Não
conheço um ser mais genuíno e feliz que uma criança. Talvez alguns
animais... Parece que elas já nascem com um compartimento no tamanho
exato para caber tudo de bom: amor, sinceridade, pureza, alegria...
Fico pensando quando é que os
adultos
se perdem e se
tornam seres tão terríveis a ponto de ensejar a dúvida sobre se
algum dia foram crianças.
Embora haja muita gente boa no mundo, infelizmente a todo tempo vemos
atrocidades causadas por pessoas que de fato parecem nunca terem sido
crianças.
Todos
os sentidos são especiais, a começar pelo sorriso. Não foi à
toa
que Victor Hugo disse: "Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo
de um riso de criança".
Não
existe fim. O sorriso de uma criança é algo tão avassalador que
espanta tristeza, alivia agonia, recupera a paz. O
encontro
com um desses te faz ganhar o dia! Como não se render, como não
desejá-lo, como não provocá-lo?
E ser carinhoso? É impressionante
como as crianças são verdadeiramente carinhosas. Dificilmente você
se depara com um beijo de lado ou com um abraço frouxo. Pode até
não receber nada, ação totalmente coerente, já que ninguém é
obrigado a querer te beijar ou abraçar, mas quando você recebe, o
carinho vem para valer. Apertado e molhado!
E
a ingenuidade, a pureza? É uma qualidade tão arraigada que nós
adultos, já dela esquecidos há muito, demoramos a reconhecê-la.
Parece que, neste mundo,
não há espaço para ingenuidade... A ingenuidade é o excesso de
credulidade! De fato, não cabe a crença excessiva em quase nada da
atualidade, caso contrário você é devorado, mas as crianças
creem. Então, a medida das palavras deve ser ainda mais ponderada,
pois se você diz eu vou, ela te espera, se você diz eu dou, ela tem
como certo receber, se você diz acabou, ela só enxerga o fim como
resposta. Se pensarmos bem, isso deveria ser o correto, dizer e agir
em coerência com o que se diz... Quantas vezes fazemos isso?
O
mundo está tão louco que os valores se inverteram. Se somos
ingênuos, é sinal de que a vida vai nos devorar; se somos bons, soa
como ser um idiota;
se somos doces e carinhosos, o título é meloso demais. A criança é
ingênua, boa, doce e carinhosa, ao menos em sua essência, antes de
algum fato corrompê-la. É preciso que nós, adultos, aprendamos com
as crianças, que resgatemos a criança que um dia fomos para quebrar
esse gelo que o mundo nos impõe. Alimentar essas qualidades e
fazê-las crescer não vai ocupar o espaço de
outras que os adultos precisam ter. É possível ser corajoso e
carinhoso, ter personalidade com um pouco de inocência, ter garra e
força sem perder o jeito de afagar... É preciso a todo tempo
cultivarmos a criança que existe em nós, por uma vida mais leve,
mais pura, mais feliz!
Deixarmo-nos
ser puxados
pela mão de nossos moleques internos, como diz a linda canção de
Milton Nascimento e Fernando Brant: “Há um menino, há um moleque,
morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança ele
vem pra me dar a mão...”.
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