A ideias para se escrever um texto surgem, realmente, nos momentos e locais menos esperados... Estava eu em um podólogo, dando uma assistência aos queridos pés cansados e folheando um jornal desses de bairro, com direito a gata do mês e tudo mais, quando um artigo me chamou a atenção. Infelizmente não me lembro o nome da autora, só sei apenas que é mexicana. Enfim... Ela fez em seu artigo uma reflexão sobre "pornografia" destinada a mulheres. Segundo ela, e particularmente concordo, o que excita a mulher, muitas vezes, é bem diferente do que excita um homem... Nem sempre é o suficiente ver vários corpus nus, mil e uma posições diferentes, show de contorcionismo e criatividade ... Não é que não funcione e muito menos que mulheres não apreciem, veja bem, mas às vezes pode ser que palavras e atitudes na hora certa excitem muito mais. Uma sábia amiga costuma dizer que sexo começa do bom dia dado do jeito certo, da troca de gentilezas, carinho, cuidado — porque se o dia começou assim ... A noite certamente promete!!!!
Mas voltando ao artigo, a autora questionou a escassez de material voltado para o público feminino, ou seja: pornografia não falta, mas poucos se atrevem a entrar no universo do erotismo, da sensualidade narrada por meio de personagens com os quais a gente possa se identificar... "histórias pornográficas"... Ao falar sobre literatura erótica, a autora citou a francesa Anaïs Nin. Nascida em 1903, Anaïs ficou famosa pela publicação de diários pessoais escritos desde os seus 12 anos. São romances e narrativas impregnados de teor erótico. E realmente, ela escreve com as entranhas, tem um poder de atração visceral... E pensar que a sociedade em que ela viveu poderia ser ainda mais castradora e cruel do que a atual, agrega ainda mais valor a seus textos. Eles são impregnados de coragem, intensidade, esbanjam sensualidade — narrativas isentas de falsos pudores e com um toque de elegância... erotismo elegante mas sem precisar pedir licença...
Foi Anaïs quem escreveu que "o erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia". Como não concordar com isso... Nada como um amor sensual para ajudar a encontrar sua sensualidade, nada como infestar a sua vida de poesia para aprender a percebê-la nas pessoas, nas coisas, na vida...
Outra dela: "O verdadeiro infiel é aquele que só faz amor com uma fração de ti. E nega o resto." Metades... metades... metades... como é bom quando a entrega é inteira, não é verdade?
O bom dessa história de ler em clínica de podologia é que estou com pés e alma enriquecidos... E termino com mais Anaïs, quem puder leia!
"Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido aminótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela."
Lindo, amiga! Li um livro dela, The Spy in the House of Love. Muito inspirador e verdadeiro!! Recomendo!
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