Outro dia desses, eu levei meu filho de apenas seis anos ao Clube da Bossa, em Brasília. Durante o show de artistas locais alguém anunciou uma das composições de Vinicius de Moraes. Meu filho prontamente falou – esse eu sei quem é, mãe! Aprendi na aula de literatura. Você também sabe quem ele é? – ele perguntou.
Então eu respondi que Vinícius de Moraes era um poeta e compositor brasileiro e que por coincidência, neste ano, comemoram-se os 100 anos de seu nascimento. Talvez por isso a professora de literatura tenha lembrado o diplomata, dramaturgo, jornalista, além de é claro, poeta e compositor. É o poetinha… Apelido atribuído por Tom Jobim.
Depois que saímos do show, fiquei com aquela pergunta do meu filho martelando em minha cabeça. – Você sabe quem é Vinicius de Moraes, mãe? Não achei que respondi corretamente, afinal, dizer que ele é um poeta e compositor brasileiro é uma versão resumida demais da história de alguém que me acompanha desde os doze anos de idade. Gostaria de conseguir ter lhe explicado melhor quem foi Vinicius de Moraes, especialmente na minha vida.
Nosso encontro foi durante uma das tantas férias que passei na rua Goitacazes, no centro de Belo Horizonte (MG), na casa da também centenária, mas muito viva, Dona Geraldina, minha avó. Minha saudosa tia Nenzinha tinha uma vitrola e uma coleção de vinis de MPB e entres tantos mestres estava o meu favorito, Vinicius. Eu passava as madrugadas colada naquela radiola, lendo a biografia do compositor e ouvindo as músicas cantadas por tantos intérpretes.
Depois lia suas poesias, trocava poemas com os namorados da adolescência e curtia as minhas fossas com os trechos de soneto da separação: De repente do riso fez-se o pranto/Silencioso e branco como a bruma/E das bocas unidas fez-se a espuma/E das mãos espalmadas fez-se o espanto… De repente, não mais que de repente/Fez-se de triste o que se fez amante/E de sozinho o que se fez contente…De repente, não mais que de repente. Um dos tantos sonetos que o notabilizou. Além da música e da literatura, ele também investiu parte do seu talento no cinema e no teatro com peças como Orfeu da Conceição e Cordélia e o Peregrino.
Meu pai, que viveu no Rio, contava histórias de Vinícius nos bares, afinal ele era conhecido como um boêmio inveterado, apreciador do uísque e do cigarro e também com fama de grande amante, tanto que se casou nove vezes. Era um homem intenso e de muitas facetas, até diplomata ele foi. No livro chega de Saudade, Ruy Castro conta que Vinícius de Moraes foi excluído da carreira diplomática por ordem do então presidente Arthur da Costa e Silva.
O poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra, e nos meus momentos intimistas era meu parceiro também, por que não?
Vinícius foi um artista completo e um romântico inveterado, acima de tudo, e acho que, por isso, a melhor resposta que eu poderia dar ao meu filho é que, na verdade, o poetinha foi um dos grandes culpados de eu ser assim, tão crédula no amor, tão apaixonada pela vida …
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