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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

domingo, 3 de abril de 2011

Redonda rosa de água


A percepção dos próprios sentidos muda completamente de uma pessoa para outra. O olhar poético de Pablo Neruda, por exemplo, enxerga uma cebola como “um planeta a reluzir... redonda rosa de água... com escamas de cristal". A mesma cebola aguça o olfato dos chefes mais exigentes ou tão somente dos amantes de uma boa comida. Não a vêem, mas a aspiram como tempero essencial capaz de transformar coisas insossas em sabor. Pintores logo a projetam em cores vivas, material em potencial para a arte. Músicos podem sonorizá-la... Escultores podem inspirar-se numa cebola pra produzir uma bela instalação.
Eu, quando penso em cebola, penso logo em tempero. E para meu espanto maior, não me vem à mente só comida penso logo em gente. Gente é um pouco assim: tem pessoas insossas e temperadas, aceboladas...  Qual será o ingrediente que diferencia uma da outra?
O insosso é aquele que pode ter até uma capa bonita  ─ belas pernas, olhos, braços...    mas foi jogado na gordura sem alho, cebola e sal. Tem olhos bonitos, mas que não dizem nada, olhar vazio; não tem charme no caminhar, dá simples passos, cautelosos, nada ousados; fala muito e não diz nada ou simplesmente nada tem a dizer; não sabe o que fazer com as mãos, não afaga, não dá carinho, não sabe como estendê-las na hora certa. É o tipo de gente que economiza no abraço, no beijo, no olhar. É o tipo de gente que se esconde no medo, nos traumas ─ desculpa ideal par se viver irritantemente contido.
Já a pessoa temperada, na minha humilde opinião, chega e diz a que veio. É aquela refogada em uma panela com alho, cebola, sal, pimenta, tomilho, louro, ufa... E que ficou dourando até pegar gosto.  Quase tudo que cair ali fica gostoso... Todo acompanhamento fica bom. É o tipo de gente que vive cercado de gente porque é prazeroso estar ao lado. Os olhares estão sempre voltados para essas pessoas porque seus olhos têm brilho. São o tipo que sabem intervir no tempo certo e, ainda que você não concorde, pensa a respeito, porque não é uma colocação em vão.
Como é bom estar cercada de gente temperada! Que erra, cai, chora e levanta. Que não tem medo de viver porque se não der certo vira “causo” para contar, experiência e até motivo pra rir. Adoro gente acebolada, com várias camadas de experiências tristes e felizes. Porque há momentos em que precisamos chorar, como quando picamos a cebola, mas depois essa mesma cebola vai para a panela e transforma-se em tempero para um delicioso prato a ser saboreado. E assim se tempera a vida!

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