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Para tudo! Vamos começar de novo. Aqui seria um espaço para troca de livros, mas acabou tornando-se um local de desabafos. Meus desabafos... Porque minha amiga Luciana abandonou o barco por causa de outros projetos e nunca mais postou nada. Então ela me pediu que reformulasse o blog e eu, Anoushe, sigo daqui com vocês que gostam de acompanhar um pouco do que fervilha em minha cabeça. A finalidade continua sendo trocar ideias, portanto, preciso mais da ajuda de vocês. Quem quiser dar sugestões para futuros textos, mande um e-mail. Podem também enviar textos sobre um livro que leram, uma música que os emocionou, peça de teatro, filme, enfim... Haverá um espaço reservado para suas impressões, tornando esse blog mais participativo e realizando uma efetiva troca de ideias. Conto com vocês, como sempre, para dar seguimento a isso que considero vital: trocar ideias, apreciar a arte, observar e conhecer pessoas e escrever... escrever... escrever...! "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Detetive de sonhos



Escutei o termo "Detetive de sonhos" em uma matéria do Jornal Hoje sobre a escolha da profissão. O psicoterapeuta entrevistado usou o termo ao dizer que os pais devem pesquisar as novas profissões e descobrir os anseios de seus filhos para ajudá-los na escolha. Ele enfatizou que não é correto abster-se totalmente de dar opiniões aos adolescentes quando chega o momento de prestar o vestibular e muito menos impor que o filho escolha determinada profissão. O ideal é procurar saber o que o mercado oferece e conhecer melhor o próprio filho para orientá-lo.
Achei o termo perfeito. Não só em relação a sua participação na escolha da profissão de seu filho, mas em todos os tipos de relações onde há amor envolvido. Se pensarmos bem, estamos sempre investigando os sentimentos e as vontades de quem amamos e tentando desvendar um pouco do que se passa no coração e no pensamento dos seres complexos que somos.
Assim que nasce um filho, você investiga seu choro, seu olhar, seus movimentos. Tudo isso para alimentá-lo melhor, para que ele não passe calor ou frio, para provocar o máximo de bem estar possível àquele serzinho que depende totalmente de você. Essa busca se modifica ao longo da vida, mas nunca se acaba. Pode o filho ter 60 anos que ainda será uma fonte infindável de descobertas.
Com os amigos também somos detetives de sonhos. Quando se é um verdadeiro amigo, o que ele almeja não passa despercebido e como a vida vai mudando nossos traços físicos e emocionais estamos eternamente nos surpreendendo com as alterações em seus sonhos, seja por opção ou porque a vida não apresentou outra alternativa. O importante é ter vontade e coração aberto para conhecer e reconhecer cada mudança e farejar as encrencas para poder alertá-lo como um bom detetive.
E no amor, aí então é que somos detetives de sonhos. Nada como surpreender o seu amor realizando sua vontade. O cotidiano vai endurecendo essa vontade de surpreender e é nesse momento que a arte de investigar tem de se tornar cada vez mais persistente e aperfeiçoada. Mesmo que o relacionamento tenha anos, ainda é preciso desvendar suas nuances...
Família é do mesmo jeito. Muitas vezes nos pegamos descrentes por acharmos que nunca conseguiremos desvendar os seus anseios. Na maior parte do tempo achamos que estamos decepcionando ou seguindo pistas equivocadas. Difícil agradar, não? E o mais conflituoso é que eles são a base para tudo e, portanto, deveríamos ter sonhos parecidos, sermos seres afins. Na verdade nem sempre somos. É com a família que ser detetive se torna mais árduo, porque cada parte do sonho desvendado é uma parte de nós mesmos, partes que amamos e partes que negamos como pistas forjadas.
Seja com quem for, no momento que for, a gente nunca vai conseguir se desvencilhar dessa tarefa de buscar conhecer o outro. Afinal, ser detetive de sonhos é a profissão de quem ama.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A natureza em cada um de nós


Incrível perceber como a natureza consegue nos presentear com algo lindo, mesmo em ambientes hostis. Em pleno cerrado, na secura do mês de agosto, quando a umidade chega a quase 10%, nascem as mais belas flores dos ipês, espalhados por todos os cantos de Brasília. São roxas, brancas e amarelas, mas as amarelas têm um colorido especial, contrastando com o céu bem azul da cidade. E é nessa época do ano, quando a poeira nos castiga e o calor é insuportável, que o por do sol é um dos mais belos do cerrado. As cores são densas, lembram rajadas de fogo que se perdem no horizonte quase desértico. Um espetáculo a cada anoitecer...
Sem fugir à regra da natureza, parece que a vida também é assim. Naqueles momentos mais difíceis, árduos, secos, ela (a vida) sempre te presenteia com uma situação ou pessoa que te dá forças para superar. São vários testes, como na natureza, para conseguirmos enxergar o que de fato consegue brotar em meio às piores condições. Afinal, brotar em terreno fértil, em climas amenos é fácil...
Nos momentos de doença, sempre surge uma boa alma que segura a sua mão e diz que tudo vai dar certo. Pode ser o seu companheiro, alguém de sua família, ou um perfeito estranho... Quando você se muda para uma outra cidade, ou até mesmo um país distante, e a saudade aperta, a vida te presenteia com um novo amigo que vai enxugar as lágrimas nos momentos difíceis. O mesmo acontece quando se perde alguém querido; a vida te presenteia com pessoas que te darão força para seguir ou com uma sequência de fatos e motivos para continuar desejando-a.
Você perde o emprego, termina com o namorado, bate o carro, quando tudo parece estar dando errado vem a vida e te apresenta novos motivos para gostar de estar com ela (a vida). É porque ela sabe que não dá pra tratar alguém só com tapas. Há de chegar a hora de afagar e tratar com carinho... Ou todos desistiríamos dela...
Não sei se a vida sempre dá e tira na medida certa, isso é algo que só alguém com o tamanho da sabedoria dela pode saber. Deus, por certo... Nós, em nossa pequenez, talvez apenas não saibamos captar os sinais da vida. E por não entendermos ou não estarmos prontos para os seus ensinamentos, jogamos toda a culpa nela:"Que vida ingrata!".
Uma grande lição é mesmo ter paciência e esperar acabarem os ciclos. Como na natureza. Daí, quem sabe, consigamos enxergar o florescer do ipê no cerrado ou um lindo por do sol em meio às turbulências.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pai, seja "o" presente

 
Meu pai, no linguajar que lhe é peculiar, sempre diz a seguinte frase antes de um conselho: "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Essa frase vem preparar o terreno contra qualquer tentativa minha de me defender atacando: "Mas o senhor também já fez isso naquele dia". Com certeza a maioria das coisas sobre as quais ele me aconselha é realmente por experiência própria, é por ter feito errado e se lascado ou até mesmo por continuar fazendo errado e não querer que eu repita o erro. Mas eu, na minha inexperiente arrogância, sempre tento convencê-lo de que, por ele errar, não tem o direito de me chamar atenção... E sempre foi assim... Aos 15, aos 20, aos 30 e alguns... Porque se tem uma pessoa que também faz coisa errada, esse é o meu pai. Assim como eu, assim como cada um de nós que está aqui neste mundo, tentando acertar.

Mas uma coisa, entre tantas outras, ele sempre soube fazer bem: ser pai. Meu pai é pai integral. Coisa cada vez mais difícil nos dias de hoje... E ser pai integral nunca significou estar 24h juntos e muito menos viver a vida do filho. O pai integral se dedica ao trabalho, à esposa, aos seus prazeres pessoais... Ser pai integral é mais sentir do que, necessariamente, estar. Parece estranho eu, que sou mãe, e não pai, falar desse sentimento. Mas o maior beneficiário da dedicação e benção de ter um pai integral é mesmo o filho. Portanto, sinto-me capacitada e "avalizada" para dizer o que é ter um pai integral. É o sentimento de segurança, de poder contar sempre... Um sentimento construído ao longo da vida, mas sentido desde o primeiro encontro. É ter a certeza de que você não é um encaixe em sua vida... Ainda que ele seja daqueles que trabalham demais, viajam demais...

Enfim, sempre tive a certeza de que meu pai curtiu muito me trazer ao mundo. Presenciou cada acerto, sofreu junto cada derrota e sempre gostou da minha companhia. Nunca deixou que uma feição de tristeza minha passasse despercebido: sempre tive que dar uma explicação convincente para um olho vermelho de choro. Esse é o meu pai e gostaria que todos fossem assim: cheio de defeitos, como todos nós, mas com o propósito firme de tornar o filho "gente".

Hoje em dia vejo cada vez menos pais com esse propósito. Com certeza existem muitos, mas infelizmente também encontram-se muitos pais cujo 100% de doação ao filho é apenas 50%. Eu nem estou falando aqui do pai assassino, pedófilo ou o que some no mundo. Mas de outra figura: a do pai presente-ausente. É aquele que faz um pouquinho e assim arruma uma justificativa pra se sentir bem em relação ao filho e ao mundo. Pois como diria uma grande amigo: "O ser humano arruma justificativa para tudo". Ele está ali naqueles momentos que não dão muito trabalho e que não atrapalham o desenrolar da sua vida. Tudo que deixa de fazer pelo filho é privação e aí o entretenimento da criança deixa de ser o cineminha, o parquinho, o teatro para ser o chope com amigos, o futebol e qualquer outra programação adulta: a criança vira encaixe. É lógico que não falo do "de vez em quando". Afinal, é natural isso, às vezes, acontecer. Eu descrevo aqui o recorrente, quando estar junto se torna uma obrigação.

O pai presente-ausente paga as contas mas não pede explicações para um olho vermelho de tristeza; dá banho e alimenta, mas não retorna à infância para ensinar o filho a brincar; cura as dores físicas nos consultórios médicos, mas não se permite experimentar o prazer de estar exausto após longas rotinas com um filho e perceber que a benção dele existir e o seu sorriso fazem valer qualquer exaustão.

É por isso que eu agradeço a Deus por ter merecido um pai integral. E lanço o alerta para aqueles que nem se dão conta de que são pais presente-ausente: descubram o prazer em seus filhos, eles são a nossa maior conquista.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Andar na contramão virou o certo?


Está cada vez mais difícil compreender o mundo. Ao menos tenho encontrado certa dificuldade. Observem a seguinte situação: outro dia desses estava ouvindo uma conversa entre amigas. Uma contou para a outra que estava saindo com um rapaz. Então, a amiga vibrou e perguntou: “e aí, ele é legal?” Prontamente a garota respondeu: “é sim, eu o chamo para os lugares e ele vai; eu ligo para ele e ele atende ou retorna minhas ligações; é muito atencioso, gentil.” Pensei, mas isso não é só o básico? Ou seja, a maneira como todos deveriam agir? Não. Parece que vivemos em um mundo tão louco que encontrar pessoas gentis e educadas é tão difícil que as tornam especiais.
Se você devolve uma carteira roubada é um herói, se separa tempo para estar com seus filhos é uma excelente mãe. O mesmo acontece se faz companhia a seus velhos pais. Caso um funcionário cumpra seus horários e trabalhe, torna-se um excelente empregado e se o seu marido paga as contas, não tem outras mulheres e não grita contigo, (pasmem!) é um ótimo marido.
E as leis e a sociedade te punem rigidamente se você der umas palmadas em seu filho caso ele se comporte como um verdadeiro tirano, querendo impor todas as suas vontades. Também te punem mais severamente ainda se usar os termos negro, gay, deficiente, ainda que não contenham nenhum traço discriminatório. As cantigas tradicionais de nossa infância têm conteúdo maléfico para nossas crianças e tiveram suas letras trocadas. E, outro dia, ouvi dizer que existe projeto de lei que proíbe a fabricação de cigarrinhos de chocolate por influenciarem mal nossos filhos. Será que não há certo exagero nisso tudo aí?
Ouço cada vez mais as pessoas dizerem que não querem se casar porque é difícil conviver com as diferenças alheias e não querem ter filhos porque se privariam de sua liberdade. Ora, mas não são justamente as diferenças que nos fazem exercitar virtudes como a paciência, o companheirismo, o saber ceder? Não são as diferenças que nos fazem refletir sobre conceitos arraigados e muitas vezes equivocados? E o que é a liberdade? Filhos não te privam, ao contrário, te libertam do cárcere de ser o único foco de sua vida. Claro que ter filhos não é a única maneira de tirar o foco de si mesmo, mas seguramente é uma...
Quando alguém é notado agindo cordialmente é, muitas vezes, taxado de otário, em comparação aos que se dão bem na vida a todo custo, prontamente aplaudidos e reconhecidos como bem-sucedidos. Se você não fura filas, não faz corpo mole no trabalho, não burla o fisco é um perfeito bobão. Parece mesmo que o bonito é ser feio...
Está cada vez mais difícil saber o que é certo e o que é errado. E o que era certo parece errado. Inversão de valores? Isso tudo vai interferindo diretamente na maneira de se viver em sociedade. É preciso repensar o certo e o errado, os excessos das punições e do individualismo, os desvios do foco do que realmente interessa e faz engrandecer o homem, antes que os valores se invertam por completo e a gentileza, a honestidade e a civilidade tornem-se motivo de chacota. Como disse Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".