Tem dias em que você acorda tão nostálgico que sente saudades de ter saudades... Você quer se agarrar de qualquer jeito a algum sentimento ou sensação que te remeta a bons momentos. Recorre então a uma foto, um cheiro, uma pessoa ausente, uma voz, um trecho de livro, uma música...
É o dia escolhido para exercitar a memória seletiva — a mente é envolvida por tantas sensações gostosas que a vida parece ser um pote de brigadeiro a ser comido com colher.
Tua mente te transporta então para aquele abraço apertado e quentinho do primeiro namorado, para o beijo que te faz derreter, para a gargalhada do filho ainda criança, para o colo materno e o ombro do amigo.
De repente, você tem de novo longos cabelos loiros, bochechas redondas e rosadas e muitos sonhos. Sonhos tão inofensivos e arquitetados com tamanha precisão que jamais te pareceria provável que um dia não se tornariam realidade.
De repente, teus pés calçam alpargatas da feira e não têm calos causados pelos saltos impostos. E você pode se permitir caminhar sem destino certo ou no máximo com destino a decidir.
Vem à mente o gosto da infância: hambúrguer do Trucs, groselha, macarrão com ketchup, bolo de cenoura da Zefa...
De repente, você volta ao tempo em que os números não te interessam e que para ser feliz basta haver um lindo dia de sol, uma bicicleta ou uma bola e muitos amigos.
Quem disse que os bons momentos não voltam mais? Basta fechar os olhos e viajar, encontrar um velho amigo e relembrar as antigas piadas, provar um sabor conhecido e já quase esquecido que te remeta a doces lembranças... Quem disse que as histórias da tua vida não podem ser recontadas a partir do capítulo que quiser? Nossas memórias são como um grande livro de cabeceira, todo anotado, comentado, cheio de registros e que está lá, prontinho para ser reaberto a qualquer tempo.