Na semana passada assisti a uma peça de teatro chamada "A Carne do Mundo". O espetáculo é denso, com recursos da psicanálise e da literatura, e tem a proposta de discutir as perversões presentes no dia-a-dia das relações amorosas. E o que mais me chamou a atenção foram os diálogos. Lamentei, mais uma vez, não ter onde anotar algumas frases que me impactaram.
Em algum momento da peça, um deles (do casal) levantou a questão do vazio ao lado: como é conflitante conviver diariamente com uma pessoa, dormir na mesma cama, compartilhar seu corpo, sua rotina e não ter a menor ideia do que se passa na mente e na alma do seu companheiro(a). Ao menos essa foi a minha leitura do que pode ser o vazio ao lado. E isso vale não só para o seu companheiro(a), mas para o colega de trabalho ao lado, mãe, pai, filho(a), vizinho(a), seus empregados(as), enfim...
É muito difícil transpor a obviedade da rotina e penetrar no universo alheio... Ou seja, se ela(e) está comendo, bebendo, trabalhando, logo, está feliz. Será? Talvez você não se pergunte porque te doa muito saber... Mais fácil então manter-se numa zona de conforto, que reforça a solidão acompanhada — não sei o que te incomoda, não sei o que você gosta, não sei o que você quer, não sei o que você sente. A gente vive mesmo é se cercando de justificativas que nos impedem de avaliar o quão ausente somos na vida alheia. E se a consciência não pesa — não ligo porque ele(a) não liga, não pergunto porque ele(a) é fechado(a), não abraço porque ele(a) não gosta — a gente segue achando que está oferecendo o melhor de si.
E é uma via de mão dupla. Você acaba se tornando tão bom em não perguntar e não responder que, dependendo do tempo que permaneça nesse jogo, descobre que já nem sabe mais o que esconder: um dia você acorda e já não sabe mais o que você gosta, o que você quer, quem é você. Doido o ser humano, não? Como a gente complica onde não deveria existir complicação...
Li um trecho de uma crônica da Marta Medeiros, referindo-se a relacionamentos amorosos, e finalizo com ele para vocês refletirem um pouco mais...
"... Mas amar também dói muito quando ele não sabe o que você sente. Não engane tal pessoa, não seja grosso(a) e rude esperando que ela(e) adivinhe o que você quer. Não o force a terminar contigo, pois a melhor forma de ser respeitado é respeitando."
Interessante! Já ouvi por aí dizerem que a pior solidao é a "solidao a dois", essa "solidao acompanhada". Em muitos relacionamentos isso ainda persiste porque muita gente nao tem coragem de enfrentar os fatos, libertar o outro ou se libertar, quem sabe...Porque é muito mais fácil viver na zona de conforto e ir empurrando com a barriga.
ResponderExcluirOi, querida! Gracias por compartilhar seus pensamentos! Então, eu iria mais longe. Eu iria no meu relacionamento comigo mesma. Quantas vezes tenho deixado de sair da zona de conforto porque não me interessa mudar, porque vai doer, porque vai mexer com tanta coisa já guardada e assentada. Pois a melhor coisa é sacudir a poeira, levantar tudo, sair da zona de conforto e conversar consigo mesmo! A vida fica muito mais bonita e muita coisa se transfere para os relacionamentos a dois e também com a família, os amigos, os colegas de trabalho e o mundo! Eu recomendo o diálogo interno!!! Beijocas
ResponderExcluirAmei, Nunu!!Que orgulho da minha amiga escritora, com esta sensibilidade, criatividade e humanidade!! Parabens a vcs por esta linda iniciativa!! Beijos, Liliane
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