Eu
li "O Pequeno Príncipe", de Antoinede Saint-Exupéry,
na minha infância e o deixei esquecido até este ano, quando resolvi
lê-lo para meu filho. Logo na dedicatória, o autor pede desculpas
por haver dedicado o livro a um adulto, já que se trata de uma
história infantil, mas logo ele explica o porquê: o homem a quem
dedicou, Léon Werth, é o seu melhor amigo e é uma pessoa capaz de
compreender tudo, até os livros infantis. Então, ele corrige a
dedicatória e a faz à criança que existe nesse homem grande,
afinal todos nós já fomos meninos...
Pensei
em ler “O Pequeno Príncipe” para meu filho com um "olhar"
de adulta e esqueci-me do poder que ele tem de arrancar a criança
que de fato existe em nós
desperta ou adormecida. Acho que a minha estava um pouco adormecida,
porque ela se emocionou de uma maneira tão intensa que parecia mesmo
desperta de um sono profundo.
Já meu filho ouviu a
história com o “olhar” de criança, que é carregada de
ingenuidade, bondade, curiosidade e uma certa perplexidade em relação
aos mundos e às pessoas desbravados pelo principezinho. Perplexidade
de quem não entende as contradições dos adultos. “Quando
a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a
toalete do planeta”,
explicou o pequeno príncipe sobre a sua maneira de cuidar do seu
planeta. Imagine se ele descobrisse o que os adultos estão fazendo
com natureza no planeta terra...
Acho que a minha criança ficou mais comovida que a criança do meu filho porque aquela já havia deixado de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas e criado consciência em relação às maldades e contradições do mundo. Esta já não...
Então,
infelizmente, a minha criança adormecida entristeceu-se porque sabe
que, apesar da personagem Raposa
do livro ensinar que "o
essencial é invisível aos olhos e que tu te tornas eternamente
responsável por aquilo que cativas", essa preocupação não
existe para a maior parte das pessoas e também porque há muitos
seres humanos iguais aos "donos dos mundos" encontrados
pelo principezinho ao longo de suas andanças pelo espaço.
Personagens
como o do Bêbado
que bebe para esquecer que tem vergonha de beber ou do Homem
de Negócios,
que se ocupa em possuir as estrelas, acumulando-as, e perde tanto
tempo em contar o que acumulou que não pode desfrutar a vida. Ou
ainda como o do Vaidoso
que só ouvia elogios, ou do Astrônomo
Turco
que é desprezado pela comunidade científica até aparecer com
elegantes roupas ocidentais.
Acho
que “O Pequeno Príncipe” é leitura obrigatória, principalmente
para os adultos, pois suas lições são atuais e inspiradoras.
Lições como a do Rei,
o primeiro personagem encontrado pelo principezinho após decidir
sair de seu planeta. O soberano explica que tem direito a exigir
obediência porque suas ordens são sensatas e que é preciso exigir
de cada um o que cada um pode dar. Sobre isso, ainda ensina: “Tu
julgarás a ti mesmo – respondeu o rei. – É o mais difícil. É
bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se
consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio".
E
a melhor lição do livro, capaz de resgatar qualquer criança
perdida no interior do mais adulto dos adultos, é a de que as
pessoas se tornam únicas quando as cativamos: "Foi
o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante".
Sabemos que é preciso cativar, mas na
correria do dia a dia, esse verbo tornou-se artigo de luxo. Como a
sábia raposa mesmo disse: "Os homens não têm mais tempo de
conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como
não existem lojas de amigos,
os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me".
os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me".
Cativar,
para a criança, é automático. Se ela gosta, cuida, assim como o
pequeno príncipe cuidou de sua flor e de seu planeta. Nós, não!
Damos importância a coisas tão tolas e esquecemos do essencial.
Parece que a gente vai desaprendendo... É preciso que nós adultos
tenhamos mais compromisso em relação ao mundo em que vivemos e às
pessoas que passam por nossas vidas, mesmo que, para isso, seja
preciso arrancar, na marra, a criança que ficou perdida dentro de
nós.
-
Se alguém ama uma flor da qual só exista um exemplar em milhões e
milhões de estrelas, isso basta para fazê-lo feliz quando a
contempla. Ele pensa: "Minha flor está lá, em algum lugar..."
Mas se o carneiro come a flor, é, para ele, como se todas as
estrelas se repentinamente se apagassem! E isto não tem importância?
"
(O Pequeno Príncipe).
Anoushe, Amei. E na verdade perdemos tanto tempo correndo atrás do supérfluo que esquecemos o essencial...
ResponderExcluirBeijos e obrigada pela excelente leitura.
Obrigada, minha linda! Saudades de você!
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