Outro dia desses li uma matéria em uma revista sobre um missionário americano que viveu 25 anos na Floresta Amazônica e estudou a fala da tribo Pirahãs. Segundo ele, é o idioma mais enxuto e simples já conhecido. Não há números, nem nomes para as cores e para os Pirahãs só importa o presente, eles não usam os tempos verbais. Também não formam orações subordinadas.
Outra característica curiosa dessa tribo é o fato de seus membros não acreditarem em nada que eles não possam ver, sentir ou que não possa ser provado ou presenciado. Por esse motivo a tribo não acredita em espírito supremo ou divindade criadora, apenas em espíritos menores que às vezes tomam a forma de coisas no ambiente e que a terra e o céu sempre existiram, ninguém os criou.
A maneira de pensar dos Pirahãs em relação ao começo do mundo e à sua própria origem também explica o porquê de não usarem passado ou futuro: para eles tudo é o mesmo, as coisas sempre são. Ao que tudo indica, o sistema lingüístico dessa tribo acabou determinando o seu modo de vida e o conteúdo do seu pensamento: simplicidade.
É mesmo uma maneira bastante simples de enxergar as coisas, principalmente se compararmos ao estilo de vida da sociedade atual onde parece que o tempo onde menos se vive é o presente: trabalhamos para ter dinheiro e cuidar da saúde só no futuro, para viajar quem sabe um dia, para ter tempo quando nos aposentarmos. No hoje, cultivamos os traumas do passado, para quem sabe no futuro nos tornamos pessoas melhores. Quando não são os traumas do passado, alimentamos ansiedades e expectativas em relação ao que poderíamos ser, ao que poderíamos ter, a quem poderia estar ao nosso lado e nos esquecemos do que somos, temos e de quem realmente está ao nosso lado.
Dizer que as coisas sempre são, como pregam os Pirahãs, me parece sábio e razoável. Não que a gente deva se conformar e não batalhar por melhorias em todos os campos, mas conseguir viver bem no tempo presente, um dia após o outro, talvez ajude a minimizar expectativas e ansiedades e a corrigir os erros do passado para que eles permaneçam onde têm que estar, bem enterrados e superados. É claro que também não dá para deixar de levar em conta toda a complexidade da vida moderna, bem diferente da vida pacata dos Pirahãs, mas guardadas as devidas proporções, talvez eles tenham razão, as coisas são e devemos mesmo é nos preocupar com o presente. Fácil? De jeito nenhum, mas quem disse que viver é fácil?
o livro que esse missionário lançou, sabe me dizer se tem ele no Brasil traduzido?
ResponderExcluirfiquei sabendo desse assunto e desse livro hoje no twitter do almanaque abril e através desse assunto cheguei até esse blog, parabéns, gostei muito.
ResponderExcluirgrato.