Meu pai, no linguajar que lhe é peculiar, sempre diz a seguinte frase antes de um conselho: "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Essa frase vem preparar o terreno contra qualquer tentativa minha de me defender atacando: "Mas o senhor também já fez isso naquele dia". Com certeza a maioria das coisas sobre as quais ele me aconselha é realmente por experiência própria, é por ter feito errado e se lascado ou até mesmo por continuar fazendo errado e não querer que eu repita o erro. Mas eu, na minha inexperiente arrogância, sempre tento convencê-lo de que, por ele errar, não tem o direito de me chamar atenção... E sempre foi assim... Aos 15, aos 20, aos 30 e alguns... Porque se tem uma pessoa que também faz coisa errada, esse é o meu pai. Assim como eu, assim como cada um de nós que está aqui neste mundo, tentando acertar.
Mas uma coisa, entre tantas outras, ele sempre soube fazer bem: ser pai. Meu pai é pai integral. Coisa cada vez mais difícil nos dias de hoje... E ser pai integral nunca significou estar 24h juntos e muito menos viver a vida do filho. O pai integral se dedica ao trabalho, à esposa, aos seus prazeres pessoais... Ser pai integral é mais sentir do que, necessariamente, estar. Parece estranho eu, que sou mãe, e não pai, falar desse sentimento. Mas o maior beneficiário da dedicação e benção de ter um pai integral é mesmo o filho. Portanto, sinto-me capacitada e "avalizada" para dizer o que é ter um pai integral. É o sentimento de segurança, de poder contar sempre... Um sentimento construído ao longo da vida, mas sentido desde o primeiro encontro. É ter a certeza de que você não é um encaixe em sua vida... Ainda que ele seja daqueles que trabalham demais, viajam demais...
Enfim, sempre tive a certeza de que meu pai curtiu muito me trazer ao mundo. Presenciou cada acerto, sofreu junto cada derrota e sempre gostou da minha companhia. Nunca deixou que uma feição de tristeza minha passasse despercebido: sempre tive que dar uma explicação convincente para um olho vermelho de choro. Esse é o meu pai e gostaria que todos fossem assim: cheio de defeitos, como todos nós, mas com o propósito firme de tornar o filho "gente".
Hoje em dia vejo cada vez menos pais com esse propósito. Com certeza existem muitos, mas infelizmente também encontram-se muitos pais cujo 100% de doação ao filho é apenas 50%. Eu nem estou falando aqui do pai assassino, pedófilo ou o que some no mundo. Mas de outra figura: a do pai presente-ausente. É aquele que faz um pouquinho e assim arruma uma justificativa pra se sentir bem em relação ao filho e ao mundo. Pois como diria uma grande amigo: "O ser humano arruma justificativa para tudo". Ele está ali naqueles momentos que não dão muito trabalho e que não atrapalham o desenrolar da sua vida. Tudo que deixa de fazer pelo filho é privação e aí o entretenimento da criança deixa de ser o cineminha, o parquinho, o teatro para ser o chope com amigos, o futebol e qualquer outra programação adulta: a criança vira encaixe. É lógico que não falo do "de vez em quando". Afinal, é natural isso, às vezes, acontecer. Eu descrevo aqui o recorrente, quando estar junto se torna uma obrigação.
O pai presente-ausente paga as contas mas não pede explicações para um olho vermelho de tristeza; dá banho e alimenta, mas não retorna à infância para ensinar o filho a brincar; cura as dores físicas nos consultórios médicos, mas não se permite experimentar o prazer de estar exausto após longas rotinas com um filho e perceber que a benção dele existir e o seu sorriso fazem valer qualquer exaustão.
É por isso que eu agradeço a Deus por ter merecido um pai integral. E lanço o alerta para aqueles que nem se dão conta de que são pais presente-ausente: descubram o prazer em seus filhos, eles são a nossa maior conquista.
É por isso que eu agradeço a Deus por ter merecido um pai integral. E lanço o alerta para aqueles que nem se dão conta de que são pais presente-ausente: descubram o prazer em seus filhos, eles são a nossa maior conquista.
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