, gritos, volumes altos e temos isso como "o natural". Às vezes é preciso exercitar o silêncio, seja da mente, das palavras, dos gestos para conseguir enxergar novos tipos de sons e visões. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Até as cortinas se fecharem



"Sabia que no teatro só atuam se existe no mínimo tantos espectadores quanto atores interpretando?"
Eu li essa frase em um livro escrito por um autor espanhol, catalão, intitulado Si tú me dices ven lo dejo todo... Pero dime ven. O próprio título já é um convite à reflexão, mas o trecho em que o protagonista falou sobre a necessidade que o ser humano tem de "atuar" para alguém me chamou mais atenção. Imagine a seguinte situação: um senhor de mais de 90 anos e um garotinho de 14, companheiros de quarto em um hospital à espera de serem levados para a mesa de cirurgia. O menino ia retirar as amídalas e o ancião um pulmão inteiro. O garoto, que estava acompanhado dos pais e dos avós, volta-se para o seu companheiro de quarto e pergunta quem o estava acompanhando. E a resposta foi ninguém. Afinal, aos 90 anos, grande parte dos "seus" já haviam partido...
Nesse momento, compadecido pela solidão do companheiro de quarto, o menino se comprometeu a esperar pela volta do senhor após a cirurgia e torcer por sua recuperação. E o idoso, agradecido, disse a frase com a qual iniciei o texto e prometeu "atuar" bem durante a cirurgia, pois, a partir daquele compromisso, o menino havia se tornado seu espectador.
Charles Chaplin, sabiamente, usou a mesma metáfora: "A vida é um palco de teatro que não admite ensaios. Por isso cante, chore, ria, antes que as cortinas se fechem e o espetáculo termine sem aplausos". Viver sem ter ao menos um espectador para quem atuar é de fato uma vida sem aplausos. Sem aplausos e sem as necessárias vaias que são o termômetro para sabermos quando estamos atuando mal. Só parece mesmo haver sentido em se esforçar para atuar cada vez melhor se no palco da vida houver um amor, um amigo, um pai, um filho, um irmão...Ao menos um deles que verdadeiramente se importe contigo.
Enfrentar o palco da vida sem ter ao menos uma pessoa com quem compartilhá-la, alguém para "voltar", parece solitário demais...É preciso ter alguém para quem interpretar, é o que nos impulsiona a melhorar, a estar são em todos os sentidos. Alguém para prestar atenção em suas "falas", avisar se a música está forte ou o timbre da voz alto demais. Ou se a peça está monótona e precisa de uma pitada de comédia, sorriso, ou chorar junto contigo quando estiver interpretando uma tragédia shakespeariana. Enfim, alguém para te acompanhar no palco da vida até as cortinas se fecharem...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Saudade de ter saudade



Sempre ouvi dizer que não existe uma tradução exata para a palavra saudade. Em inglês, poderia ser algo próximo ao I miss you, em espanhol, nostalgia, te extraño, em francês, nostalgia, mélancolie. Mas nenhuma dessas expressões ou palavras traduz isoladamente o que quer dizer saudade...

Outro dia desses, durante uma aula de francês, a professora disse algo que achei bem interessante. Ela falou que em Paris, quando tenta explicar às pessoas o significado da palavra saudade, logo tentam traduzir para melancolia e fica difícil para as pessoas entenderem que uma só palavra possa conter vários sentimentos e significados. O sentir saudade é algo muito difícil de se traduzir e explicar... Não é só um sentimento de melancolia, nostalgia, nem só de ausência, nem só de amor. E pode ser tudo isso ao mesmo tempo. É algo que você sente com... sente por... sente sem...

E complementando o raciocínio, a professora afirmou ainda que dizer a alguém que tem saudades pode ser muito mais sincero do que dizer eu te amo. Concordo! Hoje em dia, o Eu te amo está banalizado. Muita gente diz que ama sem nem ter noção do que isso quer dizer.

Acho o tenho saudade, muito mais genuíno, passa muito mais confiança... Afinal, é difícil imaginar uma pessoa falando que sente saudades de outra sem realmente estar com o coração imbuído desse sentimento. 

Você não diz para alguém de quem não goste verdadeiramente: "Nossa, como eu tenho saudades de você!" Não dá, não sai... A saudade é um sentimento tão completo que se você sinceramente não sente, não consegue verbalizar. Acaba trocando pelo nossa! Quanto tempo! ou como você está bem (ainda que a pessoa esteja horrível) ou até mesmo pelo "você faz falta!".

Saudade não é só fazer falta, saudade é FAZER FALTA PRA CARALHO! Quer dizer: você preenche meus pensamentos, fecho os olhos e consigo ver seu rosto, sei de cor frases que você já usou e me serviram de exemplo, identifico o seu perfume em uma multidão! Sua ausência dói, como disse Luiz Gonzaga, "amarga qui nem jiló".

Enfim... Saudade, como a gente identifica a saudade, só no português! É algo tão completo em si que, na falta do sentimento, a gente até sente saudade de ter saudade...

QUI NEM JILÓ
(Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira)

Se a gente lembra só por lembrar
Do amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu
Porém, se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade intonce aí é ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo doido a sofrer
Ai, quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz doer
Amarga que nem jiló
Mas ninguém pode dizer
Que vivo triste a chorar
Saudade, meu remédio é cantar
Saudade, meu remédio é cantar

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Anjo da inspiração



No dia 25 de julho, comemoramos o dia do escritor. Navegando pela internet, li uma definição sobre o ato de escrever que achei muito simples e realista. "Escrever é uma liberação da mente, pois, escrevendo, damos asas aos nossos pensamentos e à nossa criatividade, sem encontrarmos limites no tempo nem no espaço. Um escritor não precisa ter a missão de salvar o mundo, mas deve carregar a responsabilidade de ser honesto consigo mesmo e com os outros, pois um dia seus escritos podem ser lidos por alguém, formando opiniões".


O cuidado com aquilo que se escreve é um tema que de vez em quando me toma de assalto. Isso porque realmente acredito que somos responsáveis por aqueles que cativamos com nossos meios de expressão. E em homenagem ao dia do escritor, vou me ater à forma escrita. Quem sabe um dia, o que eu escrevo possa interferir na vida de alguém, assim como uma coleção de letras ordenadas sob a forma de poema, prosa, letra de música, roteiro de cinema ou até rabiscadas em uma parede, ou num quadro, interfeririam na minha. 


Quando tive a primeira decepção amorosa, busquei consolo nas letras de Chico Buarque, e junto com ele lancei a pergunta retórica, como nos versos de Almanaque, "...Me responde por favor/Pra onde vai o meu amor/Quando o amor acaba.../Me responde por favor/Pra que que tudo começou/Quando tudo acaba"...


E, então, na separação, sem entender as razões de como o sentimento se transforma, Vinícius de Moraes veio com sua poesia me contar que é assim mesmo: "De repente do riso fez-se o pranto/Silencioso e branco como a bruma/E das bocas unidas fez-se a espuma/E das mãos espalmadas fez-se o espanto...De repente da calma fez-se o vento/Que dos olhos desfez a última chama/E da paixão fez-se o pressentimento/E do momento imóvel fez-se o drama".

Quando Deus me presenteou com o amor incondicional, com o nome de João, aprendi a respeitar o medo e a agraciar a coragem para que ela nunca me faltasse. Foi então que o conselho de João Guimarães Rosa me serviu " O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem..."


Também me deparei com a saudade de parentes e amigos que se mudaram para longe ou partiram deste mundo e então entendi o que os versos de Pablo Neruda ensinam: "Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já..."

Deixo aqui, portanto, minha pequena homenagem a todos os escritores  profissionais, poetas de ocasião, compositores e amadores, como eu. A todos que emocionam com seus escritos, promovem reflexão, levantam questionamentos! E a tantos "anjinhos", humanos ou não como nos filmes de Wim Wenders que sopram em nossos ouvidos para que possamos escrever a coisa certa com destino certo e que muita gente chama de inspiração!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Um pássaro sem plano de voo




Existem pessoas que conseguem manifestar divinamente suas angústias, medos, revoltas e questionamentos por meio da arte. Pessoas verdadeiramente abençoadas pelo dom de saber transmitir emoções e estimular diversas instâncias da consciência para dar um significado único a cada obra, seja uma pintura, uma poesia, uma canção, uma dança... Tem gente que lateja arte.

Até assistir ao filme do diretor chileno Andrés Wood, Violeta foi para o céu, que mergulha na vida da artista Violeta Parra, só conhecia uma face da artista, a música, belíssimas canções, como Gracias a la vida, que expressa a alma da sua nação e protesta contra injustiças sociais. Violeta cantava contra o imperialismo, era a voz dos camponeses pobres e oprimidos. Como foram no Brasil as canções de Chico Buarque, Geraldo Vandré, Elis Regina e outros artistas que entoaram hinos de liberdade em resistência à ditadura militar.

Mas o talento da chilena Violeta Parra não ficou restrito apenas à sua música, que já seria bastante: também foi colecionadora, poetisa, pintora, escultora, bordadeira e ceramista. Uma artista multifacetada, uma dessas pessoas que lateja arte, como descrevi no início. Em 1964, o jornal francês Le Figaro escreveu: Leonardo da Vinci terminou no Louvre. Violeta Parra começa nele.
A vida, as pessoas, sobretudo a tradição popular foram a sua escola. Não seguia regras, somente a intuição. Aos mais novos ela aconselhou: "Escreva como você gosta, use os ritmos que aparecerem, tente diferentes instrumentos, sente-se ao piano, destrua o que é linear, grite ao invés de cantar, arrase na guitarra e toque a buzina. Odeie matemática e ame redemoinhos. Criação é um pássaro sem um plano de vôo, que nunca irá voar em uma linha reta".
Em tempos onde a arte é tratada como mercadoria, quando muitas "canções" incentivam o fútil, o consumismo exacerbado seja de coisa ou de gente é fundamental lembrar de Violeta Parra e de tantos outros artistas que colocaram sua arte à serviço daqueles que são impedidos de se expressar pela repressão do poder, da fome e da ignorância.Gracias a Violeta Parra!


˝Gracias a la vida que me ha dado tanto/ Ha dado la risa me ha dado el llanto/ Así yo distingo dicha de quebranto/ los dos materiales que formam mi canto/ Y el canto de ustedes que es el mismo canto/ Y el canto de todos que es mi proprio canto. Violeta Parra

sexta-feira, 6 de julho de 2012

'Medianeras', barreiras a serem quebradas


Somente esta semana consegui assistir ao filme argentino Medianeras, de Gustavo Taretto. Gostei muito do tema abordado a solidão na era do amor virtual e mais ainda da maneira um tanto poética como ele o apresentou. A metáfora da arquitetura como grande vilã e causadora do isolamento e da falta de comunicação entre as pessoas soa totalmente coerente quando vivemos nos tempos da solidão do delivery, do torpedo, do e-mail e do chat.

No inicio do filme, o personagem diz, “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a insegurança, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e da construção civil. Desses males, salvo o suicídio, padeço de todos”. Ele narra enquanto é mostrada uma sequência de prédios erguidos em Buenos Aires, segundo o protagonista, sem nenhum critério. "Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita. É uma cidade superpovoada em um pais deserto”. 


Paradoxalmente, a cidade que une as pessoas é a mesma que as separa e a tecnologia que chegou com a promessa de nos tornar a todo tempo conectados e cada vez mais próximos ao mundo é a mesma que proporciona um estilo de vida totalmente virtual, com relacionamentos cada vez mais fluidos.

Como metáfora dos conflitos de nossa existência, o diretor usou as 'medianeras' aquelas paredes cegas voltadas para prédios vizinhos onde não há janelas. Essas paredes são o nosso lado escuro dores, fissuras, problemas varridos para debaixo do tapete. No filme, os personagens, ambos solitários, moram no que eles chamam de caixas de sapatos (nossas kitnetes) em prédios vizinhos e decidem abrir janelas nessas paredes para que entre luz. Uma janela acaba ficando de frente para a outra e, nesse momento, eles se enxergam. É quando também eles começam a sair dessa situação solitária o buraco aberto representa uma mudança de vida.


Acho que é uma bela reflexão a fazermos: começarmos a abrir janelas em nossas vidas em busca de mais proximidade real, de uma verdadeira comunicação; tomarmos, enfim, coragem para consertar antigas fissuras...Os personagens decidiram acabar com um modo de vida isolado e escuro. Cabe a cada um de nós quebrar barreiras, nossas 'medianeras' individuais que impedem que entrem mudanças em nossas vidas.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Luiz Gonzaga, saudade no coração



Estamos comemorando o centenário de Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião". O músico era hábil em tocar na sanfona valsas, jazz, mazurcas europeias e outros estilos comuns da época, mas foi tocando os ritmos tradicionais nordestinos que ganhou reconhecimento. Hoje, é reverenciado pelo xote, xaxado, toada, forró, além do baião.

Adoro ouvir suas melodias apimentadas e recheadas de convites para dançar, amar, namorar, chamegar... Quando sua sanfona chora, todos os sentidos misturam-se, uma verdadeira sinestesia. O ritmo te faz ouvir as cores e o cheiro do Nordeste, do suor exalado no forró, das comidas típicas e das coloridas bandeirolas do São João, e te remetem à visualização do molejo das tantas Mariquinhas que dançam uma boa mazurquinha.

Com o mesmo parceiro da música Dança Mariquinha, o compositor fluminense Miguel Lima, Luiz Gonzaga fez Quer ir mais eu? Vamo, vambora! A letra e o ritmo são um verdadeiro convite a tudo de bom que a sensualidade nordestina pode oferecer. Um convite tão irrecusável que se não for aceito, quem convidou vai sozinho. "Quer ir mais eu?/Vamo/Quer ir mais eu?/ Vambora/ Vambora, vambora, sem demora/ Deixa a roupa na corda/Que não vai chover agora/ Mas se você quiser ficar/ Eu vou ali, vou ali/ E volto já".

E você se sente verdadeiramente acochada e intimada a dançar quando ouve: "Eu vou mostrar pra vocês/ como se dança o baião/ e quem quiser aprender/ é favor prestar atenção/ morena chega pra cá/ bem junto ao meu coração/ agora é só me seguir/ pois eu vou dançar o baião". A música foi feita em parceria com Humberto Teixeira.

E por aí vai... A saudade cantada do Nordeste faz a gente ver a lua que só existe no sertão "Não há, ó gente, ó não, luar como esse do sertão.../oh! que saudade do luar da minha terra, lá na serra branquejando folhas secas pelo chão.../este luar cá da cidade tão escuro não tem aquela saudade do luar lá do sertão".

Ou essa mesma saudade nos remete aos tempos inocentes da infância com o Xote das meninas que abandonam as bonecas quando apresentadas à paixão. "Toda menina que enjoa da boneca/ é siná que o amor já chegou no coração".
É um centenário especialmente comemorado agora em épocas de festas juninas e com razão, afinal ele é o maior ídolo musical da cultura nordestina. Cantou as alegrias e as tristezas do sertão e migrou, como a ave Asa Branca, deixando saudade no nosso coração.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Um toque de imaginação na dura realidade


Assisti a um peça de teatro intitulada Isso é o que ela pensa. Susan, uma mulher de meia idade, de classe média, cai no jardim de sua casa. A partir desse acidente, passa a relacionar-se com uma família imaginária, paralela à sua: são figuras idealizadas e extremamente privilegiadas. Essa família é exatamente o oposto da sua: seu marido, um vigário convencido; sua cunhada, uma péssima cozinheira e seu filho adepto de uma seita onde ficou recluso durante anos sem poder falar com a mãe e o pai.

Fiquei pensando em quantas pessoas sobrevivem do imaginário por não conseguir encarar a real dureza de suas cruzes ou que buscam no imaginário a alegria que não pode ser extraída da vida real. Vi uma foto postada no facebook que mostra bem o segundo caso. São meninos, com instrumentos feitos de madeira que não tocam: as guitarras são pedaços de pau sem cordas, o pandeiro, uma bacia, a bateria, galões de plástico e microfones imaginários. E colocaram a frase de Fernando Pessoa: " A arte nasce quando viver não é o suficiente para exprimir a vida".

O imaginário salva...Ainda bem que temos esse poder. Uma vida imaginária fruto da tristeza, no caso da personagem Susan, mas uma imaginação totalmente criativa e alegre como no caso dos meninos que não tinham dinheiro para comprar instrumentos de verdade, mas se realizaram em sua arte ilusória. Como disse o filósofo Nietzsche: "A arte existe para que a verdade não nos destrua".

De uma maneira ou de outra, viver em mundos imaginários torna-se fuga necessária. Acho que as crianças são mais competentes quando se trata de buscar alegria na imaginação. A gente vai envelhecendo e vai perdendo um pouco desse poder. Quando sente-se só, logo a criança cria um amigo imaginário; se não tem presentes, imagina que a caixinha de fósforo é um carro, um papel amassado vira uma bola, duas latinha e um barbante, um telefone. E é tudo muito lúdico e lindo e a realidade torna-se mais leve... Adulto vai perdendo essa capacidade de criar, de brincar, e então, só se volta ao imaginário quando não dá conta mais da vida, como no caso de Susan. Claro que existem adultos que não perderam completamente a sua capacidade de imaginar como crianças, mas infelizmente, a maioria, sim.

O desafio do adulto é saber dosar os dois mundos, acho que a criança faz isso melhor. Não é nada simples, mas cabe em muitas situações da vida. Então, se faltarem instrumentos, a gente canta, esfrega a faca no prato, batuca no fundo do balde; se bater a solidão, a gente vai em busca daquele amigo que só se tornou imaginário pelas contingências da vida; se faltar colo do pai e da mãe, a gente imagina que o do amigo é tão caloroso quanto; se faltar um banquete, a gente imagina que o sanduíche tornou-se um; se faltar o amor, a gente imagina que estamos a um passo de encontrá-lo. E quem sabe os dias tornem-se mais leves e a realidade menos dura!

Feliz imaginação

Quando imagino felicidade
foge de mim a dor
corre veloz, voa distante
pois em mim não encontra ardor

Quando imagino felicidade
o corpo deixa de ser teso
a alma brilha liberta
a mente livra-se do peso

Quando imagino felicidade
vejo-a com rosto de criança
com sorriso impregnado
marcado em minha lembrança

Quando imagino felicidade
tristeza fica deprimida
toma logo distância
busca logo a partida.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Presentes atrasados



Hoje é aniversário do amor da minha vida, meu lindo menininho está fazendo seis anos. Então, pela manhã, entre beijos, guerra de travesseiros e abraços apertadíssimos ele me disse:  Mãe, você vai ganhar um monte de presentes junto comigo, né? Seu aniversário foi semana passada, por que você ainda recebe presentes?
Só me ocorreu a seguinte resposta:  Filho, até Deus atrasou um pouquinho para me dar o maior presente da minha vida que é você. Meu aniversário é no dia 04 e você só veio no dia 14!
Brincadeiras a parte, depois fiquei pensando no quanto somos ansiosos quando se trata da realização de nossos pedidos. Esperei 32 anos e 10 dias pelo maior presente da minha vida e me sinto totalmente ansiosa em relação a desejos infinitamente menos importantes... Louco, não?
Então, acho que a maturidade nos traz alguns ensinamentos. Um deles é saber que o tempo de Deus não é o mesmo que o nosso. É uma frase que vivem repetindo por aí, mas só a experiência nos ajuda a colocá-la em prática. Não adianta a gente querer por querer, é preciso estarmos preparados para receber. Talvez seja esse o motivo de o "presente" não chegar no nosso momento, muitas vezes nem nós mesmos nos damos conta de que ainda estamos imaturos para encarar determinada situação.
Outro ensinamento é darmos a devida valoração ao acontecimentos e pessoas que nos cercam. Quando a gente souber fazer isso, nos daremos conta de que somos privilegiados e de que a vida nos presenteia a todo tempo, de várias maneiras, seja com a presença de pessoas importantes ou com um belo pôr do sol, um ipê rosa mega florido.
Hoje eu tenho um duplo agradecimento à vida. Por meu pequeno, que nem tenho palavras para descrever o tamanho da sua importância, porque é um tanto tão infinitamente grande que nem cabe em mim, que nem sei dizer. E por outro presente que não esperei tanto tempo assim para receber, nem três anos... Coincidência ou não, hoje também é aniversário da minha irmãzinha (tão pequenininha) que também amo tanto.
Agradeço a Deus pelos "presentes atrasados", no meu caso são os melhores e mais amados!
Beijo, saúde, felicidade e muito amor para os dois!!!!! 

terça-feira, 12 de junho de 2012

O Músico e a Poetisa (para os amores contrariados)



Você vive entre os sustenidos
e nas letras busco sentidos
Caminhas pela clave de sol
e do alfabeto vivo em prol

DÓ RÉ MI FA SOL ...
...
Nas músicas vejo palavras
suas melodias a elas dão asas
as letras juntam-se em ilhas
você as transforma em trilhas

... LÁ SI DÓ

Mas o que é a poesia
sem a tua melodia?
É ponto sem nó
amor sem dó

Quero uma partitura completa
que não seja breve, nem semibreve
Repleta de bequadros e bemóis
como iscas em anzóis

Ainda que seja confusa
com suas fusas e semifusas
partitura em branco é muito só
encha-a de notas e amor sem dó

...RÉ MI FA SOL ...
por Anoushe Duarte 


Feliz dia dos namorados!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Viver para contar"



Comecei a ler esta semana o livro Viver para Contar, de Gabriel García Marquez. Devoro os livros dele, realmente gosto muito, e esse me encantou logo de cara por dois motivos: um por se tratar de suas memórias e outro pela epígrafe. "A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la".
O "como recorda", no caso do autor, faz toda a diferença em sua literatura  realidade recheada de fantasia. No livro, ele conta que se inspirou no amor dos pais para escrever o meu romance preferido: O amor nos tempos do Cólera. Referindo-se às narrativas dos pais sobre como se conheceram e vivenciaram o amor, diz: "Os dois eram excelentes narradores, com a memória feliz do amor, mas chegaram a se apaixonar tanto em seus relatos que quando finalmente decidi usar essa memória em O amor nos tempos do cólera, eu, mesmo passado de meus cinquenta anos, não consegui distinguir os limites entre a vida e a poesia."
A vida é realmente o que a gente recorda e por isso ela, creio eu, é a maior escola do escritor. Lógico que você aprimora a escrita lendo, estudando, enfim... Mas, para escrever, é preciso viver, ser observador e, não poderia deixar de incluir, ser um exímio "ladrão" de histórias.
No melhor dos sentidos, García Marquez apropriou-se da história dos seus pais, a enriqueceu com o domínio das letras que tem e criou, com um toque mágico de fantasia, um dos romances mais lindos que há, na minha opinião. História brilhante porque soube contá-la, como vários de seus livros, influenciados por suas recordações e pelos relatos e vivência dos seus.
Vários livros do autor basearam-se nas experiências de sua infância. Acho que esses anos foram muito importantes para construir esse seu universo imaginativo. Ele foi criado na casa dos seus avós maternos. O avô, coronel Nicolas Márquez, veterano da guerra civil colombiana narrava-lhe suas aventuras militares e a avó, Tranquilina Iguarán, relatava fábulas e lendas que transmitiam sua visão mágica e supersticiosa da realidade.
Isso explica muita coisa da maneira como ele recorda para contar. Só mesmo uma alma recheada de boas memórias infantis poderia enxergar a realidade com tanta magia e pureza. Só mesmo uma alma ingênua de criança conseguiria criar um homem que espera 53 anos, 4 meses e 11 dias pelo amor de uma mulher; um cronista de 90 anos que se apaixona por uma adolescente virgem e adormecida e, ainda, uma cidade imaginária, Macondo, fundada por primos que se casaram assustados pelo mito de que o casamento entre familiares poderia gerar filhos com rabos de porco. Só mesmo Gabriel García Marquez... Adoro!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ditadores de nós mesmos




Terminei de ler recentemente um romance que se passa na Espanha, durante a ditadura do general Francisco Franco. O que mais me encantou foi o conteúdo histórico da narrativa, o romance acabou ficando em segundo plano. O título do livro é "O retorno" e foi escrito pela autora inglesa Victoria Hislop.

A obra conta a história de uma família que vive em Granada e é praticamente exterminada pela ditadura de Franco. No entanto, a frase que mais me chamou atenção foi dita por um personagem de fora da trama central. Trata-se de um professor de filosofia que, após o fim da guerra civil espanhola, foi capturado e obrigado a trabalhar na construção do Valle de los caídos. O Valle é um memorial franquista monumental e basílica, erguido em memória dos nacionalistas mortos durante a guerra. Ao perceber as péssimas condições dadas aos prisioneiros, assemelhadas à escravidão, o professor falou: ─ Eles podem escravizar meu corpo, mas minha alma me pertence.

É interessante o poder de frase soltas nos fazerem refletir... Essa frase não me saiu da cabeça por muito tempo. Fiquei pensando nas diversas maneiras de termos nossas almas escravizadas, mesmo fora das épocas de ditadura. E, muitas vezes, as tentativas vêm de nós mesmos ─ a todo tempo presenciamos pessoas negociando sua moral e ideologia por dinheiro e poder.

Pior do que ter o corpo escravizado é ter a alma. Mesmo que não seja por dinheiro ou poder, há outras maneiras de tornar as nossas almas escravas. Nós a escravizamos quando nos permitimos viver situações que vão de encontro à nossa maneira de ser por comodismo; quando não falamos o que precisa ser dito por covardia; quando cedemos a chantagens porque nos convém; quando praticamos o errado, conscientes do erro, para tirar proveito disso; quando julgamos e nos consideramos superior; quando não respeitamos as diferenças de raça, sexo, pensamentos e ideologias.

Toda vez que contrariamos a nossa essência estamos escravizando um pouco a nossa alma... É bom a gente refletir sobre o que nos leva a isso, antes que não haja mais maneira de quebrar correntes, sair da escuridão do isolamento, que já não consigamos mais viver sem as chibatadas, antes que a gente se torne ditadores de nós mesmos.  

terça-feira, 8 de maio de 2012

Palavras ao vento



Tenho respeito pelas palavras... Elas me assombram dia e noite, da sua combinação tiro o meu sustento, com elas educo meu filho, plasmo o meu ser, me faço conhecida. Elas me libertam e me aprisionam. Se chegam, me expresso, sou livre; se não chegam, vivo a angústia de sentimentos contidos, encarcerados em mim mesma.
As palavras ganham o mundo, convencem... Podem ser doces, musicadas, suaves poemas ou agressivas, sádicas, purulentas... Podem ser verdadeiras ou jogadas ao vento...
Não, ao vento não! Tento que não sejam. Como disse, as respeito. E por respeito, tento trazê-las ao mundo após uma reflexão. Ou duas...ou três...Nascidas, paridas do verdadeiro sentimento. Não as prostituo, elas não têm preço e, sim, valor. Muito valor, me acompanham desde sempre!
Antes mesmo de torná-las sonoras, as palavras me conferem identidade neste mundo burocrático, de papéis. Meu nome, a primeira, seguido do sobrenome que denomina a raiz a qual pertenço. E me apresentam um alfabeto inteiro para que eu possa dar significado aos meus desejos. E as uso ao meu bel prazer... No início, apenas sobrevivência:  Fome!  Sede!  Xixi! Depois, sobrevivência social:  Quero brincar!  Não gosto que gritem comigo!  Gosto de você! Sempre sinceras, geradas na pureza da infância.
Daí vem a adolescência, vão ficando mais agressivas, mas ainda sinceras. Todas aquelas angústias a gente verdadeiramente sente. E as palavras vão ajudando a concretizar e a construir a nossa identidade. Soam rebeldes, questionadoras, arrogantes, mas vêm acompanhadas de "se", "será?", "por que?". Frases inteiras bem ditas, sentidas, porém inseguras... Mas a adolescência é o momento das frases a serem descobertas, a serem compostas, e, por isso, as palavras continuam sendo sinceras.
Na fase adulta. É aí que a gente se perde! É a hora dos ditos não sentidos e dos sentidos não ditos. É a hora em que se prolifera a palavra medo. Palavras ao vento... Não! Eu tento que não. Eu tenho respeito pelas palavras. Ou não me valeria delas para contar histórias, para descrever o que vi, para acalentar ou chamar atenção, para aliviar minhas dores, as dos outros, abraçar com elas. Sim, as palavras abraçam, sempre e quando verdadeiras... Quem me dera houvesse mais palavras acertadas, atreladas a verdades sinceras e não forjadas. Eu respeito as palavras e acredito nelas... Respeite-as também! Esse é o meu manifesto: não jogue palavras ao vento! 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Escolhas...


Meu filho, de apenas cinco anos, outro dia desses me perguntou porque ele havia nascido. Eu, prontamente respondi: — Filho, mamãe queria muito uma criança exatamente como você e pedi ao “papai do céu” que realizasse o meu desejo. Eu te escolhi, filho.
Pensei que a resposta tivesse sido suficiente, mas para a minha surpresa ele respondeu com muita segurança: — Não foi assim, mamãe. Então eu perguntei: —E como foi então? E ele respondeu: —Eu te escolhi, mamãe. Eu te escolhi e você escolheu quem seria o meu pai.
Achei uma resposta tão cheia de sentido... Uma criança de apenas cinco anos já tem a percepção de que a vida é uma sucessão de escolhas, desde o princípio. Sobre algumas, temos total controle, outras, no entanto, são impostas pela vida, por Deus, Universo, seja lá qual for a crença que tenhamos, mas ainda assim são escolhas.
Muitas vezes me pego reclamando de situações em minha vida sem parar para pensar que elas são fruto exclusivo de minhas más escolhas. E como eu, muita gente liga o botão RECLAMAR e sai por aí se achando a vítima do mundo sem refletir sobre a causa do problema. —Estou estressado! Mas continua se entupindo de trabalho! — Estou gorda! Mas não decide mudar hábitos, incluir exercícios e uma alimentação saudável. —Quero um relacionamento! Mas não se dedica, não sabe ceder, não está disposto a dividir. —Não tenho dinheiro! Mas lota o armário de coisas desnecessárias.
Parece óbvio, mas colocar em prática nossas escolhas não é nada fácil. Muito menos aceitar que fizemos escolhas erradas, acho que dói mais... Fazer o quê? ¨Quem disse que viver é fácil?¨.
Uma amiga e assídua leitora aqui do blog, Giselda, me pediu há algum tempo, que escrevesse sobre a dor de uma separação e a aceitação de uma nova vida. Achei difícil escrever sobre o assunto... Mas quando, recentemente, ela me escreveu dizendo que superou e já tem proposta de casamento para o ano que vem, logo pensei, é isso aí garotinha, fez a escolha certa! Escolheu seguir, sair da dor... Fácil não deve ter sido, mas foi necessário e a recompensa de um novo amor só veio porque a escolha dela foi libertar-se do passado e se abrir para um novo relacionamento.
Fico feliz que Giselda escolheu bem e honrada com a escolha do meu filho. Só posso provar da grande experiência de amar incondicionalmente graças à escolha dele. Honrada e ciente da enorme responsabilidade que tenho com essa escolha, de ensinar, amar e conduzi-lo a caminhos que o leve a ter o maior número de escolhas acertadas nesta vida! E hoje, do nada, ele me disse: — Mãe, você é do jeitinho que eu escolhi! Te amo João, meu sábio menininho...