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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Será que Vinícius sabia dançar?


Imagine uma chorona encontrando-se com um poetinha... Comecei a imaginar essa loucura porque no dia 17 de outubro, uma grande colecionadora de primeiras ações – primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca (“Ô abre alas”), primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil –, Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, faria 166 anos. E no dia, 19 de outubro, se estivesse vivo, o diplomata, dramaturgo, jornalista, compositor e, é claro, poeta Vinícius de Moraes faria 100 anos.

Ambos nasceram no Rio de Janeiro, ambos tinham uma relação especial com o carnaval. Ambos foram artistas brilhantes e levaram a vida de uma maneira intensa: sem amarras, sem convenções, lapidando seus talentos, sem medo de amar enquanto houvesse chama... Se fossem contemporâneos, será que se esbarrariam?

Chiquinha Gonzaga, desde cedo, frequentava rodas de lundu, umbigada e outros ritmos oriundos da África, nesses locais buscava sua identificação musical com os ritmos populares que vinham das rodas dos escravos. Vinícius de Moraes frequentava a boemia carioca, era um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. Acho que dessa abundância de vida vinha a inspiração para seus lindos sonetos. Vida com tudo que pertence a ela, inclusive a apreciação pelas mulheres. Ele se casou nove vezes; Chiquinha Gonzaga, três. Mas, convenhamos, por se tratar de uma mulher que vivia no século XIX, essas três vezes corresponderiam seguramente às nove de Vinícius.
Caso fossem contemporâneos, será que ele se apaixonaria pelo talento de Chiquinha? Seriam parceiros? Ela no piano, ele na poesia? Será que trocariam choros em melodias, em lágrimas e em versos?

Eles brilharam também no teatro. Ela, em 1911, estreou seu maior sucesso no teatro: a opereta Forrobodó, que chegou a 1500 apresentações seguidas após a estreia - até hoje o maior desempenho de uma peça desse gênero no Brasil. Em 1954, ele escreveu a peça Orfeu da Conceição, feita em versos, baseada no mito grego de Orfeu, mas ambientada no morro carioca e representada por negros.

Ambos também polemizaram a sociedade de sua época. Chiquinha era convidada para saraus no Palácio do Catete, a então morada presidencial, e, em um recital de lançamento do Corta Jaca, a própria primeira-dama do país, Nair de Tefé, a acompanhou no violão, e empunhou o instrumento, tocando um maxixe composto pela maestrina. Isso foi considerado um escândalo para a época. Vinícius, por sua vez, foi enquadrado como subversivo e expulso do Itamarati, por ordem do então presidente Arthur da Costa e Silva.

De tudo em comum o mais forte é mesmo o talento descomunal e o prazer indescritível pela vida, pela arte, pelas festas... Ambos exalavam desejo em compor, em estar rodeados de amigos, em buscar felicidade ainda que quebrando regras e convenções. Ambos viveram no tempo de Vínicius, o “quando”, não importando a época, somente viver.
Acho que iniciei essa viagem porque o que eu gostaria mesmo é de ter sido contemporânea dos dois, para vê-los atuando ao mesmo tempo. No meu devaneio, ele, amante das mulheres, das nádegas e das saboneteiras femininas, recitaria para ela um trecho de seus sonetos: “...E a coisa mais divina/Que há no mundo/É viver cada segundo/Como nunca mais...”. Ela reconheceria esses versos como uma filosofia de vida e talvez o fizesse enlouquecer e se perder ao som sedutor de algum maxixe: “Pança com pança/Bate com jeito/Entra na dança/Quebra direito/Quebra direito...”. E ai, quem sabe, ele a chamaria para dançar. Vinícius tinha muitos talentos, mas será que sabia dançar?

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
Meu tempo é quando.


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