Escutei o termo "Detetive de sonhos" em uma matéria do Jornal Hoje sobre a escolha da profissão. O psicoterapeuta entrevistado usou o termo ao dizer que os pais devem pesquisar as novas profissões e descobrir os anseios de seus filhos para ajudá-los na escolha. Ele enfatizou que não é correto abster-se totalmente de dar opiniões aos adolescentes quando chega o momento de prestar o vestibular e muito menos impor que o filho escolha determinada profissão. O ideal é procurar saber o que o mercado oferece e conhecer melhor o próprio filho para orientá-lo.
Achei o termo perfeito. Não só em relação a sua participação na escolha da profissão de seu filho, mas em todos os tipos de relações onde há amor envolvido. Se pensarmos bem, estamos sempre investigando os sentimentos e as vontades de quem amamos e tentando desvendar um pouco do que se passa no coração e no pensamento dos seres complexos que somos.
Assim que nasce um filho, você investiga seu choro, seu olhar, seus movimentos. Tudo isso para alimentá-lo melhor, para que ele não passe calor ou frio, para provocar o máximo de bem estar possível àquele serzinho que depende totalmente de você. Essa busca se modifica ao longo da vida, mas nunca se acaba. Pode o filho ter 60 anos que ainda será uma fonte infindável de descobertas.
Com os amigos também somos detetives de sonhos. Quando se é um verdadeiro amigo, o que ele almeja não passa despercebido e como a vida vai mudando nossos traços físicos e emocionais estamos eternamente nos surpreendendo com as alterações em seus sonhos, seja por opção ou porque a vida não apresentou outra alternativa. O importante é ter vontade e coração aberto para conhecer e reconhecer cada mudança e farejar as encrencas para poder alertá-lo como um bom detetive.
E no amor, aí então é que somos detetives de sonhos. Nada como surpreender o seu amor realizando sua vontade. O cotidiano vai endurecendo essa vontade de surpreender e é nesse momento que a arte de investigar tem de se tornar cada vez mais persistente e aperfeiçoada. Mesmo que o relacionamento tenha anos, ainda é preciso desvendar suas nuances...
Família é do mesmo jeito. Muitas vezes nos pegamos descrentes por acharmos que nunca conseguiremos desvendar os seus anseios. Na maior parte do tempo achamos que estamos decepcionando ou seguindo pistas equivocadas. Difícil agradar, não? E o mais conflituoso é que eles são a base para tudo e, portanto, deveríamos ter sonhos parecidos, sermos seres afins. Na verdade nem sempre somos. É com a família que ser detetive se torna mais árduo, porque cada parte do sonho desvendado é uma parte de nós mesmos, partes que amamos e partes que negamos como pistas forjadas.
Seja com quem for, no momento que for, a gente nunca vai conseguir se desvencilhar dessa tarefa de buscar conhecer o outro. Afinal, ser detetive de sonhos é a profissão de quem ama.
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