Tenho
respeito pelas palavras... Elas me assombram dia e noite, da sua
combinação tiro o meu sustento, com elas educo meu filho, plasmo o
meu ser, me faço conhecida. Elas me libertam e me aprisionam. Se
chegam, me expresso, sou livre; se não chegam, vivo a angústia de
sentimentos contidos, encarcerados em mim mesma.
As
palavras ganham o mundo, convencem... Podem ser doces, musicadas,
suaves poemas ou agressivas, sádicas, purulentas... Podem ser
verdadeiras ou jogadas ao vento...
Não,
ao vento não! Tento que não sejam. Como disse, as respeito. E por
respeito, tento trazê-las ao mundo após uma reflexão. Ou duas...ou
três...Nascidas, paridas do verdadeiro sentimento. Não as
prostituo, elas não têm preço e, sim, valor. Muito valor, me
acompanham desde sempre!
Antes
mesmo de torná-las sonoras, as palavras me conferem identidade neste
mundo burocrático, de papéis. Meu nome, a primeira, seguido do
sobrenome que denomina a raiz a qual pertenço. E me apresentam um
alfabeto inteiro para que eu possa dar significado aos meus desejos.
E as uso ao meu bel prazer... No início, apenas sobrevivência:
Fome!
Sede!
Xixi! Depois, sobrevivência social:
Quero brincar!
Não gosto que gritem comigo!
Gosto de você! Sempre sinceras, geradas na pureza da infância.
Daí
vem a adolescência, vão ficando mais agressivas, mas ainda
sinceras. Todas aquelas angústias a gente verdadeiramente sente. E
as palavras vão ajudando a concretizar e a construir a nossa
identidade. Soam rebeldes, questionadoras, arrogantes, mas vêm
acompanhadas de "se", "será?", "por que?".
Frases inteiras bem ditas, sentidas, porém inseguras... Mas a
adolescência é o momento das frases a serem descobertas, a serem
compostas, e, por isso, as palavras continuam sendo sinceras.
Na
fase adulta. É aí que a gente se perde! É a hora dos ditos não
sentidos e dos sentidos não ditos. É a hora em que se prolifera a
palavra medo. Palavras ao vento... Não! Eu tento que não. Eu tenho
respeito pelas palavras. Ou não me valeria delas para contar
histórias, para descrever o que vi, para acalentar ou chamar
atenção, para aliviar minhas dores, as dos outros, abraçar com
elas. Sim, as palavras abraçam, sempre e quando verdadeiras... Quem
me dera houvesse mais palavras acertadas, atreladas a verdades
sinceras e não forjadas. Eu respeito as palavras e acredito nelas...
Respeite-as também! Esse é o meu manifesto: não jogue palavras ao
vento!
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