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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lições do pequeno príncipe



Eu li "O Pequeno Príncipe", de Antoinede Saint-Exupéry, na minha infância e o deixei esquecido até este ano, quando resolvi lê-lo para meu filho. Logo na dedicatória, o autor pede desculpas por haver dedicado o livro a um adulto, já que se trata de uma história infantil, mas logo ele explica o porquê: o homem a quem dedicou, Léon Werth, é o seu melhor amigo e é uma pessoa capaz de compreender tudo, até os livros infantis. Então, ele corrige a dedicatória e a faz à criança que existe nesse homem grande, afinal todos nós já fomos meninos...

Pensei em ler “O Pequeno Príncipe” para meu filho com um "olhar" de adulta e esqueci-me do poder que ele tem de arrancar a criança que de fato existe em nós desperta ou adormecida. Acho que a minha estava um pouco adormecida, porque ela se emocionou de uma maneira tão intensa que parecia mesmo desperta de um sono profundo.

Já meu filho ouviu a história com o “olhar” de criança, que é carregada de ingenuidade, bondade, curiosidade e uma certa perplexidade em relação aos mundos e às pessoas desbravados pelo principezinho. Perplexidade de quem não entende as contradições dos adultos. “Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta”, explicou o pequeno príncipe sobre a sua maneira de cuidar do seu planeta. Imagine se ele descobrisse o que os adultos estão fazendo com natureza no planeta terra...

Acho que a minha criança ficou mais comovida que a criança do meu filho porque aquela já havia deixado de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas e criado consciência em relação às maldades e contradições do mundo. Esta já não...

Então, infelizmente, a minha criança adormecida entristeceu-se porque sabe que, apesar da personagem Raposa do livro ensinar que "o essencial é invisível aos olhos e que tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", essa preocupação não existe para a maior parte das pessoas e também porque há muitos seres humanos iguais aos "donos dos mundos" encontrados pelo principezinho ao longo de suas andanças pelo espaço.

Personagens como o do Bêbado que bebe para esquecer que tem vergonha de beber ou do Homem de Negócios, que se ocupa em possuir as estrelas, acumulando-as, e perde tanto tempo em contar o que acumulou que não pode desfrutar a vida. Ou ainda como o do Vaidoso que só ouvia elogios, ou do Astrônomo Turco que é desprezado pela comunidade científica até aparecer com elegantes roupas ocidentais.

Acho que “O Pequeno Príncipe” é leitura obrigatória, principalmente para os adultos, pois suas lições são atuais e inspiradoras. Lições como a do Rei, o primeiro personagem encontrado pelo principezinho após decidir sair de seu planeta. O soberano explica que tem direito a exigir obediência porque suas ordens são sensatas e que é preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. Sobre isso, ainda ensina: Tu julgarás a ti mesmo – respondeu o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio".

E a melhor lição do livro, capaz de resgatar qualquer criança perdida no interior do mais adulto dos adultos, é a de que as pessoas se tornam únicas quando as cativamos: "Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante". Sabemos que é preciso cativar, mas na correria do dia a dia, esse verbo tornou-se artigo de luxo. Como a sábia raposa mesmo disse: "Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos,
os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me".

Cativar, para a criança, é automático. Se ela gosta, cuida, assim como o pequeno príncipe cuidou de sua flor e de seu planeta. Nós, não! Damos importância a coisas tão tolas e esquecemos do essencial. Parece que a gente vai desaprendendo... É preciso que nós adultos tenhamos mais compromisso em relação ao mundo em que vivemos e às pessoas que passam por nossas vidas, mesmo que, para isso, seja preciso arrancar, na marra, a criança que ficou perdida dentro de nós.


- Se alguém ama uma flor da qual só exista um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para fazê-lo feliz quando a contempla. Ele pensa: "Minha flor está lá, em algum lugar..." Mas se o carneiro come a flor, é, para ele, como se todas as estrelas se repentinamente se apagassem! E isto não tem importância? " (O Pequeno Príncipe).









terça-feira, 2 de outubro de 2012

A grandeza do anonimato



Outro dia desses estava conversando com um amigo, quando ele lançou a seguinte reflexão: você já parou para pensar que grande parte das pessoas que efetivamente fazem algo para melhorar o mundo vivem no anonimato? Ele se referiu às pessoas que realizam algo e pretendem, deliberadamente, esconder a sua identidade, ou ao menos não ficam por aí alardeando suas ações...

Também seriam essas pessoas que agem no silêncio nossos heróis? A nossa história é marcada pelos feitos espetaculares e grandiosos de vários nomes reverenciados por nós. Mas parece que se o ato não se torna público e pessoal não é devidamente reconhecido. Não como um ato heroico. Não enxergamos grandeza no anonimato.

O filósofo e escritor indiano Jiddu Krishnamurti já dizia que a grandeza é o anonimato. "... e ser anônimo é a maior das coisas. As grandes catedrais, as grandes coisas da vida, as grandes esculturas são obras anônimas. Não pertencem a ninguém, em particular, tal como a verdade. A verdade não pertence nem a vós, nem a mim; ela é de todo impessoal e anônima. Se afirmais possuir a verdade, não sois então anônimo, e sois muito “mais importante do que a verdade..."

Grande então é aquele político septuagenário que recebe um salário de pouco mais de R$ 25 mil, mas doa 90% para instituições assistenciais que cuidam de pessoas pobres. Sobra-lhe R$ 2,5 mil, que segundo ele é suficiente para sustentar a família e abastecer o carro, um fusca. Ou o casal que, ao longo de vinte anos adotou mais de 23 crianças, entre elas, dois casais de gêmeos. Algumas delas têm necessidades especiais e foram abandonadas pelos pais biológicos em creches e hospitais públicos. A família se mantém com R$ 1500 e a renda da fabricação de doces. E tem ainda aquele homem que morreu ao resgatar um desconhecido que havia caído dentro de um poço de uma cisterna...

Pessoas como eles existem? Sim, existem... E é um alento a nossos corações sabermos disso, afinal, vivemos cercados de exemplos de corrupção, maldade e desgraças, amplamente alardeadas... Mas não interessa o nome do rapaz que morreu por um desconhecido ou se o político é o seu Francisco e o casal é Maria e José... O que interessa é que herois como eles efetivamente melhoram o mundo e são exemplos reais de que grande é o anonimato.