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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Memórias...


Tem dias em que você acorda tão nostálgico que sente saudades de ter saudades... Você quer se agarrar de qualquer jeito a algum sentimento ou sensação que te remeta a bons momentos. Recorre então a uma foto, um cheiro, uma pessoa ausente, uma voz, um trecho de livro, uma música...
É o dia escolhido para exercitar a memória seletiva a mente é envolvida por tantas sensações gostosas que a vida parece ser um pote de brigadeiro a ser comido com colher.
Tua mente te transporta então para aquele abraço apertado e quentinho do primeiro namorado, para o beijo que te faz derreter, para a gargalhada do filho ainda criança, para o colo materno e o ombro do amigo.
De repente, você tem de novo longos cabelos loiros, bochechas redondas e rosadas e muitos sonhos. Sonhos tão inofensivos e arquitetados com tamanha precisão que jamais te pareceria provável que um dia não se tornariam realidade.
De repente, teus pés calçam alpargatas da feira e não têm calos causados pelos saltos impostos. E você pode se permitir caminhar sem destino certo ou no máximo com destino a decidir.
Vem à mente o gosto da infância: hambúrguer do Trucs, groselha, macarrão com ketchup, bolo de cenoura da Zefa...
De repente, você volta ao tempo em que os números não te interessam e que para ser feliz basta haver um lindo dia de sol, uma bicicleta ou uma bola e muitos amigos.
Quem disse que os bons momentos não voltam mais? Basta fechar os olhos e viajar, encontrar um velho amigo e relembrar as antigas piadas, provar um sabor conhecido e já quase esquecido que te remeta a doces lembranças... Quem disse que as histórias da tua vida não podem ser recontadas a partir do capítulo que quiser? Nossas memórias são como um grande livro de cabeceira, todo anotado, comentado, cheio de registros e que está lá, prontinho para ser reaberto a qualquer tempo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Eterno aprendiz


Ontem fui ao Centro Cultural Banco do Brasil prestigiar a segunda edição do projeto Escritores Brasileiros com o escritor paulista Ignácio de Loyola Brandão. A atriz Regina Duarte leu algumas crônicas dele, mas o verdadeiro show foi o próprio escritor contando suas histórias. Poderia dizer que foi a crônica da crônica...Memórias deliciosas de uma infância nos anos 40, cheia de imaginação, ingenuidade, pureza. Torcemos para que a vida brinde nossos meninos de hoje com essas características.
Entre mil e uma frases interessantes que o escritor disse, pude escrever na embalagem de um remédio que trazia na bolsa (perdi minha agendinha de anotações) a seguinte: "Nós dois vivemos muito e continuamos na escola". Ele referiu-se ao encontro que teve com sua professora do primário. Enviou um exemplar de um livro que publicou para a professora que ainda vive em sua terra natal (Araraquara/SP) e ao visitá-la perguntou o que achou. Ela disse: "É, tem que arrumar umas coisinhas", ou algo similar. Ainda o vê como aluno. Ambos viveram muito e continuam na escola...
Ele conta que na escola, sem as metodologias de hoje, ela estimulava a imaginação. Pedia aos alunos que escrevessem o que vissem em seu cotidiano e depois construíssem redações. Ela sempre lia uma que considerasse a melhor e os coleguinhas davam a nota. Várias vezes ele afirmou que essa professora estava e está à frente de seu tempo.
É gostoso ouvir de pessoas que já viveram um bocado considerável que ainda estão na escola. Penso que se realmente encararmos esta vida como uma escola, ela passa menos sofrida. E se tivermos a humildade de nunca acharmos que somos melhores do que os que estão começando, já trazemos na bagagem uma grande lição!
Esta vida é mesmo uma escola e as provas são diárias. Se não aprender direito, mais pra frente a vida te aplica um teste surpresa. Muito pior, porque te pega despreparado. Melhor aprender no primeiro teste...
Tem gente que gosta mais da matemática da vida, é pura razão. É isso por isso e pronto! Eu não. Identifico-me com as ciências humanas, não gosto de matemática, prefiro a poesia dos porquês. É claro que não obtemos respostas absolutas, muito menos verdades, mas em se tratando de gente, nada é absoluto, não é mesmo?
Gosto de aprender com gente: meus companheiros da carteira ao lado, da sala vizinha ou da turma mais distante, ainda que seja do jardim. Já observaram como a turminha do jardim ensina? E muito!
Aprender com gente, com os erros das gentes, com os nossos erros... Avançando de uma classe a outra para no final ainda termos uma única certeza: ainda continuamos na escola e há sempre muito a se aprender.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Alerta


Peço licença aos que acompanham o blog, mas hoje resolvi fazer uma reflexão um pouco diferente das costumeiras relacionadas a cultura, música, livros e sempre tentando ver o lado otimista dos fatos e das pessoas. O episódio de ontem, quando um homem saiu atirando em crianças inocentes numa escola do Rio de Janeiro, causando mais de 11 mortes e outros tantos feridos, deixou o país perplexo e de luto. É inevitável a gente não se colocar no lugar das mães e parentes que deixaram seus filhos na escola para mais um dia rotineiro e de repente têm suas vidas destruídas em segundos por um ato totalmente insano e inexplicável. Vidas roubadas, crianças traumatizadas, seguramente muita dor...

A gente pensa que as tragédias estão sempre distantes de nossas vidas. Até então, na nossa cabeça, ataques a crianças indefesas dentro de uma escola só aconteciam nos Estados Unidos... Ledo engano imaginar que as tragédias não respingam em nossas vidas. E pior ainda achar que o problema alheio não nos interessa. A gente precisa urgentemente parar e dedicar mais tempo às cabecinhas de nossas crianças para que elas possam usufruir de um futuro melhor. Criar nossos filhos repeitando os mais velhos, a natureza, tendo boa educação e principalmente sabendo respeitar e conviver com as diferenças.

Não cabe mais e nunca coube o pensamente de que uns são melhores que outros, seja porque são: brancos ou negros, heterossexuais ou homossexuais, mulheres ou homens, ricos ou pobres, gordos ou magros, calados ou extrovertidos... O atirador foi vítima de bullying na época em que estudava na escola, guardou provavelmente toda sua raiva e humilhação e descontou, infelizmente, em crianças inocentes. Atirou em inocentes para atingir todo um sistema que muitas vezes oprime. E não sabemos como cada oprimido poderá reagir.

É um alerta, precisamos refletir qual é a nossa participação nisso tudo. E precisamos mudar. A melhor maneira, creio eu, é na educação. Compartilhar o nosso tempo com os nossos meninos e meninas, responder às suas perguntas, esclarecer e erradicar o preconceito, seja o tipo que for. Triste demais pensar que um ser humano é capaz de tamanha atrocidade, angustiante saber que muitas vezes a mente é o nosso pior inimigo. Agora, a gente vai ter de pensar e efetivamente mudar, agir, para não vermos escorrer lágrimas e sangue de crianças e adolescentes que deveriam estar simplesmente brincando e sorrindo.

domingo, 3 de abril de 2011

Redonda rosa de água


A percepção dos próprios sentidos muda completamente de uma pessoa para outra. O olhar poético de Pablo Neruda, por exemplo, enxerga uma cebola como “um planeta a reluzir... redonda rosa de água... com escamas de cristal". A mesma cebola aguça o olfato dos chefes mais exigentes ou tão somente dos amantes de uma boa comida. Não a vêem, mas a aspiram como tempero essencial capaz de transformar coisas insossas em sabor. Pintores logo a projetam em cores vivas, material em potencial para a arte. Músicos podem sonorizá-la... Escultores podem inspirar-se numa cebola pra produzir uma bela instalação.
Eu, quando penso em cebola, penso logo em tempero. E para meu espanto maior, não me vem à mente só comida penso logo em gente. Gente é um pouco assim: tem pessoas insossas e temperadas, aceboladas...  Qual será o ingrediente que diferencia uma da outra?
O insosso é aquele que pode ter até uma capa bonita  ─ belas pernas, olhos, braços...    mas foi jogado na gordura sem alho, cebola e sal. Tem olhos bonitos, mas que não dizem nada, olhar vazio; não tem charme no caminhar, dá simples passos, cautelosos, nada ousados; fala muito e não diz nada ou simplesmente nada tem a dizer; não sabe o que fazer com as mãos, não afaga, não dá carinho, não sabe como estendê-las na hora certa. É o tipo de gente que economiza no abraço, no beijo, no olhar. É o tipo de gente que se esconde no medo, nos traumas ─ desculpa ideal par se viver irritantemente contido.
Já a pessoa temperada, na minha humilde opinião, chega e diz a que veio. É aquela refogada em uma panela com alho, cebola, sal, pimenta, tomilho, louro, ufa... E que ficou dourando até pegar gosto.  Quase tudo que cair ali fica gostoso... Todo acompanhamento fica bom. É o tipo de gente que vive cercado de gente porque é prazeroso estar ao lado. Os olhares estão sempre voltados para essas pessoas porque seus olhos têm brilho. São o tipo que sabem intervir no tempo certo e, ainda que você não concorde, pensa a respeito, porque não é uma colocação em vão.
Como é bom estar cercada de gente temperada! Que erra, cai, chora e levanta. Que não tem medo de viver porque se não der certo vira “causo” para contar, experiência e até motivo pra rir. Adoro gente acebolada, com várias camadas de experiências tristes e felizes. Porque há momentos em que precisamos chorar, como quando picamos a cebola, mas depois essa mesma cebola vai para a panela e transforma-se em tempero para um delicioso prato a ser saboreado. E assim se tempera a vida!