Caetana se apresenta de várias maneiras aos mortais. Pode vir formosa e carinhosa, mas pode chegar bem violenta. Às vezes, é aguardada; em outras, vem de supetão. Há quem implore sua chegada, a aguarde ansiosamente, mas a maioria das pessoas não a deseja por perto de nenhuma maneira.
Suspeito que Caetana estava carente das letras, de um bom argumento. Mas carente daquela maneira brasileira e bem humorada de contar história, de ver o mundo, de criar personagens fortes, inteligentes, até um tanto escrachados, porém perseverantes, apesar de todos os solavancos da vida. Estava carente de ouvir histórias sobre esse povo miscigenado, muitas vezes oprimido, mas que jamais desiste. E não é assim o povo brasileiro? Então, no dia 18 de julho de 2014, Caetana chegou um tanto ansiosa, ainda de madrugada, e tomou João Ubaldo Ribeiro pelos braços. E ele se foi...
Caetana, no entanto, não se conteve e quis ainda mais poesia, ainda mais cultura, muito lirismo e sabedoria. Desconfio até que planejou um sarau. Caetana foi em busca de uma alma que tivesse pressa... Uma alma educadora que acreditava nas silenciosas metamorfoses. No dia seguinte, pela manhã, pôs fim ao caso de amor entre Rubem Alves e a vida, e, aqui, vão florescer novos ipês...
Eita Caetana danada! Não respeitou nem mesmo o pedido do cavaleiro do Sertão, Ariano Suassuna. Em uma de suas últimas aula-espetáculo, no teatro Castro Alves, em Salvador (BA), ele pediu a Caetana que não viesse em 2014 só para ver todas as homenagens que fizeram a ele. Até brincou: “Estou tentando não ficar vaidoso”. Não adiantou. Alguns dias depois, Caetana parou seu coração... Acho que chegaram a cavalo no sarau e foram recepcionados pela Compadecida. Houve festa no céu!
Caetana nos deixou um pouco órfãos. Em poucos dias, levou logo três grandes nomes da literatura brasileira. Enfeitou o seu sarau com nossos originais... Mas não tem problema, Caetana! Eles se foram, porém deixaram suas obras, seus feitos, suas ideias, uma inspiração eterna em nossos corações!
* Caetana é como Ariano Suassuna se referia à morte.
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